25/Out/2022
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a forte queda da inflação nos últimos três meses, quando o Brasil teve o maior recuo de preços já registrado nas estatísticas, aliviou mais o bolso das famílias de classe média do que o dos brasileiros mais pobres. Enquanto a deflação nas camadas de renda média superou 1,5% entre julho e setembro, a queda nos preços dos produtos consumidos pelas famílias de renda considerada muito baixa (que recebem menos de R$ 1.730,00 por mês) foi de menos da metade: 0,67%. No terceiro trimestre, o índice oficial de inflação (IPCA) mostrou deflação de 1,33%, derrubando para 7,17% a inflação em 12 meses, que estava em dois dígitos (11,89% até junho). A descompressão veio, principalmente, da queda nos preços de combustíveis, após o governo conseguir aprovar no Congresso um limite ao ICMS.
A partir da medida, e com os repasses de recuos do petróleo no mercado internacional, a gasolina, que também conta com a zeragem de tributos federais, ficou 35% mais barata. Como o produto é mais consumido pela classe média do que pelas famílias de baixa renda, a intensidade da deflação foi menor para os que ganham menos. O alívio em gastos com transportes, assim como energia e telecomunicação (também desonerados), foi, em grande parte, anulado na baixa renda por produtos e serviços que, embora em desaceleração, ainda sobem. É o caso dos alimentos consumidos em domicílio, que ocupam grande espaço no orçamento dos mais pobres e tiveram alta de 0,62% no trimestre. O preço dos alimentos segue preocupando. O movimento de deflação se reverteu e, em outubro, os preços da alimentação em domicílio voltam a subir 0,7%. Produtos como batata e tomate estão subindo muito no atacado.
Mas, conforme analistas de mercado, daqui para frente, a alta dos alimentos tende a ser menor do que a dos combustíveis, já que a defasagem da gasolina frente ao exterior leva a uma necessidade de correção estimada em algo entre 5% e 10%. A expectativa no mercado é de que os reajustes represados nas refinarias da Petrobras sejam anunciados após as eleições. Do lado dos alimentos, condições climáticas e preços de insumos agrícolas, as duas variáveis que catapultaram os preços neste ano, devem se tornar mais favoráveis aos produtores agrícolas. Apesar disso, com a expansão dos programas sociais, é possível que o alívio no orçamento dos mais pobres seja contido pelo efeito demanda, tanto nas proteínas que não vinham sendo consumidas por falta de dinheiro, como a carne bovina, quanto em outras categorias de produtos, como vestuário. No conjunto, a inflação de roupas, calçados e acessórios continuou em aceleração (saindo de 16,61%, em junho, para 19,16% em 12 meses até setembro), apesar da desinflação abrupta dos últimos três meses.
Segundo a Armor Capital, depois de três anos de muita pressão, a inflação da alimentação em domicílio, em 3,5%, voltará a ficar no ano que vem abaixo do resultado agregado do IPCA: 4,7%. Pelo menos no curto prazo, deve haver certa inversão, com possível aumento dos preços de combustíveis e uma trajetória melhor nos preços dos alimentos. A expectativa é de que haja uma estabilidade nos preços internacionais por conta da desaceleração da economia global, com impacto no padrão de consumo de proteínas, e retomada das exportações de grãos da Ucrânia, permitida por um acordo com a Rússia. A queda dos preços de alimentos no atacado a partir de abril ainda não foi completamente repassada pelos produtores aos consumidores finais. O viés das previsões é de baixa, sendo grande a chance de a inflação na alimentação nos domicílios terminar o ano mais perto de 12%. Nos últimos doze meses, a inflação nesse grupo de produtos foi de 13,28%. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.