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24/Out/2022

Brasil precisa incentivar produção de baixo carbono

Responsável por 27% das emissões diretas de gases de efeito estufa do Brasil, sem contar desmatamento, a agropecuária precisa mais do que as metas nacionais de descarbonização para reduzir seu impacto sobre a crise climática. Para indústrias e produtores rurais, são necessários projetos bem estruturados e crédito disponível e voltado às especificidades da produção de baixa emissão para dar escala à agropecuária de baixa emissão de carbono. Segundo a MyCarbon, subsidiária da Minerva Foods, o Brasil tem 20% das emissões de gases de efeito estufa do mundo, mas não recebe 5% do dinheiro do mundo. Há dinheiro disponível para apoiar a redução das emissões no setor, mas é preciso uma mentalidade de longo prazo por parte dos investidores e projetos bem estruturados, com metas claras de entrega, por parte dos produtores, para atrair os recursos.

O Programa ABC, que fornece crédito subsidiado para práticas de baixo carbono, já exige dos produtores projetos detalhados e metas. E, embora haja contratação de praticamente todo o crédito disponibilizado, o governo ainda vê espaço para aumentar o financiamento à transição ambiental das fazendas. Para a agricultura de baixo carbono ocorrer em escala, toda uma estrutura de mercado de carbono precisa ser estabelecida. É preciso mais clareza sobre como o carbono no agro tem que se viabilizar no Brasil. O Departamento de Produção Sustentável e Irrigação do Ministério da Agricultura afirma que está buscando capacitar os agentes do mercado financeiro para oferecer o crédito do programa para os produtores. Como tem que ter um projeto feito por um técnico, é difícil e o gerente acaba não oferecendo. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) já vem atuando para apoiar a elaboração de projetos e de estruturas financeiras que viabilizem o crédito para projetos de restauração.

Para a pecuária, o banco de fomento iniciou uma chamada pública para elaborar uma metodologia de mensuração de carbono na atividade, que deve basear a formação futura de linhas de financiamento para a transição do segmento. Pode ser feito como na linha para o RenovaBio, para trabalhar com os clientes para mudar seu comportamento e irem para prática que emitem menos carbono. O banco de fomento precisa apoiar os projetos que demandam prazos mais longos, como de florestas, e mais diversos. O BNDES está acostumado a financiar projetos grandes de monocultura. Um sistema agroflorestal, que planta cacau, mandioca, mogno no mesmo local, com vários ciclos diferentes, não cabem hoje numa planilha de uma instituição financeira. Há ainda desafios como a adequação dos produtores aos critérios das instituições financeiras. Apenas a pecuária de corte tem hoje mais de 2 milhões de fazendas, sendo 75% de pequeno porte.

Grande parte destes é voltado para a criação de animais e tem uma dificuldade monumental de acessar recurso, tecnologia e assistência técnica, avalia a Marfrig. O principal gargalo dos pequenos produtores é a adequação aos critérios básicos de contratação de crédito, como regularização fundiária e ambiental. O Brasil hoje não tem disponível instrumentos de crédito adaptáveis e que se encaixem às necessidades que o agro demanda, então quem precisa não acessa o recurso e não vai fazer a mudança. O problema é que o ritmo de regularização ambiental para viabilizar esse acesso a crédito está bem aquém da necessidade. O processo todo pode levar entre três e cinco anos, e o caso mais rápido acompanhado pela JBS, em Marabá (PA), levou oito meses. Se não houver parceria dos governos, a demora inviabiliza a disposição do produtor de ir procurar a regularização e o crédito. Os três grandes frigoríficos do País (JBS, Marfrig e Minerva) vêm executando projetos para impulsionar a regularização dos produtores.

Na JBS, já foram reintegrados hoje ao fornecimento de gado 3,7 mil pecuaristas, dentro de uma base de mais de 85 mil, e na Marfrig, já são 2,4 mil fazendas regularizadas, que representam 26% do abate da companhia. Do lado de quem oferta crédito no mercado privado, também há dificuldades para entender a demanda específica dos produtores de cada local. Há financiamento internacional em que uma das rubricas não financiava cerca, mas financiava drone, critica a Rede ILPF. Mesmo a adoção de modelos de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), que já alcançam hoje 17,3 milhões de hectares no País, ainda encontram maior dificuldade em incorporar a parte florestal, seja por dificuldade logística, seja por demora na monetização da atividade. É difícil convencer o produtor a reservar uma parcela de sua propriedade para a produção florestal. Ali ele só vai colher em cinco ou dez anos. A solução, defende, é construir com as indústrias modelos de negócios que antecipem renda para o produtor. Fonte: Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.