31/Out/2022
A 100 quilômetros da cidade costeira norueguesa de Bergen, uma sonda de perfuração penetra camadas de lama e rocha abaixo do Mar do Norte. As empresas de energia por trás da sonda não estão prospectando petróleo ou gás. Elas estão procurando um lugar para armazenar enormes quantidades de gás de efeito estufa emitido por instalações industriais em toda a Europa. O projeto Northern Lights (uma joint venture de US$ 2,6 bilhões entre Shell, TotalEnergies, Equinor e o governo da Noruega) é um dos quase 200 projetos de sequestro de carbono em operação ou em desenvolvimento no mundo todo, de acordo com o Global CCS Institute, um think tank que promove a captura de carbono. Quando concluído, em 2024, o Northern Lights será o maior programa do mundo para sequestrar ou armazenar dióxido de carbono no subsolo. Projetos como esse visam reverter efetivamente o impacto dos combustíveis fósseis, devolvendo o dióxido de carbono ao solo. O gás de efeito estufa é extraído do ar livre e de instalações industriais produtoras de eletricidade, aço, alumínio ou cimento.
Se o projeto for planejado e construído adequadamente, o dióxido de carbono pode ser armazenado com segurança por gerações. A Northern Lights afirma que usa, no sentido inverso, o mesmo mecanismo que manteve o petróleo e o gás no subsolo por milhões de anos. É seguro. Apesar do recorde de 25 anos da indústria de armazenamento subterrâneo seguro, tal experimento nunca foi realizado antes em tamanha escala. O risco é que a infraestrutura de poços e tubulações acabe vazando, permitindo que o dióxido de carbono volte para a atmosfera. O dióxido de carbono, que cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas dizem ter aquecido o planeta em quase 2°Fahrenheit desde 1900, precisa diminuir se o mundo quiser evitar os piores efeitos das mudanças climáticas. Iniciativas como o Northern Lights visam bloquear as emissões industriais de dióxido de carbono antes que elas atinjam a atmosfera. Outras usam ventiladores gigantes para sugar o ar externo e filtrar o dióxido de carbono, um processo conhecido como captura direta de ar.
Há ainda esforços experimentais para usar o oceano como um enorme dissipador de dióxido de carbono, alterando sua química. Os projetos em andamento estão mostrando quais tecnologias e formações geológicas são mais confiáveis. Segundo o Centro de Carbono da Costa do Golfo da Universidade do Texas, que tem pesquisado métodos de sequestro nos últimos 24 anos, o objetivo é que o armazenamento de carbono seja permanente, mas é preciso dar confiança aos investidores, órgãos reguladores e outras partes interessadas. Será feita uma vigilância que proporcione a garantia da permanência. O Northern Lights planeja bombear dióxido de carbono para uma camada de arenito a cerca de 2,5 quilômetros abaixo do leito oceânico. Lá, espera-se que o gás se dissolva em água salgada e interaja com minerais. Após 100 anos, cerca de metade do dióxido de carbono bombeado para a formação se tornará parte da rocha. Quanto mais tempo o CO² permanecer no reservatório, mais seguro ele se tornará.
O projeto espera sequestrar 1,5 milhão de toneladas métricas de dióxido de carbono por ano quando for inaugurado em 2024, chegando a 5 milhões de toneladas métricas por ano posteriormente. Algo semelhante já ocorre na Islândia. Desde 2021, uma planta de captura de carbono a quase 50 quilômetros ao sul de Reykjavik usa 72 ventiladores maciços para sugar o ar, retendo moléculas de dióxido de carbono em filtros gigantes e depois aquecendo os filtros para produzir um fluxo de gás dióxido de carbono. O gás é dissolvido em água e, em seguida, canalizado a centenas de metros de profundidade, de acordo com a Carbfix (empresa islandesa que opera a instalação com a empresa suíça Climeworks). A água penetra pelos poros da rocha basáltica, reage com os metais da rocha e literalmente se transforma em pedra. Porém nem tudo correu bem. Plumas de ácido sulfúrico emitidas por uma usina geotérmica próxima corroeram as pás do ventilador da usina.
A instalação é bastante complexa e deve haver mais surpresas se o projeto for levarmos para uma região tropical ou uma região árida. No Texas, a Occidental Petroleum e seus parceiros começaram este mês a construção de uma usina para capturar um milhão de toneladas de dióxido de carbono do ar e injetá-lo em formações subterrâneas. Outro desafio é a obtenção de fontes de energia renovável. Se for usada energia gerada por carvão ou outros combustíveis fósseis para operar as instalações, a equação de remoção de carbono não fecha. Alguns cientistas acreditam que a água do mar pode ser o melhor lugar para armazenar dióxido de carbono. Uma ideia para aumentar o armazenamento na água do mar envolve a criação de enormes fazendas de algas marinhas. À medida que a alga marinha absorve o dióxido de carbono que alimenta seu crescimento, ela se torna tão pesada que eventualmente afunda, arrastando grandes quantidades de carbono para o fundo do mar, onde permanecem por décadas.
Outras ideias incluem plantas marinhas que naturalmente capturam dióxido de carbono e tratar a água do mar para aumentar sua alcalinidade, aumentando assim a capacidade da água de absorver dióxido de carbono do ar. Esta última iniciativa está sendo desenvolvida por algumas empresas, incluindo a Planetary Technologies, uma startup em Dartmouth, Nova Escócia. As técnicas de remoção de carbono pelos oceanos estão em estágios iniciais de desenvolvimento e ainda precisam ser avaliadas quanto à eficácia e aos riscos potenciais, de acordo com um relatório de 2021 das Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina. Apesar de todo o otimismo entre alguns empresários e engenheiros, até então o sequestro de carbono removeu apenas pequenas quantidades de dióxido de carbono da atmosfera.
A contagem para 2022, de cerca de 43 milhões de toneladas métricas, de acordo com o Global CCS Institute, é apenas uma pequena fração dos 10 bilhões de toneladas métricas que o IPCC afirma que precisam ser removidas anualmente até 2050. Segundo a Global Carbon Project, se não for considerada uma escala de bilhões de toneladas, não vale a pena falar sobre isso. É preciso ter centenas de milhares desses tipos de projetos para causar um impacto real no clima. Alguns cientistas do clima temem que o crescente investimento em sequestro de carbono possa desviar a atenção dos esforços contínuos para reduzir as emissões de dióxido de carbono e outros gases que retêm o calor de usinas de energia, fábricas e tubos de escape. Para o Departamento de Ecologia Global da Carnegie Institution for Science, “é mais fácil evitar fazer a bagunça em primeiro lugar do que limpá-la depois”. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.