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05/Out/2022

Crise energética e os investimentos em renováveis

A atual crise energética que a Europa enfrenta, apesar do transtorno econômico que está gerando, deve impulsionar a transição energética no continente no médio e longo prazo. No entanto, até lá, os europeus continuarão enfrentando problemas de oferta de energia nos próximos anos. A Associação Internacional de Produtores de Petróleo e Gás (IOGP) divulgou uma pesquisa na semana passada em que revela que a Europa pode reequilibrar progressivamente seu suprimento de gás e substituir as importações da Rússia bem antes de 2030, mas, para isso, precisa garantir suprimentos alternativos imediatamente. A guerra está redesenhando o ambiente energético global, e a Europa vai buscar a independência do gás russo, o que vai acelerar investimentos em renováveis. No entanto, isso inicialmente não vai resolver todo o problema.

Os europeus ainda vão criar uma dependência ao gás norte-americano importado e vão trabalhar muito com aporte de tecnologias que não existem ainda. Mas, o mundo futuro vai buscar dobrar apostas renováveis e apostar no hidrogênio como energético adicional. Isso vai levar um tempo. Pelo menos essa década ainda será de um panorama energético muito confuso na Europa. A Rystad Energy afirma que Europa é uma região líder no desenvolvimento de energia renovável, e os projetos planejados para o futuro são muito grandes. Os países europeus também poderão diversificar seu suprimento de gás para longe da Rússia, com maior dependência do gás da Noruega, GNL e do norte da África. Isso, combinado com alguns países que retornam à energia nuclear, bem como países que consideram o hidrogênio uma parte importante da transição energética, torna as perspectivas de médio e longo prazo positivas.

Mas, os próximos 2 ou 3 anos serão muito desafiadores, pois a Europa reduzirá sua dependência de combustíveis fósseis, o que não será um passeio sem dor. Na segunda-feira (03/10), a Comissão Europeia aprovou uma ação de 134 milhões de euros para apoiar a empresa química BASF SE na produção de hidrogênio verde. A medida contribui para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis provenientes da Rússia, como o gás natural, e acelerar a transição verde, seguindo o plano REPowerEU. A guerra trouxe para a mesa o verdadeiro espírito de solidariedade do conceito da União Europeia. Se cada um for por si, isso pode estar criando um projeto de falta de cooperação que “esculhamba tudo". Semana passada, por exemplo, o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, divulgou plano de até 200 bilhões de euros para ajudar consumidores e empresas a lidarem com a escalada nos preços de energia.

De acordo com o The Wall Street Journal, isso irritou o governo italiano, que disse que a abordagem isolada da Alemanha prejudica a unidade da Europa e dificulta a capacidade de outros de responder à crise. O primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, afirmou que: “Enquanto enfrentamos ameaças comuns, não podemos nos dividir de acordo com o espaço em nossos orçamentos nacionais". Em comunicado divulgado segunda-feira (03/10), o grupo de ministros de Finanças da zona do euro (Eurogrupo) destacou a importância de uma coordenação estreita e de soluções comuns a nível europeu, sempre que adequado. O Eurogrupo está empenhado em alcançar os objetivos políticos de forma unida. Sobre as críticas ao pacote alemão, o grupo afirmou que todos os países estão tomando medidas internas, mas é preciso de coordenação para lidar com os efeitos da guerra.

A crise energética atual indubitavelmente foi impulsionada pela guerra na Ucrânia, porém, o problema não é de hoje. Os preços já estão subindo desde o verão de 2021. As origens da crise energética europeia são uma combinação de 4 fatores principais: oferta apertada de gás e preços muito elevados; pouca possibilidade de mudança para o carvão; baixa disponibilidade de energia nuclear francesa desde o final de 2021 e secas impactando a situação hidrelétrica. Como resultado de um grande declínio na energia hidrelétrica e nuclear, e o fato de os países europeus terem desmantelado tanta capacidade de carvão nos últimos anos levou a um aumento na demanda de gás. E é aí que entra a dependência da Rússia. Hoje, a Rússia é responsável, grosseiramente falando, por 40% do gás, 50% do carvão e aproximadamente 30% do petróleo que a Europa consome. Além disso, nos últimos meses, mais um ingrediente surgiu para piorar a crise energética no continente: a seca.

Monitoramento do Observatório Europeu da Seca mostra que 53% do território da União Europeia está em condições de alerta. A seca fomenta a crise energética em três frentes: diminui a água para geração hidrelétrica, prejudica o transporte fluvial de matéria-prima para geração de energia, sobretudo o carvão, e faz com que falte água para resfriamento de reatores nucleares. Tudo isso aumenta ainda mais a demanda por outras fontes de energia, o que, na maioria dos casos, resulta em energia mais cara. Além disso, a seca traz efeitos diretos na economia europeia. A Capital Economics afirma que a queda do nível da água do Rio Reno é um pequeno problema para a indústria alemã em comparação com a crise do gás. Porém, se persistir até dezembro, pode subtrair 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro e quarto trimestres e adicionar um toque à inflação. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.