23/Ago/2021
Segundo o Itaú BBA, as condições climáticas adversas no Brasil, com estiagem prolongada e geadas, devem reduzir a produtividade agrícola das lavouras, mas impulsionar os preços de commodities. Para quem trabalha diretamente na produção e venda desses produtos, um fator compensa o outro, mas para companhias do setor de alimentos e bebidas de maior valor agregado e menos verticalizadas deve haver redução nas margens. A maior parte das empresas de alimentos e bebidas não é verticalizada e compra matéria-prima. O preço das commodities, como açúcar e carne, subiu. A alta de custos do setor pressiona a margem. Torna-se necessário repassar preço, e este não é momento mais fácil de repasse, então provavelmente deve haver compressão de margens.
Para a BRF, a inflação de custos deve permanecer neste segundo semestre. A empresa tem enfrentado pressões no custo de produção desde o segundo semestre do ano passado em meio ao aperto na oferta global de grãos, o que tende a continuar sendo um problema em virtude das adversidades climáticas. O mercado doméstico brasileiro tem dificuldade em absorver novos aumentos de preços. A BRF apresentou forte desempenho nos preços de alimentos processados. No entanto, não é esperado um ambiente benéfico no curto prazo, uma vez que as margens no Brasil devem continuar comprimidas pelos atuais preços dos grãos. A expectativa é de desempenho em linha com o mercado e preço-alvo de R$ 25,00 para a ação.
Em relação à Minerva, a conjuntura de escassez de gado terminado, a manutenção dos preços da arroba do boi no Brasil e as dificuldades do consumo interno em absorver novo reajuste de preços devem seguir como pontos de aperto para as margens da companhia. O mercado externo tende a compensar parte da restrição do mercado doméstico para a companhia, que atua na comercialização de carne bovina in natura e derivados, além da exportação de gado vivo. Dado o ambiente difícil no mercado brasileiro, a divisão Internacional provavelmente continuará sendo o destaque positivo. Em contraste com o Brasil, Paraguai e Colômbia apresentam bom momento de mercado, com elevada oferta de gado e margens fortes. A perspectiva é de que as exportações do setor se mantenham firmes. O preço-alvo da ação da companhia é de R$ 17,00 com expectativa de performance acima da média do mercado.
Para JBS e Marfrig, que também atuam nos Estados Unidos e têm menos exposição ao desempenho da indústria pecuária brasileira, a sustentação dos valores da arroba do boi gordo não deve afetar suas operações. O forte ciclo da pecuária nos Estados Unidos ainda é o principal fator da JBS e da Marfrig, e essa tendência deve durar até o segundo semestre de 2022. Dos Estados Unidos, deve vir a maior parte da geração de caixa dessas empresas dado o sólido crescimento da indústria de carne bovina norte-americana. No segundo trimestre deste ano, a operação de carne bovina no Brasil respondeu por apenas 4% e 7% do Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da JBS e da Marfrig, respectivamente. JBS e Marfrig devem ter desempenho acima da média do mercado, com preço-alvo de R$ 47,00 e R$ 26,00 respectivamente, por ação.
A Cosan (uma das controladoras da Raízen) e São Martinho, empresas que atuam no setor sucroalcooleiro, devem ter queda de produtividade nos canaviais, mas boa perspectiva para preços de açúcar e etanol. O rendimento agrícola da cana-de-açúcar já vem caindo na safra atual por causa da seca e das geadas, e, com a probabilidade de um La Niña, o relatório prevê que o problema continue na temporada 2022/2023, que começa em abril do ano que vem no Centro-Sul brasileiro. Porém, a menor produção no Brasil deve sustentar as cotações do açúcar, enquanto o biocombustível é ajudado pelo Real desvalorizado e pelos preços do petróleo. Os preços de açúcar e etanol podem, novamente, compensar a queda na produtividade. Tanto Cosan quanto São Martinho devem ter desempenhos acima da média do setor e os preços-alvo são de R$ 30,00 e R$ 42,00 por ação, respectivamente.
Para a Rumo, companhia de logística que pertence ao grupo Cosan, a expectativa é de que a competitividade das operações atenue os problemas causados pela seca. Caso haja nova quebra na safra de milho por causa da falta de chuvas, a redução nos volumes transportados e a possibilidade de cancelamento de contratos de exportação em Mato Grosso prejudicariam a companhia. Entretanto, a competitividade das operações Norte da Rumo pode aumentar quando os pedágios do leilão da BR-163 forem instalados. O preço-alvo para a ação da empresa é de R$ 27,00 com desempenho acima da média do setor.
Com relação à SLC Agrícola, é improvável que a companhia tenha perda de produtividade com um possível La Niña. Como as fazendas da SLC estão localizadas nas Regiões Centro-Oeste e Nordeste do Brasil e os eventos La Niña afetam principalmente as Regiões Sul e Sudeste, a produtividade da empresa não será afetada por questões relacionadas ao clima. Além disso, a empresa pode se beneficiar de preços mais altos, pois eventuais quedas de produção de milho e algodão impulsionariam altas contínuas na próxima safra. " empresa já fez hedge de mais de 50% da produção de 2022, mas o restante ainda pode ser vendido a preços mais elevados. A companhia deve ter desempenho acima da média, com preço-alvo de R$ 55,00 para a ação.
No caso da M. Dias Branco, o recente aumento dos futuros do trigo tende a desacelerar a recuperação da lucratividade da empresa e afetar resultados de curto prazo. Acompanhando os aumentos de preços feitos pela empresa para defender a lucratividade, mais repasses de custos poderiam desencadear elasticidade de preços. O preço-alvo da companhia ficou em R$ 30,00 por ação, com expectativa de desempenho em linha com a média do mercado.
Para a Camil, a perspectiva é de que os preços do arroz girem em torno de R$ 80,00 por saco de 50 Kg neste ano. Seguindo os preços recordes observados em 2020 decorrentes da rígida dinâmica de oferta e demanda no mercado doméstico, a expectativa é de que os resultados de 2021 apresentem um comportamento mais normalizado, sem a volatilidade dos preços observada no ano passado. O desempenho projetado está em linha com o mercado e preço-alvo de R$ 14,00 para a ação da companhia. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.