29/Mar/2022
Uma pesquisa da consultoria Russell Reynolds Associates mostra que os executivos brasileiros estão mais empenhados do que seus pares internacionais na implementação de práticas sustentáveis. Além de revelar a vitalidade da consciência cidadã no empresariado nacional, o fato sinaliza a importância de políticas públicas que a auxiliem a dar seus melhores frutos, mas também o descompasso do atual governo com a sociedade civil. A pesquisa ouviu quase 10 mil lideranças do Brasil, Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Espanha, Inglaterra, Austrália, México, Índia e China. Enquanto no Brasil 50% esperam que nos próximos cinco anos a sustentabilidade seja incorporada em toda a estratégia de negócios, a média dos outros países é de 39%. Um dado importante, em se tratando de um tema, por assim dizer, “da moda”, como a agenda ESG (práticas ambientais, sociais e de governança), é que estas não são palavras ao vento.
O Brasil se destaca também nas ações: 50% de seus executivos disseram já ter adotado alguma estratégia de sustentabilidade. A média global é de 43%. No Brasil, 37% têm se empenhado em estabelecer parcerias para promover avanços em sustentabilidade. Nos outros países, são 23%. A influenciar este comportamento não só virtuoso, mas lucrativo, os lançamentos de títulos verdes no País, por exemplo, subiram 41% entre 2020 e 202, há condições estruturais e circunstâncias conjunturais. Uma das explicações para o destaque do Brasil é o fato de a economia brasileira ser consideravelmente ligada ao agronegócio. O País é guardião de um incomparável patrimônio ambiental, e, além das preocupações genuínas dos empresários com a sua proteção, eles sabem que serão cobrados por investidores e consumidores. Analogamente, condições especialmente desabonadoras para o Brasil, como a histórica desigualdade social e os altos índices de corrupção, também pedem uma atuação responsável das empresas.
Do ponto de vista conjuntural, o empenho excepcional do empresariado brasileiro também é uma forma de compensar os estragos causados por um governo retrógrado. Faz parte da mitologia bolsonarista a ideia de que Jair Bolsonaro é um defensor da economia de mercado contra as ameaças “socialistas”. Esse engodo não é apenas desmentido pela sua medíocre trajetória parlamentar, marcada não só pela indiferença, mas pela franca oposição a propostas liberais, nem pela atuação de seu “super” Ministério da Economia, que oscila entre dois polos antagônicos a um liberalismo moderno: o sucateamento de direitos trabalhistas e sociais e a capitulação às hostes corporativistas no Congresso. Em momentos decisivos para as políticas econômicas nacionais, o próprio empresariado desmentiu, explícita e contundentemente, o “Mito”. Foi assim na pandemia, ante as tentativas de Bolsonaro de sabotar as medidas de contenção sanitárias para “salvar” a economia. Acima de tudo, é assim ante os atentados ambientais de Bolsonaro.
Já virou rotina: toda vez que Bolsonaro lança algum ataque antiambiental, supostamente em prol das forças produtivas, essas forças se veem obrigadas a se unir para apagar o incêndio. Recorrentemente, as entidades representantes do agronegócio emitem notas repudiando o descaso com a devastação florestal. No mais recente capítulo, as companhias mineradoras deslegitimaram o projeto de lei que propõe a liberação da mineração em terras indígenas. Em um ano eleitoral, esses episódios, somados aos dados que revelam o engajamento do empresariado em projetos de sustentabilidade, são particularmente tempestivos para relembrar aos candidatos a importância de integrar a agenda ESG em seus programas. O empenho da sociedade civil é condição necessária, embora não suficiente, para que a cultura da sustentabilidade prospere no País. É indispensável que o Estado cumpra a sua parte, abrindo canais diplomáticos com a comunidade internacional, garantindo bons quadros regulatórios e oferecendo incentivos, o exato oposto do que faz o atual governo. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.