05/Mai/2021
Segundo estudo do Bradesco, o emprego formal sofreu menos com crise a provocada pela pandemia de Covid-19 e se recupera mais rapidamente em municípios em que a produção de commodities agrícolas e metálicas têm maior peso. Essa conclusão é considerada uma evidência de como a economia brasileira tem se beneficiado do atual boom de commodities, algo que pode explicar, por sua vez, a surpresa positiva com a atividade no início de 2021. O efeito ainda deve ser sentido ao longo do ano, mas o vento externo a favor não deve, contudo, ser capturado pelo Brasil na mesma magnitude que em ciclos anteriores, sobretudo por problemas internos, como a perda de grau de investimento, a piora das contas públicas e o risco país elevado ante emergentes, além da incerteza com a pandemia de Covid-19. Considerando os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) em fevereiro deste ano, o crescimento do estoque de vagas nas cidades com foco maior na produção de commodities metálicas (3,10%) e na atividade agrícola (3,00%) foi quase o triplo dos demais (1,10%) na comparação com o mesmo período de 2020.
Nas localidades com predominância do setor petroleiro, por sua vez, houve queda de 1,70%, mas esse grupo já vem sofrendo mais desde 2015-2016. O resultado considera o montante total de vagas formais existentes em cada cidade e não somente de postos relacionados à produção de commodities. No total, o estoque de empregos com carteira assinada cresceu cerca de 1% no período no País. As séries historicamente andam muito juntas, mas, uma fotografia mais recente, é indiscutível que os municípios com maior presença de setores agrícolas ou commodities metálicas têm um desempenho melhor do que aqueles ligados às demais partes da economia, o que confirma a tese de que a economia global está ajudando o Brasil de forma importante. A expansão de renda vinda do aumento de preços de commodities parece estar se traduzindo em melhoria do mercado de trabalho nesses municípios.
Para a análise, os municípios foram dividos em agrícolas (agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e serviços de apoio), metálicos (extrativa mineral e serviços de apoio), de petróleo (extração de petróleo e gás e serviços de apoio) ou demais (que não está focado em nenhuma dessas três atividades), a partir do estoque de emprego de cada um. Foi considerado que a cidade tinha foco em alguma dessas commodities quando a participação daquele setor no estoque de emprego fosse ao menos o dobro da média nacional. Dessa maneira, mais da metade dos municípios do País (2.976 de 5.570, cerca de 53%) tem como foco a produção de ao menos uma dessas commodities, enquanto o estoque de empregos representa 28% do total. O ganho das commodities desde meados de 2020 já claramente configura um novo ciclo, com a escalada de preços, medida pelo índice de commodities CRB em dólares, similar a outros momentos de boom, no início dos anos 2000 e entre 2008 e 2011.
No Brasil, o Índice de Commodities medido pelo Banco Central (IC-Br) acumula alta de 66,0% em 12 meses até março. Esse ciclo deve se sustentar por algum tempo com os fortes estímulos fiscais e monetários no mundo e a nova política do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, com pacotes bilionários de ajuda durante a pandemia de Covid-19, de incentivo à infraestrutura e de aumento da assistência social. Nesse contexto, como o estoque de empregos representa 28% do total do País, é algo relevante também para os números agregados do Brasil, o que pode ser um dos fatores por trás do desempenho melhor do que o esperado da atividade econômica no primeiro bimestre, período no qual o auxílio emergencial não estava mais em vigor. Além disso, o consumo da poupança acumulada ao longo de 2020 e a reabertura econômica são possíveis motivos para a surpresa, principalmente dos serviços prestados às famílias em fevereiro. O IBC-Br, por exemplo, cresceu 1,70% no período. Esse benefício deve continuar sendo capturado ao longo do ano, porém, é cauteloso em comparar com os ciclos anteriores, em que houve forte crescimento da economia brasileira, que chegou a 7,50% em 2010.
Nesses outros momentos, o conjunto de condições da economia era um pouco mais favorável, com o aumento do endividamento, a perda de grau de investimento e o alto risco país ante emergentes. Vai ter benefício, mas capturar plenamente é mais improvável, até porque tem também um elemento prático, que é a eleição do ano que vem, que traz uma incerteza parecida com 2002 e pode trazer volatilidade. O Bradesco mantém a projeção de crescimento de 3,30% para o Produto Interno Bruto (PIB) este ano, mas, em sua última revisão de cenário, na semana passada, reconheceu que há viés de alta. No segundo semestre, há espaço para a economia surpreender com a forte elevação dos preços de commodities, a expansão do crédito e o retorno dos programas emergenciais do governo. Em 2002, também não havia percepção de que o efeito do ciclo de commodities seria tão forte. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.