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27/Jun/2022

Diesel: distribuidoras cautelosas quanto à escassez

Para driblar o risco de escassez de diesel a partir de agosto, as principais distribuidoras de combustíveis do País aumentaram em mais de dez vezes o número de licenças de importação do combustível obtidas junto à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) nos últimos meses. Executivos do setor falam em precaução frente à oferta internacional mais apertada e à imprevisibilidade no fornecimento da Petrobras. A estatal reconhece que os volumes fornecidos não têm acompanhado o aumento nos pedidos das empresas, mas nega cortes arbitrários em encomendas firmes e argumenta que pratica rateio da produção em linha com resolução da ANP. A preocupação se justifica pelo agravamento das sanções contra a Rússia levando parte da Europa a migrar para o diesel em substituição ao gás russo, ao mesmo tempo em que começam as férias de verão no Hemisfério Norte e a temporada de furacões nos Estados Unidos.

No Brasil, que depende 30% de importações, a demanda tende a crescer com o escoamento da safra agrícola. Em abril, a reguladora emitiu 305 licenças de importação de diesel. Em maio, essas autorizações saltaram para 433, número treze vezes a média do primeiro trimestre, de 36 licenças por mês. Em anos anteriores, esse número raramente ultrapassava a casa das 30 emissões mensais. Era assim mesmo antes da pandemia, que rebaixou a demanda pelo combustível ao longo de 2020 e 2021. A profusão de licenças para importação de diesel nos últimos dois meses se concentra nas mãos das três maiores importadoras brasileiras: Vibra, Raízen e Ipiranga. Nos relatórios da ANP, 81,5% das 848 licenças emitidas nos primeiros cinco meses do ano pertencem às três empresas. Em termos de volume autorizado para importação, elas concentram 76,6% do total.

Em seguida vem a Petrobras, com somente 10 licenças de importação de diesel entre janeiro e maio de 2022, mas o equivalente a 11,9% do volume total autorizado para compra no exterior. Historicamente, a estatal produz ao menos três quartos de todo o diesel consumido no País, mas também importa combustível para cumprir contratos de fornecimento. Licenças para importar diesel têm validade de 90 dias renováveis por igual período. Essas autorizações não são uma garantia de importação à frente, mas agentes do setor confirmam que a explosão dos números traduz o momento do mercado de combustíveis, indicando esforço das empresas para importar volumes maiores ou pelo menos diversificar sua origem à frente. O painel dinâmico da ANP sobre fornecimento de combustível mostra que, entre produção local e importação, a Petrobras forneceu 81% do diesel do País ou 13,6 milhões de metros cúbicos de combustível nos quatro primeiros meses do ano.

O percentual é inferior ao fornecido pela estatal em 2019 (85,12%), o último ano antes da pandemia, com demanda doméstica mais estável. O consumo brasileiro de diesel aumenta sobretudo entre agosto e outubro, quando é puxado pela colheita e transporte da safra agrícola. Paralelamente, a demanda global no pós-pandemia retorna mais rápido que a oferta e as cargas do refinado devem se tornar cada vez mais disputadas, em um mercado internacional pressionado pelo desvio da demanda europeia. Até o início da guerra na Ucrânia, cerca de 60% do diesel consumido pela Europa vinha da Rússia, percentual em queda gradual devido às sanções. A alternativa natural da Europa é o diesel das refinarias do Oriente Médio e Ásia, mas as cargas norte-americanas do Golfo do México também entram na mira europeia. O Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás (IBP) afirma que os europeus já têm importado diesel da costa do Atlântico e que o mercado está mais curto.

Isso fica claro pelo maior tempo de espera por cargas e pela queda de volume disponível para encomendas. Antes havia pelo menos quinze navios de diesel disponíveis, hoje são dois ou três. É justamente na Costa do Golfo que as empresas brasileiras compram a maior parte do diesel importado. No entanto, aos poucos, a importação também se volta para a Ásia, sobretudo a Índia, cujas cargas têm frete mais longo que o norte-americano, mas os preços começam a ficar mais competitivos. A Índia tem comprado óleo cru russo para refino com prêmio de até 40%, o que barateia a produção de diesel. A ideia com as licenças é diversificar e tentar abrir o leque o máximo possível para buscar oportunidades de custo, mas também de oferta, porque não vai ter diesel à disposição em todos os lugares nos próximos meses. Mesmo assim, os dados da ANP mostram que 76,4% do volume autorizado e 80% das licenças emitidas em 2022 têm como alvo o mercado norte-americano.

