Tendência de baixas mais acentuadas para o milho

A pressão baixista se intensifica e baixas mais acentuadas devem ocorrer no curto prazo no mercado doméstico de milho. Com exportações lentas e grande parte dos compradores afastados do mercado, diante da forte queda dos embarques de carnes e paralisações de frigoríficos, a pressão baixista se amplia em diversas regiões do País. A operação Carne Fraca da Polícia Federal e seus impactos nos mercados interno e externo de proteína animal vêm preocupando também agentes do setor de milho. A suspensão das aquisições de carne brasileira de importantes compradores e as incertezas quanto aos efeitos sobre as vendas internas podem levar à redução na produção de proteína, o que restringiria diretamente a demanda por milho para ração, elevando o excedente do cereal no Brasil. Nos últimos seis anos, 70% da demanda pelo milho correspondeu ao consumo doméstico e 30%, ao externo. 75% da demanda doméstica são direcionados para o setor animal, distribuídos entre aves de corte, aves de postura, suinocultura, bovinocultura e outros animais.

Do total consumido pelo setor animal, 75% estão relacionados aos segmentos de aves de corte e suinocultura. Com isso, 55% da demanda interna de milho está relacionada a estes dois segmentos. Por enquanto, o excedente interno de milho está previsto em mais de 42 milhões de toneladas. O risco de aumento desse volume certamente exigirá do setor esforços para exportar quantidades ainda maiores, reduzindo a pressão sobre o mercado brasileiro. Os embarques do cereal estão previstos em 27 milhões de toneladas entre fevereiro/2017 e janeiro/2018. Nesse cenário de reajustes de expectativas sobre oferta e demanda de milho, o movimento de queda dos preços do cereal, observado desde a entrada da safra verão (1ª safra 2016/2017), foi acentuado nos últimos dias, tanto no spot como no mercado a termo. Temendo recuos maiores, os produtores elevam expressivamente a oferta doméstica.

Os compradores seguem pressionando as cotações. Nos últimos sete dias, os preços do milho apresentam recuo de 4,9% no mercado de balcão (ao produtor) e 4,5% no de lotes (negociações entre empresas). No mercado de balcão, as maiores desvalorizações são registradas no Rio Grande do Sul e em Goiás. Na região de Rio Verde (GO), há registro de queda de R$ 3,00 por saca de 60 Kg nos últimos sete dias. Em São Paulo e em Minas Gerais, no disponível, os preços também apresentam queda, contrariando o comportamento das semanas anteriores. Na região de Campinas (SP), a queda é de expressivos 9,3% nos últimos sete dias, com o milho cotado a R$ 31,74 por saca de 60 Kg. Esta é a menor cotação nominal desde o dia 22 de setembro de 2015. Em termos reais, o Indicador voltou ao patamar de agosto/2010 (deflacionamento feito pelo IGP-DI de fevereiro/2017). A maior disposição de produtores de milho em garantir a comercialização de parte da produção nos atuais níveis de preços favoreceu, ainda, o fechamento de alguns contratos.

Em Mato Grosso, na região de Sorriso, a média dos negócios realizados para entregas em agosto/2017 é de R$ 15,80 por saca de 60 Kg, abaixo do Preço Mínimo governamental para o Estado, de R$ 16,50 por saca de 60 Kg. No campo, o clima segue favorável tanto à colheita de milho da safra de verão (1ª safra 2016/2017) quanto ao desenvolvimento da 2ª safra de 2017, gerando boas expectativas. Segundo o Departamento de Economia Rural (Deral/Seab), no Paraná 69% da área já havia sido colhida até o dia 20 de março, enquanto a implantação da 2ª safra atingiu 94% da área estimada, respectivos avanços de 15% e 5% em relação à semana anterior. Segundo a Emater-RS, no Rio Grande do Sul a colheita alcançou 62% da área, avanço de 5% em relação ao período anterior. Ainda no Paraná, o Deral/Seab voltou a elevar a produção de milho da atual temporada (2016/2017). Em relação ao levantamento de fevereiro, houve aumento de 5% para a safra verão (1ª safra 2016/2017), impulsionado pelo maior rendimento, e de 3% para a 2ª safra de 2017, diante da maior área, com volumes estimados em 4,61 milhões de toneladas e 13,67 milhões de toneladas, respectivamente.

Na Argentina, a colheita da campanha 2016/2017 começou. Segundo a Bolsa de Cereais de Buenos Aires, 8,1% da área nacional já havia sido colhida até o dia 23 de março, com os maiores avanços nas regiões de Córdoba e Buenos Aires. Os rendimentos estão acima da média dos últimos anos, de 8,63 toneladas por hectare, dando sustentação à manutenção da estimativa de produção acima de 37 milhões de toneladas. Na Bolsa de Chicago, os contratos de milho apresentam recuo nos últimos sete dias, voltando aos patamares de dezembro de 2016. Apesar da firme demanda externa pelo cereal norte-americano, a expectativa de ampla oferta no Brasil e Argentina, principais concorrentes dos Estados Unidos, exerceu forte pressão sobre as cotações naquele país.

A mudança de posição de fundos e a queda do dólar também foram fatores de baixa. Nos últimos sete dias, os vencimentos Maio/2017 e Julho/2017 apresentam baixas de 2,5% e 2,4% respectivamente, cotados a US$ 3,56 por bushel e US$ 3,64 por bushel. Na BM&F, os contratos também apresentam queda. O vencimento Maio/2017 está cotado a R$ 28,25 por saca de 60 Kg, expressiva queda de 8,0% nos últimos sete dias. Para os vencimentos do segundo semestre, a desvalorização é de 7,0% para Setembro/2017 e de 5,3% para Novembro/2017, a R$ 27,43 por saca de 60 Kg e 28,21 por saca de 60 Kg, nessa ordem. Fontes: Cepea e Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica.


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