Carne Fraca pode afetar preços de carnes e grãos

Embora ainda seja cedo para para calcular todos os impactos da Operação Carne Fraca, não é exagero dizer que as fraudes na indústria irão criar dificuldades, no curto prazo, para o mercado de carnes brasileiro. É normal que embargos e suspensões temporárias de importação sejam impostos a países com problemas fitossanitários, da mesma maneira que o Brasil proíbe a importação de alguns produtos agropecuários para evitar disseminação de doenças. Acontecimentos como este já foram presenciados antes, como nos casos de febre aftosa e da vaca louca (caso atípico) no Brasil. Apesar de causarem preocupação em compradores, a rápida movimentação do governo para explicar o assunto ajuda a reduzir o receio de compradores. Até agora, os problemas foram localizados em algumas unidades de frigoríficos e, por não ser um caso grave do ponto de vista sanitário, algumas suspensões de importações provavelmente poderão ser levantadas em breve.

Porém, diante das conclusões expostas pela Polícia Federal no âmbito da Operação Carne Fraca, será inevitável que o fluxo dos embarques brasileiros de carnes sofra algum abalo. Potencialmente, todos os 33 países que compraram carne dos 21 estabelecimentos alvos da Carne Fraca podem pedir informações, considerado algo natural. Entretanto, a concretização de uma suspensão total por esses países e blocos econômicos seria um desastre real. No caso de embargos a plantas (unidades) específicas, os danos são mitigados, pois é possível que as exportações sejam originadas em outras da mesma empresa. No caso de embargos a uma empresa, como por exemplo, BRF ou JBS, um volume expressivo de produto estará inapto à exportação. As suspensões temporárias e os embargos podem durar semanas até anos, como já ocorrido anteriormente e, dessa forma, são ainda uma incógnita. Se concretizado, o fechamento de mercados para a carne brasileira por causa das irregularidades encontradas na Operação Carne Fraca pode perdurar por anos.

No caso da vaca louca (atípico), a China embargou o Brasil por três anos. Bastou um foco de febre aftosa no Brasil, próximo à fronteira do Paraguai, para, em 2005, 47 países suspenderem o comércio com o País. Em uma análise preliminar, os embargos e suspensões devem derrubar entre 10% e 15% as exportações brasileiras de carnes. Paralelamente, poderia haver rebaixamento de categoria da carne brasileira no mercado internacional, algo que forçaria seus produtores a cobrar menos do que os concorrentes. O resultado seria um corte de 20% em relação aos preços que eram praticados pelo setor em mercados internacionais antes da operação Carne Fraca. Até o momento, foram anunciados embargos aos produtos brasileiros pelos seguintes países: China, Coreia do Sul, Chile, Egito e União Europeia (UE). No caso da União Europeia (UE), quatro plantas estão suspensas de exportar carnes, sendo duas de aves, uma de bovinos e outra de equídeos.

No caso da China, os embarques programados para lá foram suspensos por uma semana. Já a Coreia do Sul bloqueou apenas os embarques da BRF, especificamente. No caso da Coreia do Sul, as análises do produto comprado devem abranger agora uma amostra de 15% de toda a carne enviada pelo Brasil. Antes, o percentual era de apenas 1%. China e UE são dois dos principais destinos das exportações de carnes do Brasil - que totalizaram US$ 15 bilhões no período de 12 meses encerrado em fevereiro passado. Ainda assim, interrupções do fluxo comercial são esperadas, e o risco de que cargas já a caminho desses destinos sejam barradas nos portos e devolvidas é grande. Também poderão ser adotados embargos específicos contra o Paraná, onde está concentrada boa parte dos problemas sanitários derivados do esquema de corrupção investigado pela PF, assim como para outros Estados citados na investigação.

Nos países do Oriente Médio, região também fundamental para os exportadores brasileiros, os esclarecimentos prestados até agora pelo governo e pela iniciativa privada foram bem recebidos e a pressão dos importadores é bem menor. Aparentemente, a maior pressão está vindo da UE, onde a Copa-Cogeca, poderosa central que representa produtores rurais europeus, demonstrou preocupação e reiterou a importância de as importações da UE respeitarem os padrões sanitários definidos pelo bloco. E isso, exatamente no início de mais uma rodada de negociações no âmbito do acordo de livre comércio entre a UE e o Mercosul, em Buenos Aires. Em 2016, foram expedidas, no total, 853 mil partidas de produtos de origem animal do país para o exterior, e que apenas 184 foram consideradas fora de conformidade por importadores. E não necessariamente por questões sanitárias, muitas vezes por problemas de rotulagem e preenchimento de certificados.

Nos mercados de grãos, os impactos podem ser negativos, especialmente para milho e soja (farelo), responsáveis, juntos, por 75% a 80% dos custos de produção da avicultura e suinocultura. Caso persistam embargos e suspensões de grandes indústrias do setor de carnes, uma sequência de fatos pode desencadear queda de exportações e aumento da oferta interna, sucedidas por redução de alojamentos/planteis, queda da demanda por rações (milho e farelo de soja) e pressão baixista sobre os preços destas commodities. Paralelamente, os preços das carnes pagos aos produtores (frango, suínos e boi) também devem sofrer pressão baixista, comprimindo as margens destes segmentos e levando a desinvestimentos em toda cadeia produtiva.


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