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10/Dez/2019

Acordo EUA-China pode reduzir prêmios no Brasil

A isenção de tarifas sobre soja e outras commodities dos Estados Unidos anunciada pela China pode sustentar os preços futuros na Bolsa de Chicago e até pressionar os prêmios de exportação no Brasil, mas esse movimento só acontecerá se a China de fato começar a adquirir volumes maiores da oleaginosa norte-americana. A demanda chinesa tende a migrar com mais força para a soja norte-americana caso a "Fase 1" do acordo comercial sino-americano seja assinado. As isenções foram anunciadas em julho, mas ainda não tinham sido concedidas por questões burocráticas. O ministério chinês não indicou os volumes dos produtos norte-americanos que ficarão isentos de tarifação. De qualquer forma, a tentativa de resolver essas questões pode indicar uma disposição maior da China de chegar a um consenso. Esse é um fator altista para o mercado, uma sinalização mais concreta do que outras. Os dois países podem estar próximos da assinatura da primeira fase, tão aguardada pelo mercado. A Bolsa de Chicago vinha oscilando conforme rumores sobre as negociações.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chegou a dizer que poderia deixar o acordo para depois das eleições no país, mas voltou atrás e falou da possibilidade de algo acontecer antes do dia 15 de dezembro. A isenção de tarifas trouxe ânimo para o mercado, mas os investidores ainda esperam que o acordo se confirme após tantas idas e vindas das autoridades dos dois países. A decisão da China de isentar parte da soja de tarifas sinaliza a necessidade do produto, mas o ceticismo sobre o acordo persiste. O mercado todo tem olhado essa questão do acordo com muita desconfiança. Embora dê fôlego para as cotações na Bolsa de Chicago, a isenção pode reduzir os prêmios no Brasil. Os prêmios têm mostrado força relativamente grande nas últimas semanas, acima de +US$ 0,50 por bushel para embarque em março, por exemplo, o que é superior à média. Então, pode haver alguma correção, mas não muito grande. Se o acordo foi assinado e, dependendo dos termos, pode ter impacto maior futuramente.

Se Estados Unidos e China entrarem em um acordo e isso implicar em menor demanda chinesa por soja brasileira, os prêmios sofrerão ajustes. Para o disponível, a maior parte dos prêmios para embarque nos próximos meses já foi fixada. Ainda assim, o prêmio para embarque em dezembro caiu de +US$ 1,00 por bushel para +US$ 0,95 por bushel do dia 5 para o dia 6 de dezembro. Uma migração da demanda chinesa para os Estados Unidos dependeria não só da isenção de tarifas, mas do acordo em si. Nos últimos meses, a China continuou adquirindo soja no Brasil. Se a China se comprometer a comprar um volume grande dos Estados Unidos, como deseja o governo norte-americano, pode tirar mercado do Brasil. Mas, se a China adquirir lotes considerando condições de preço, sem tarifas, o mercado tende a voltar para uma situação pré-guerra comercial, em que o país asiático se abastece tanto Brasil quanto nos Estados Unidos. Depende se o acordo vai ser assinado e em que termos. Os Estados Unidos querem que a China compre um volume específico. Mas, a China já afirmou que não quer isso.

Ainda assim, um movimento chinês de compra de soja norte-americana sem tarifas pode acontecer em janeiro, uma vez que a safra brasileira deve ser colhida mais tarde em virtude do atraso no plantio. A safra não vai entrar tão cedo no mercado como em 2019. Entretanto, os chineses têm comprado grandes volumes no Brasil nos últimos meses tanto para entrega este ano quanto para 2019/2020 por causa da continuidade da guerra comercial e da desvalorização do dólar ante o Real. O resultado da exportação do Brasil foi recorde em novembro, e quase tudo foi para a China. Os chineses estão relativamente abastecidos, mas, com o período de entressafra do Brasil e o atraso da safra, pode ser que eles se voltem um pouco para os Estados Unidos. Depois, quando a safra brasileira começar a ser colhida, muito do que já está negociado tem como destino a China. Fevereiro, março e abril devem ser meses firmes em exportação, porque a China já fez compras volumosas. Fica a dúvida para o segundo trimestre, se as compras continuam fortes no Brasil ou se algum acordo vai tirar mercado do País.

Ainda não há reporte de aumento expressivo de procura chinesa nos Estados Unidos após a isenção. Mas, se de fato os dois países conseguirem chegar a um acordo, a exportação do Brasil pode voltar a se concentrar entre março a julho. Tanto em 2018 quanto em 2019, o cenário de exportações brasileiras de soja esteve aquecido durante todo ano com a demanda atípica da China. De qualquer modo, só o anúncio de isenção de tarifas não deve ser suficiente para a China ampliar de forma expressiva as compras nos Estados Unidos. Sem tarifas, os preços da soja brasileira e da norte-americana para entrega na China se aproximam. A China deverá comprar soja onde for mais barata. Porém, se de fato forem estipulados volumes chineses a serem adquiridos nos Estados Unidos, a situação é diferente. Se por acaso vier o acordo “Fase 1” e constar nesse acordo algo que estipule um volume de soja a ser comprado pela China nos Estados Unidos, essa obrigatoriedade pode fazer os prêmios norte-americanos subirem e tirar uma parcela da demanda que poderia estar vindo para o Brasil, fazendo os prêmios caírem internamente. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.