27/Jun/2022
A percepção de aumento de risco fiscal, em meio à ofensiva do governo no Congresso para turbinar programas de transferência de renda com recursos fora do teto de gastos, impediu que o Real se beneficiasse da recuperação dos ativos de risco no exterior na sessão da sexta-feira (24/06). Apesar da alta firme das Bolsas em Nova York e do sinal predominante de baixa da moeda norte-americana no exterior, até em relação a pares relevantes do Real como o peso mexicano e o rand sul-africano, o dólar experimentou mais volatilidade no Brasil. Após passar a maior parte da sessão entre ligeiras baixas e altas, a moeda ganhou força nas duas últimas horas de negócios, com recomposição de posições defensivas no mercado futuro, e acabou encerrando com avanço 0,44%, a R$ 5,25, o maior valor de fechamento desde 8 fevereiro. Com isso, o dólar fechou a semana passada em alta de 2,11%, emendando a quarta valorização semanal consecutiva. Em junho, a divisa já acumula avanço de dois dígitos (10,52%). As perdas no ano, que já chegaram a superar 17%, agora são de 5,80%.
No exterior, o índice DXY (que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes) trabalhou em queda, chegando a romper o piso de 104,000 pontos na mínima, em meio à divulgação de dados mais fracos do sentimento em consumidor nos Estados Unidos, o que levantou expectativa de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) possa não ser tão agressivo. Para a JF Trust, a continuidade de alta do dólar no mercado doméstico, a despeito da devolução pontual no exterior, reflete a tendência de demanda por hedge com piora da inflação, das contas públicas e do acirramento político na eleição presidencial. Jogaram contra o Real ao longo das últimas semanas a valorização global da moeda norte-americana, fruto do tom mais duro do Federal Reserve, e a perspectiva de perda de fôlego das commodities, na esteira do temor de recessão global. A esse quadro global desfavorável à moeda brasileira somou-se nos últimos dias o retorno do risco fiscal.
Em tal ambiente, nem as altas taxas de juros domésticas, que tendem a atrair capitais para operações de "carry trade", conseguiram segurar o dólar. O senador Fernando Bezerra (MDB-PE) afirmou que o impacto fiscal total da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Combustíveis deve atingir R$ 34,8 bilhões de crédito extraordinário, fora do teto de gastos. Em vez de compensar Estados que zerassem ICMS sobre diesel e gás de cozinha até dezembro deste ano, o governo vai destinar recursos para alavancar programas sociais: aumento do Auxílio Brasil de R$ 400,00 para R$ 600,00, bolsa caminheiro de R$ 1.000,00 mensais e elevação do vale gás. O aumento do Auxílio Brasil, principal programa social do governo, foi confirmado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro. Na quinta-feira (23/06), Bolsonaro sancionou o projeto de lei que estabelece teto de 17% para ICMS sobre combustíveis, energia elétrica, telecomunicações e transporte coletivo, mas com vetos a trechos incluídos pelo Senado beneficiariam os Estados na compensação pela perda de receita.
A Terra Investimentos observa que o mercado parece incorporar novamente os riscos fiscais no processo de formação de taxa de câmbio, que antes estavam mais ligados ao ambiente externo. O dólar já subia com essa alta mais forte dos juros Fed, que pressiona divisas emergentes. Notícias ruins do quadro fiscal foram aparecendo e pioraram o ambiente para o Real. O governo está frustrado e parece que vai dobrar a aposta em benefícios sociais. Mas, se estão tentando contornar o teto de gastos é porque, pelo menos, o teto ainda existe. É preciso observar como vai ser no próximo governo. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o IPCA-15 acelerou de 0,59% em maio para 0,69% em julho, acima da mediana das projeções. O índice acumula alta de 5,65% no ano e de 12,04% em 12 meses. A expectativa predominante no mercado é que o Banco Central encerre o aperto monetário em agosto, com alta final de 0,50%, para 13,75% ao ano. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.