02/Nov/2022
Para o Commerzbank, não é surpresa que os preços dos grãos tenham subido após o anúncio da Rússia no fim de semana passado de que se retiraria prematuramente de acordo para exportação de grãos da Ucrânia. No entanto, os preços subiram menos do que quando a Rússia invadiu a Ucrânia, por três motivos. O primeiro deles é que os preços do milho e do trigo já estão sendo negociados nos níveis mais elevados por causa da invasão russa, o que já sinaliza uma perspectiva de oferta apertada. O segundo é que a Rússia já havia ameaçado não renovar o acordo e, portanto, a decisão não é necessariamente inesperada. Por fim, o terceiro, é que a Turquia, a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Ucrânia planejam manter o corredor em funcionamento, mesmo sem a Rússia. Além disso, o Ministério da Rússia ressaltou que não estava revogando o acordo, mas apenas suspendendo seu próprio envolvimento.
Os países do G20 provavelmente pressionarão a Rússia, no mais tardar durante sua cúpula em 15 e 16 de novembro, para retomar o acordo, o que significa que ainda há um vislumbre de esperança de que as exportações de grãos da Ucrânia possam continuar. Essa é a principal justificativa para os preços não subirem de forma excessiva, pelo menos por enquanto. Se as tentativas de persuadir a Rússia a voltar ao acordo falharem, ou mesmo se a Rússia atacar navios de grãos ucranianos, um aumento substancial nos preços dos grãos seria provável. Caso o acordo não seja renovado, segundo alerta da Associação Ucraniana de Grãos, as exportações de grãos podem ser de apenas 35 milhões de toneladas na temporada 2022/2023, em vez das 50 milhões de toneladas previstas anteriormente. O trigo europeu está sendo negociado a cerca de 352,00 euros por tonelada, ainda quase 20% abaixo da máxima deste ano.
A produção menor da Ucrânia, da Argentina e da Austrália deverá ser compensada por safras maiores da Rússia e do Canadá. Ainda assim, as exportações russas continuam operando de forma reduzida, em virtude das sanções impostas pelo Ocidente. No caso do milho, o preço também é negociado abaixo das máximas do ano, tanto na Bolsa de Chicago quanto no mercado europeu. Enquanto a Ucrânia for capaz de continuar suas exportações de grãos por via marítima, os preços dos grãos provavelmente se estabilizarão em seus níveis O Mar Negro continua a ser a rota de transporte mais importante para os produtos agrícolas, respondendo por mais de 60% das exportações até agora este ano. Diante da possibilidade de a Rússia utilizar força para fechar o corredor, qualquer queda de preço renovada e duradoura é improvável. Por esse motivo, os preços do trigo devem continuar altos no curto prazo, com redução apenas a médio e longo prazo, caso o conflito não passe por mais uma escalada.
No fim deste ano, o preço do trigo europeu deve ficar em 360,00 euros por tonelada, e em 280,00 por tonelada no fim de 2023. Para o preço do trigo negociado na Bolsa de Chicago, a previsão é de US$ 9,00 por bushel no fim deste ano e de US$ 8,00 por bushel no fim do próximo ano. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) também reduziu as perspectivas para a safra de trigo de inverno do país, o que também pode ser visto como um fator altista para a commodity. De acordo com sua mais recente estimativa, apenas 28% das lavouras estão atualmente em boas ou excelentes condições. Isso é muito pior do que o consenso de uma pesquisa da Reuters, que previu um número de 41% e é visivelmente inferior ao nível do ano anterior de 45% neste momento. Apesar das condições de seca, a semeadura ainda não terminou, o que significa dizer que o resultado final ainda pode ter uma melhora. Mesmo assim, é provável que inicialmente isso exacerbe as preocupações com a oferta no mercado de trigo. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.