12/Set/2022
Após o crescimento econômico mais acelerado do que o previsto por analistas do mercado financeiro no primeiro semestre, a Fundação Getúlio Vargas projeta uma série de obstáculos para o médio prazo. Os destaques são a perspectiva de uma recessão global, a necessidade de esfriar a economia para controlar a inflação e a desorganização das contas do governo, descrita como um problema "institucional", além de fiscal. Na esteira da forma desigual como a pandemia se abateu sobre a economia global, a inflação explodiu em praticamente todos os países. Como reação, quase todos os bancos centrais passaram a subir seus juros básicos, com o intuito de esfriar a demanda e, assim, segurar os aumentos de preços. Por causa da pandemia, o aumento da inflação em todo o mundo se deu de forma sincronizada. Da mesma forma, a reação, ou seja, o aperto nas políticas monetárias com as elevações de juros, ocorre de forma sincronizada, ainda que, no Brasil, o Banco Central tenha saído na frente.
A desaceleração mundial está em curso e é um movimento sincronizado. A dúvida é a intensidade da desaceleração da atividade para controlar a inflação. Uma desinflação mais gradual, com efeito menos intenso sobre a atividade, é um cenário possível, mas há ceticismo. A estratégia do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) captura a atenção de economistas e analistas de todo o mundo. Por causa do peso dos Estados Unidos na economia global, uma recessão por lá pode arrastar os demais países. E o aperto nos Estados Unidos tem impactos nos mercados financeiros, traduzidos em dólar mais forte perante as demais moedas e em juros mais elevados. O presidente do Fed, Jerome Powell, deixou claro em seus mais recentes posicionamentos públicos que os juros norte-americanos subirão até o necessário para segurar a inflação. A inflação nos Estados Unidos ficou em 8,5% no acumulado em 12 meses até julho, abaixo dos 9,1% de junho, mas nos últimos meses a taxa vem frequentando as máximas dos últimos 40 anos.
O aperto será ainda maior, o Fed não vai desistir e o risco de recessão é significativo. A desaceleração, ou até uma recessão global, tende a esfriar o crescimento econômico do Brasil. Além da menor demanda pelos produtos exportados pelo País, os preços das commodities (matérias-primas com cotação internacional) tendem a cair, o que é ruim para a atividade econômica doméstica. Pelo lado positivo, a queda nas cotações desses produtos alivia as pressões inflacionárias no mercado doméstico. O problema é que a inflação no Brasil está generalizada. Mesmo com o aumento de juros por parte do Banco Central, a inflação de serviços está em 9% no acumulado em 12 meses. A inflação elevada só estará domada quando os preços de serviços estiverem acomodados. E os preços dos serviços tendem a acompanhar de perto a demanda das famílias, sensível à dinâmica de emprego e renda.
Até a recuperação do mercado de trabalho, com geração de empregos nas atividades de serviços que mais dependem do contato social, poderá colocar “mais lenha na fogueira” da inflação. A visão é de que a inflação não dará trégua. O País acelerou o crescimento, mas gerou efeitos inflacionários. Nesse cenário, a FGV projeta uma retração de 0,4% na economia em 2023. É preciso desacelerar porque tem uma inflação a ser combatida, mas a política fiscal continua incentivando o consumo. A crise se agrava ao ganhar contornos institucionais. Há três motivos para preocupação: a "desmoralização" das propostas de emenda à Constituição (PEC), para mexer em regras fiscais com objetivos "de natureza circunstancial" e eleitoral; a lei federal que afetou o planejamento orçamentário dos Estados ao baixar alíquotas do ICMS; e o uso indiscriminado das emendas de relator no Orçamento da União (orçamento secreto). Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.