25/Jan/2023
A desancoragem das expectativas de inflação observada no relatório Focus já pressiona as projeções do mercado para Selic, em especial das instituições que mantêm previsões abaixo da mediana. O movimento sugere que a estimativa mínima para a taxa básica de juros no fim de 2023, atualmente em 10,25% no Sistema Expectativas de Mercado do Banco Central, tende a avançar e ao menos se aproximar da projeção intermediária, atualmente de 12,50%. Um exemplo deste movimento é o Bank of America (BofA), que abandonou a projeção de taxa Selic de 10,5% no fim de 2023, mantida por mais de 10 meses (desde 8 de março de 2022) e passou a prever juros de 11,75% em dezembro deste ano. A revisão se deve ao aumento das expectativas de inflação do mercado, que deve exigir do Banco Central a manutenção dos juros estáveis no nível de 13,75% por um período mais longo. O anúncio da PEC da Transição, que aumentou o teto de gastos em R$ 145 bilhões, junto com um ruído político persistente, ajudou a desancorar as expectativas de inflação ainda mais.
Ainda se espera que o IPCA desacelere durante o ano, mas agora a política monetária deverá ficar parada por mais tempo do que o anteriormente previsto. O relatório Focus publicado na segunda-feira (23/01) mostrou uma nova rodada de aumento das medianas para a inflação de 2023 (5,39% para 5,48%) e 2024 (3,70% para 3,84%), que representam o horizonte relevante da política monetária. O centro das metas para os dois anos é de 3,25% e 3,0%, respectivamente. Em períodos mais longos, a estimativa intermediária para 2025 ficou estável em 3,50%, também acima do centro do alvo (3%), enquanto a de 2026 subiu de 3,22% para 3,47%, de 3,01% uma semana atrás. O Banco Central usou o último Relatório Trimestral de Inflação para sinalizar que a estratégia de manter a taxa básica de juros em 13,75% por um período mais longo continua adequada para ancorar as expectativas. Na ata da reunião de dezembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou que iria perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.
Mas, segundo a Kínitro Capital, esse movimento parece cada vez mais distante. A gestora era uma das 16 de 34 casas que ainda estimavam uma Selic abaixo de 12% no fim de 2023. Na semana passada, elevou a estimativa de 11,75% para 13,75%, devido às sinalizações do governo e à pressão inflacionária esperada com a política fiscal expansionista. A perspectiva era de que a desaceleração global, junto com a taxa de juros em patamar bastante restritivo, levaria a uma moderação da atividade ao longo dos próximos meses, que é o fator mais importante para a convergência da inflação para as metas do Banco Central. Mas, a postura mais beligerante do governo com relação às instituições relacionadas ao mercado e uma política fiscal mais agressiva em gastos do que o esperado à priori, antes de eleição, dificultou o processo de desinflação. Com os sinais de que o governo deve agir para evitar uma desaceleração da economia, a Kínitro espera aceleração do IPCA entre 2022 e 2023, de 5,79% para 6,10%. Nesse cenário, a gestora considera que a inflação deve atingir 4,20% em 2024, enquanto a taxa Selic deve encerrar o ano que vem em 9,75%.
O risco de revisão das metas de inflação, criticadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada, também permanece no cenário. A EQI Asset estima uma taxa Selic de 11,5% no fim de 2023, mas reconhece que há chance de uma revisão altista na projeção. Quanto mais as expectativas para a inflação se deteriorarem, menores são as chances de o Banco Central cortar juros este ano. O principal efeito seria postergar o início dos cortes de juros neste ano. A EQI deve aguardar mais tempo para ajustar projeções para a Selic. Há muitas coisas acontecendo no cenário internacional que pode ajudar o Brasil neste ano. Tem um movimento de dólar importante no exterior que pode afetar muito o Real, fazendo ele se apreciar um pouco e chegar próximo dos R$ 5,00; há também a discussão de metas de inflação. No fim de 2022 a inflação de serviços começou a dar sinais de desaceleração, quando a expectativa era que isso ocorresse somente em 2023. Se a inflação começar a dar sinais de baixa neste ano e o câmbio se apreciar por causa do movimento global do dólar, o Banco Central pode vir a fazer cortes no segundo semestre. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.