Em volume, o percentual voltado aos Estados Unidos subiu para 84% nos dois últimos meses, sugerindo que a Costa do Golfo deve seguir como a principal região buscada pelos importadores brasileiros de diesel. Em seguida, no ano, surgem os Emirados Árabes Unidos (7,4% do volume); Índia (5,2%) e Coreia do Sul (3,77%). Levantamento do Ipea com base em dados da ANP mostra que a importação efetiva de diesel nos primeiros quatro meses do ano foi de 4,7 milhões de metros cúbicos e supera em 23,9% o registrado no mesmo período de 2021 e em 41,6% o de 2019, o último ano sem pandemia. Em 2021, o Brasil consumiu 62 milhões de metros cúbicos de diesel, o que inclui o volume de biodiesel adicionado à mistura. Desse volume, 14,4 milhões ou 23,3% do total foram importados. O ritmo da importação comparado ao consumo é maior esse ano.

Entre janeiro e maio, essa proporção chega a 26,8%, o percentual mais alto da série iniciada em 2017 para o período. Em 2020, essa dependência externa até maio era de 24% e, em 2019, de 21,8%. A fatia da estatal no volume importado até maio é de 35,4%, próximo ao que se via em 2019 (35,7%), mas abaixo dos 42,6% do ano passado. O pico no número de licenças de importação solicitadas à ANP nos últimos meses, concentradas em três empresas, está associado à necessidade de garantir combustível a clientes com que têm contratos ativos ou de mais longo prazo, mesmo que com margens menos atrativas que de costume. Pequenos e médios importadores, por sua vez, podem esperar por uma conjuntura de preços mais vantajosos para operar. O comportamento foi confirmado por fontes das distribuidoras que dominam o mercado nacional.

Uma delas, a Vibra, informou que atua para garantir o fornecimento à rede de clientes contratuais e usuais e que, desde o fim do ano passado, ampliou importações para fazer frente à recuperação da demanda pós-pandemia e à sinalização pelo principal fornecedor (Petrobras) de que haveria limitações para o atendimento da integralidade dos pedidos. Outras distribuidoras relataram dificuldades para comprar mais diesel da Petrobras. Segundo elas, estão cada vez maiores e mais comuns os cortes da estatal nos volumes pedidos pelas distribuidoras. Isso ocorre desde o ano passado. O mercado sabe que a Petrobras tem feito cada vez mais cortes. Mesmo nos pedidos firmes, não se consegue o volume total pretendido. Desde meados de 2021, a distribuidora dobrou o volume de diesel que importa, com prejuízo ao equilíbrio financeiro da operação. A situação se agrava porque o consumo de diesel esse ano é superior ao de 2019, aponta relatório da S&P Global Platts do fim de maio.

A consultoria projeta que a demanda por diesel no Brasil no segundo trimestre ficará 95 mil barris por dia acima do consumo em igual período de 2019 e, na média anual, 35 mil bpd acima, devido aos desestímulos de preços elevados, inflação e juros altos. A Petrobras afirmou que cumpre integralmente obrigações contratuais junto às distribuidoras com entregas de diesel em patamares regulares. Mas informou que atua em linha com resolução da ANP, segundo a qual, em conjuntura de demanda superior à oferta, o volume disponível no mês corrente é rateado entre as empresas de forma proporcional às compras de cada uma delas nos três meses anteriores. Desde o fim de 2021, os pedidos de diesel têm sido atípicos e superiores ao mercado esperado e, como consequência, mesmo após avaliação de máxima disponibilidade, considerando nossa capacidade de produção e oferta, o volume aceito vem sendo inferior aos pedidos atípicos, informou a estatal. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.