ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

19/Jan/2023

China: redução populacional impacta na economia

Economistas afirmam que a redução da população da China traz um grande desafio futuro para a segunda maior economia do mundo, enquanto o principal assessor econômico do presidente Xi Jinping buscou, na terça-feira (17/01), restaurar a confiança dos investidores após a divulgação de uma das taxas de crescimento mais decepcionantes das últimas décadas. A China já reverteu as políticas de Covid-zero que restringiram o crescimento durante grande parte de 2022, preparando o terreno para uma recuperação este ano. A mudança, que se seguiu a protestos da população, foi parte de uma ampla redefinição de políticas destinadas a impulsionar a economia, incluindo a flexibilização das regulamentações do setor imobiliário e sinais de que as barreiras ao setor de tecnologia chegaram ao fim. O governo chinês aposta em uma forte recuperação da atividade econômica à medida que as autoridades sinalizam cada vez mais que a recente onda de infecções está atingindo o pico.

Segundo assessores do governo, o poder central deve anunciar uma meta de crescimento entre 5% e 5,5% para 2023 nas próximas sessões legislativas, que ocorrem em março. Na terça-feira (17/01), a China anunciou crescimento de 3% para 2022, a segunda pior taxa desde 1976. Falando ao Fórum Econômico Mundial em Davos, o vice-primeiro-ministro Liu He, principal assessor econômico de Xi, tentou passar a investidores e executivos a mensagem de que o crescimento da China deve retornar aos níveis anteriores à pandemia este ano, com a reabertura do país. Em um painel intitulado "O próximo capítulo da China", os palestrantes também projetaram otimismo. A reabertura e saída da China da política de Covid-zero é o catalisador mais positivo para os mercados globais este ano, afirmou a Hong Kong Exchanges and Clearing. Se a China produzir um número de crescimento sólido para 2023, de 5% ou mais, sustentará muito do crescimento global no próximo ano.

As recentes medidas da China, no entanto, não abordam alguns desafios agravados pela pandemia. O rápido envelhecimento da população, a desaceleração do crescimento da produtividade, o alto nível de endividamento e o aumento da desigualdade social devem pesar na ascensão econômica do país nas próximas décadas. Na terça-feira (17/01), mesmo dia em que a China anunciou o crescimento de 3%, a segunda pior taxa de crescimento desde 1976, também informou que, pela primeira vez desde 1961, sua população encolheu. A população da China se reduziu em 850 mil habitantes, para 1,412 bilhão. A transição para uma população cada vez menor, que aconteceu mais cedo do que o governo chinês projetava, marca um momento decisivo na história da China, com profundas implicações para a economia e o status do país como maior chão de fábrica do mundo. O marco demográfico ocorre quando, apesar do enorme tamanho, a economia da China ainda é a de um país em desenvolvimento de renda média baixa, em comparação com os Estados Unidos e outros países ricos.

Os líderes da China nutrem a ambição de superar os Estados Unidos e se tornar a maior economia do mundo, tarefa dificultada por obstáculos demográficos cada vez maiores. A probabilidade de a China um dia ultrapassar os Estados Unidos como primeira economia do mundo acaba de se reduzir, afirmou o Lowy Institute, think tank localizado em Sydney (Austrália). A economia global depende, cada vez mais, da vasta mão de obra das fábricas chinesas e os consumidores do país representam um mercado crescente para carros e produtos de luxo fabricados no Ocidente. Uma população cada vez menor significa menos consumidores no momento em que a China enfrenta pressão para impulsionar o crescimento por meio de maior consumo, em vez de investimentos e exportações. Qualquer recuperação no consumo também deve ser limitada por um mercado de trabalho fraco e uma crise imobiliária que corroeu a riqueza das famílias chinesas.

A taxa de desemprego entre pessoas de 16 a 24 anos permaneceu elevada em 16,7% em dezembro, em relação ao pico de quase 20% no semestre anterior. O crescimento da renda disponível per capita pode desacelerar para cerca de 4% ao ano nos próximos cinco anos, em comparação aos cerca de 8% antes da pandemia, segundo o Credit Suisse. Uma força de trabalho menor deve restringir o crescimento econômico. Uma economia só cresce se adicionar trabalhadores ou produzir mais com os já existentes. A população em idade ativa da China, que atingiu o pico por volta de 2014, deve cair 0,2% ao ano até 2030, segundo a S&P Global Ratings. O crescimento da produtividade vem se reduzindo. Caiu para 1,3% em média nos 10 anos até 2019, de 2,7% na década anterior, de acordo com estimativas do Conference Board, organização de pesquisa sem fins lucrativos. Para a Fathom Consulting, a China parece que vai envelhecer antes de enriquecer.

Mas, existem alguns motivos para otimismo. A China pode fazer um melhor e mais produtivo uso dos trabalhadores urbanos subempregados em empresas estatais e dos que ainda trabalham em áreas rurais. Além disso, o país adiciona rapidamente automação e tecnologia relacionada às fábricas, substituindo ou aumentando sua força de trabalho decrescente. Avanços nas áreas da robótica, inteligência artificial e outros setores de alta tecnologia que podem turbinar a produtividade do trabalhador são o potencial para a China, embora não esteja claro se o país será bem-sucedido. Enquanto isso, a China continua presa ao antigo manual de estimular o crescimento incentivando governos e empresas a tomar mais empréstimos para financiar investimentos, modelo que tende a ser insustentável no longo prazo. A dívida geral do país em relação à economia atingiu o pico durante a pandemia, uma vez que os governos locais tomaram empréstimos para financiar projetos de infraestrutura e impulsionar a atividade.

Em junho de 2022, os empréstimos ao setor não financeiro atingiram US$ 51,8 trilhões, ou 295% do PIB, segundo dados do Bank for International Settlements. As políticas da China durante a pandemia se concentraram fortemente no lado da oferta e não no lado da demanda. Na contramão de muitos países do Ocidente, o governo chinês não distribuiu auxílio financeiro para as famílias, direcionando a maior parte dos esforços para apoiar os fabricantes. Segundo a Universidade de Oxford, os problemas sistêmicos que a China tinha na economia antes da Covid-19 permanecem. E, em alguns aspectos, foram agravados pela pandemia. Apesar do otimismo expresso por alguns palestrantes em Davos, investidores e executivos de empresas dentro e fora da China seguem cautelosos com a real disposição do governo chinês de reduzir as restrições aos negócios estabelecidas nos últimos anos, para voltar a abraçar o capital privado. Liu He procurou acalmar essas preocupações em seu discurso na terça-feira (17/01). Ele disse à plateia em Davos que um retorno a uma economia planejada, em que o partido-estado dita as atividades econômicas, é impossível.

Mas, os economistas argumentam que a busca de autossuficiência por parte de Xi Jinping em uma série de setores, além de sua propensão a ditar como as empresas privadas devem ser administradas, tendem a continuar minando a vitalidade da economia. Para atingir autossuficiência em setores-chave, o governo chinês concentrou-se em canalizar empréstimos de baixo custo para setores importantes, como semicondutores, energia renovável e produtos farmacêuticos. Mas, os investimentos, que muitas vezes envolvem empresas estatais menos produtivas, também foram contaminados por gastos desnecessários e corrupção, com poucos sinais de inovação real. Para a Capital Economics, o desejo de Xi Jinping de garantir que o controle do Partido Comunista se estenda à sociedade é muito maior do que seu compromisso de desenvolver uma economia de mercado. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.