07/Nov/2022
Os critérios opacos do governo chinês para a adoção de rígidas medidas contra o coronavírus criaram um ambiente fértil para a disseminação de rumores. Na última semana, informações não confirmadas de que o governo relaxaria a estratégia de tolerância zero à Covid-19 provocaram rompantes de euforia nos mercados locais. Mas, autoridades chinesas indicaram que a postura firme no combate à doença deve continuar em vigor. O frenesi nas mesas de operações asiáticas começou no dia 1º de novembro, quando publicações nas redes sociais circularam uma notícia de que o governo teria formado um comitê para avaliar os cenários de afrouxamento da política sanitária. O grupo teria estabelecido uma meta para reabrir a economia até março do ano que vem. O porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian, teve que vir a público dizer que "não estava ciente" da existência de tal comissão. Ainda assim, investidores mantiveram o bom humor. Naquele pregão, a Bolsa de Hong Kong fechou em alta de mais de 5%, enquanto as de Xangai e Shenzhen subiram cerca de 3%.
As ações ligadas ao turismo dispararam, entre elas BTG Hotels Group (+8,7%) e China Tourism Group Duty Free (+10,0%). No dia seguinte, um comunicado da Comissão Nacional de Saúde (NHC) acabou com a festa. Após reunião, o grupo indicou que pretende manter a política que previne a entrada do coronavírus no país e a disseminação da doença, além de trabalhar para controlar surtos de maneira mais rápida e com o menor custo possível. A informação contrariou os boatos e trouxe a cautela de volta aos negócios. Não só os índices acionários chineses recuaram, mas os preços das principais commodities se desvalorizaram no mercado internacional, uma vez que o gigante asiático é um dos principais motores da demanda por petróleo, metais e outras matérias primas. A proliferação de rumores, no entanto, ainda não havia se encerrado entre os agentes econômicos. De acordo com o jornal Financial Times, na sexta-feira (04/11), novos posts nas redes alegaram que o ex-chefe do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China Zeng Guang afirmou, em conferência promovida pelo Citigroup, que o país abriria as fronteiras internacionais para Hong Kong no começo de 2023, informação não confirmada pelo banco.
Mais uma vez, as bolsas tiveram fortes ganhos em reação ao boato. A Reuters noticiou que a China deve promover uma coletiva de imprensa para falar da Covid-19 com a presença de autoridades de seu Centro de Controle e Prevenção de Doenças. O vaivém dos mercados chineses expõe a ânsia de investidores para que o governo chinês abandone a estratégia rigorosa contra a Covid-19, que tem impacto econômico significativo. A mais recente rodada de índices de gerentes de compras (PMI) dos setores industrial e de serviços apontaram nova contração da atividade em outubro, diante das incertezas ainda consideráveis. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) chinês dentro da meta de cerca de 5,5% já está fora de cogitação nos prognósticos de especialistas. Para o Danske Bank, os custos econômicos da política de mitigação da pandemia estão crescendo e eventualmente a China terá que mudar o rumo. Contudo, isso só deve ocorrer na segunda metade de 2023. Mas, a reação do mercado também mostra claramente que mesmo o menor sinal de que a China está se preparando para isso será bastante positivo para os ativos chineses, que estão sendo negociados em níveis muito deprimidos após a mais recente liquidação.
Uma referência à onda de vendas que se alastrou nas bolsas chinesas na semana passada, depois que o 20º Congresso do Partido Comunista confirmou o terceiro mandato do presidente Xi Jinping, inédito nas últimas quatro décadas. Durante a conferência, o líder chinês defendeu as medidas anticovid e destacou os grandes resultados positivos delas. Ele afirmou estar comprometido em colocar as pessoas e as vidas em primeiro lugar e aderir à dinâmica Covid-zero. Diante disso, a Pantheon Macroeconomics não vê uma mudança iminente na estratégia sanitária do governo chinês. As autoridades devem optar por um relaxamento bastante gradual. Eles vão permitir que as regiões piloto flexibilizem a partir de março de 2023, desde que implementação da vacinação vá bem. A Asset Management afirma que a expectativa consensual no mercado é de que o relaxamento da política de tolerância zero ocorra no segundo trimestre do ano que vem.
Mas, se houver um aceno político de alívio da Covid-zero no primeiro trimestre de 2023, seria suficientemente positivo para impulsionar um movimento global substancial de 'risk-on'. A Capital Economics é ainda mais pessimista sobre o horizonte de curto e médio prazo. Não deve haver alívio significativo na rigidez da luta contra a Covid-19 antes de 2024. Isso porque a parcela da população idosa chinesa que completou o ciclo vacinal, incluindo doses de reforços, ainda é muito pequena. Pelas estimativas, o governo chinês não deve alcançar a marca de 95% das pessoas com mais de 80 anos imunizadas antes do segundo semestre de 2023, a não ser que a campanha se acelere consideravelmente. Por isso, a tendência é de manutenção da Covid-zero. Mais um ano de Covid-zero equivale a mais um ano de atividade do consumidor deprimida e um alto risco de lockdowns recorrentes em larga escala. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.