06/Set/2022
Os países desenvolvidos, com destaque para Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Inglaterra e Coreia do Sul, que têm grande participação dos serviços na formação do produto interno bruto, acreditam que o fortalecimento industrial é essencial para o crescimento de suas economias, inclusive porque elas estão na vanguarda da inovação tecnológica e geração de valor agregado. Para a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o fundamental para a indústria é ter escala. E ela precisa ser obtida não apenas para atender ao mercado nacional, que é grande, mas também para exportar e incorporar o que há de mais avançado em tecnologia no mundo. Há um conceito muito ultrapassado de que o setor fabril precisa do fechamento da economia a fim de se proteger ao máximo da competição de concorrentes estrangeiros. Ao contrário, a indústria precisa também vender seus produtos para fora do País.
A inserção internacional viabiliza, além da conquista de novos mercados e ampliação de fontes de receitas, o acesso ao que há de mais atualizado em sistemas de produção, o que é muito relevante para elevar a produtividade. Devido ao abalo nas cadeias internacionais de valor gerado pela Covid-19 e a invasão da Rússia na Ucrânia, os Estados Unidos e a Europa passaram a defender juntos uma nova ordem na globalização comercial. Trata-se do 'friend shoring', que é a importação de componentes, mercadorias e commodities de países que defendem os mesmos princípios democráticos e apresentam estabilidade política e institucional. O diálogo com os norte-americanos e europeus mudou muito nos últimos 45 dias, pois eles têm feito visitas à Fiesp e querem firmar acordos para viabilizar a segurança alimentar e energética dos seus respectivos países. Eles conhecem o Brasil e sabem que há dificuldades, mas ainda assim o País é a melhor opção que eles possuem no momento, inclusive porque muitas das suas empresas querem parar de depender tanto da Ásia, sobretudo da China.
A questão ambiental no Brasil, principalmente com o avanço do desmatamento florestal na gestão do presidente Jair Bolsonaro é um tema que emperra as negociações comerciais internacionais envolvendo o País, como ocorreu com o acordo Mercosul-União Europeia. É fato que os investidores internacionais estão acompanhando com grande expectativa as eleições para presidente, pois acreditam que a vitória da oposição poderá mudar muito a política federal para a proteção ecológica. O tema do respeito ao meio ambiente no Brasil implica riscos consideráveis para as exportações, especialmente para os Estados Unidos e Europa, o que ocorre inclusive para viabilizar certo protecionismo nos mercados europeus. O fato de a Fiesp defender a inserção internacional das indústrias, inclusive para gerar maior escala e aumentar a criação de empregos altamente qualificados e melhor remunerados, não elimina a busca pelo cumprimento de regras internacionais dos parceiros comerciais do Brasil, pois há ainda um grande número de práticas protecionistas em vários países, como o dumping, fraudes tarifárias e concessões de imensos subsídios às indústrias locais.
Os exportadores brasileiros devem ter acesso a seguros e financiamentos com taxas de juros compatíveis com o que ocorre com seus concorrentes internacionais, elementos que foram praticamente abandonados nos últimos três anos pela administração Bolsonaro. Em todo o mundo, os avanços em Ciência e Tecnologia ocorrem como prioridades de políticas de Estado. O governo do presidente norte-americano, Joe Biden, acabou de sancionar uma lei que concede US$ 52 bilhões em subsídios para grandes indústrias de semicondutores desenvolverem tais produtos sofisticados nos Estados Unidos. Ele também conseguiu a aprovação pelo Congresso de uma legislação que deverá dedicar US$ 369 bilhões em investimentos para medidas que vão ajudar na transição para a emissão zero de carbono, como pagar US$ 7.500,00 para quem comprar um carro elétrico novo e US$ 4.000,00 para quem adquirir este tipo de automóvel usado.
No Brasil, a Fiesp espera que o próximo governo deverá adotar além de uma reforma tributária e reforçar a segurança jurídica para melhorar o ambiente de negócios, que viabilize as condições necessárias para o avanço da Ciência, Tecnologia e Inovação. Por outro lado, há algumas iniciativas que poderiam ser feitas na articulação entre os setores público e privado que avançariam bastante a capacidade produtiva de empresas, sobretudo as micro e pequenas. É importante a difusão tecnológica, que é levar as pesquisas acadêmicas que estão isoladas nos prédios das universidades, para ganharem vida na rotina da atividade das indústrias. Pequenas novidades em procedimentos de produção que são descobertas nas universidades, muitas vezes elevam a produtividade de 30% a 40% de empresas pequenas. O aumento dos investimentos em infraestrutura é crítico para o crescimento do País. Nos últimos três anos, os recursos dedicados ao setor representaram uma média de 1,7% do produto interno bruto, inferior aos 2,4% do PIB por ano que são necessários apenas para compensar a depreciação destes ativos em uma década.
Para que sejam fechados os gargalos da infraestrutura nacional é preciso que tais montantes atinjam o equivalente a 4,3% do PIB em média por dez anos. Os problemas mais fortes estão em transportes/logística, como rodovias, portos, ferrovias e aeroportos, e no segmento de saneamento básico, que além de ser importante para a saúde pública é vital para o meio ambiente. São necessários bons projetos em infraestrutura, garantias do governo para investidores, inclusive estrangeiros, quando forem aplicar recursos em obras nos Estados e o próprio investimento público nestas obras de longo prazo. Poucos sabem, mas 70% da infraestrutura no Brasil foi gerada pelo setor privado. A aplicação de recursos pelo Tesouro nesta área ajuda a alavancar a atuação das empresas particulares neste setor por todo o País.
Segundo a PUC-SP, Josué Gomes da Silva, presidente da Fiesp, tem uma relação pessoal próxima com o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pois seu pai foi o vice-presidente da República de 2003 a 2010 e o principal companheiro de Lula no governo. Mais que isso, Josué e Lula têm visões econômicas desenvolvimentistas para o País. Não há dúvida de que se o Lula vencer as eleições, a Fiesp poderá se tornar um dos principais interlocutores do governo para a reindustrialização do Brasil. Esse seria um contraponto interessante ao papel histórico da Confederação Nacional da Indústria, pois assumiu uma postura liberal, de busca do Estado mínimo, sem considerar que é necessária a atuação dos investimentos públicos para propiciar o efeito multiplicador na Formação Bruta de Capital Fixo do País. Por outro lado, se o presidente Jair Bolsonaro for reeleito, a Fiesp precisará se reposicionar sobre como atuar com ele no poder por mais 4 anos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.