11/Out/2022
Embora a economia global tenha se recuperado dos estragos provocados pela pandemia de coronavírus, o crescimento mundial ainda não ganhou tração. E pior: os choques detonados pela guerra entre Rússia e Ucrânia e a alta de juros adotada pelos principais bancos centrais devem dificultar o cenário daqui em diante. Levantamento do Itaú com as 28 maiores economias mostra que o Produto Interno Bruto (PIB) global terminou o segundo trimestre deste ano 3,9% acima do observado no quarto trimestre de 2019, o último antes da pandemia. O problema é que a tendência de crescimento desses países está 2,5% mais baixa. Na prática, quer dizer que cresceram, mas num ritmo fraco desde o início da crise sanitária. A maioria dos países voltou ao nível pré-pandemia e retornou mais ou menos no período em que se acreditava, em 2021, alguns até voltaram em 2022. Foram poucos os que não se recuperaram.
Mas, a tendência do PIB da maioria dos países está abaixo do observado no período de pré-pandemia. Economias que cresciam bastante estão crescendo menos. São três grandes fatores que explicam esse cenário de desempenho mais fraco. O primeiro é a política "Covid zero" praticada nos países da Ásia, sobretudo na China. Nos períodos em que há um aumento de casos da doença, os governos locais voltam a adotar duras medidas de distanciamento social com o objetivo de evitar o aumento de contágios. O segundo tem a ver com a guerra entre Rússia e Ucrânia, que provocou diversos choques, como a disparada do barril do petróleo no mercado internacional. Por fim, o aumento da inflação global tem levado os principais bancos centrais do mundo a apertar a política monetária. Juros mais altos encarecem o consumo para as famílias e o investimento para as empresas, prejudicando o ritmo da atividade econômica.
Não à toa, parte dos analistas não descarta recessão para Europa e Estados Unidos. No mês passado, por exemplo, Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) subiu as suas taxas de juros em 0,75% pela terceira vez seguida. Os juros foram para a faixa entre 3% e 3,25%. A autoridade monetária dos Estados Unidos também indicou que o aperto monetário deve prosseguir. Na leitura dos economistas, as taxas norte-americanas podem chegar a 5%. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), é um cenário que mostra que a superação da crise provocada pela Covid-19 foi muito mais rápida do que a de outras recessões, mas o quadro piorou depois da guerra entre Rússia e Ucrânia e das sinalizações mais duras de banco centrais, particularmente do Federal Reserve. Em razão das dificuldades da economia global, o Fundo Monetário Internacional (FMI) deve rever as suas previsões de crescimento para 2023.
Com percepção semelhante, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) passou a projetar um crescimento de apenas 2,2% para o mundo em 2023. Em junho, previa 2,8%. Para este ano, manteve a sua estimativa em 3%. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), é um número que flerta com uma recessão moderada, porque a população mundial aumenta 1,1% ao ano. Um PIB mundial que cresce 2,2% (como prevê a OCDE) traz um ganho muito pequeno em termos per capita. A OCDE vem piorando sucessivamente as suas projeções para o desempenho da economia mundial. No fim do ano passado, a organização previa avanço do PIB do mundo de 4,5%, em 2022, e de 3,5% em 2023. Era um cenário vislumbrado não só pela OCDE, mas por boa parte dos analistas no final de 2021 e no começo deste ano. É mais ou menos o que o mundo cresceu de 2015 até 2019, antes da pandemia.
Não é só no curto e no médio prazos que o crescimento global pode ser mais fraco do que o esperado diante desse cenário mais complicado. Se nada for feito, os impactos da pandemia na qualidade do ensino devem afetar o desempenho da produtividade, comprometendo até o futuro da economia. As crianças ficaram muito tempo fora da escola, mais no Brasil do que em outros países. Dados mostram quedas muito severas do nível de aprendizado das crianças nesse biênio da pandemia. É possível que haja "uma geração perdida" se os países não desenvolverem políticas públicas educacionais para superar esse período de piora na qualidade da educação. Se nada for feito, haverá um dano de capital humano e que vai se refletir lá na frente sobre a produtividade da economia mundial e a capacidade de inovação. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.