26/Jan/2023
Duas das maiores economias do mundo moveram-se em direções opostas no início do ano, quando as empresas dos Estado Unidos anunciaram novas quedas na atividade em janeiro e a zona do euro registrou recuperação modesta. A divergência sugere que, enquanto a economia dos Estados Unidos continua perdendo força, a da Europa pode estar se estabilizando, pelo menos por enquanto. O ritmo de contração nas empresas dos Estados Unidos se desacelerou em janeiro, um possível sinal de que a economia está atingindo o fundo do poço graças à desaceleração da inflação e à resiliência da demanda. Juntas, as pesquisas apontam para uma possível desaceleração da economia global neste ano, mas com possibilidade de evitar a recessão.
A ameaça de escassez de energia na Europa, a economia dos Estados Unidos ainda em crescimento e a reabertura da China após a pandemia podem compensar o efeito de preços e taxas de juros mais altos e impedir que o mundo entre em uma recessão acentuada. Nos Estados Unidos, a economia continuou crescendo no fim do ano passado, apesar da série de altas promovidas pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) nas taxas de juros, para esfriar a economia e controlar a inflação. Taxas mais altas pesaram fortemente em determinados setores, causando possível retração nos consumidores. A venda de imóveis residenciais caiu quase 18% em 2022 em relação ao ano anterior. As vendas no varejo caíram 1,1% em dezembro e o mercado de trabalho, embora ainda aquecido, começa a apresentar rupturas.
Os empregadores dispensaram trabalhadores temporários por cinco meses consecutivos. Para alguns economistas, folhas de pagamento para trabalhadores temporários menores podem ser um precursor de uma queda mais ampla no emprego. No entanto, os economistas estimam que a economia dos Estados Unidos cresceu a uma taxa anual ajustada sazonalmente de 2,8% no quarto trimestre do ano passado, ligeiramente abaixo dos 3,2% no terceiro trimestre. A inflação, que, no ano passado, atingiu a maior alta em quatro décadas, está esfriando. Os preços ao consumidor subiram 6,5% em dezembro em relação ao ano anterior, abaixo do pico de 9,1% em junho em 2022. Nesta quinta-feira (26/01), o Departamento de Comércio dos Estados Unidos divulgará os dados do PIB do quarto trimestre.
Até pouco tempo atrás, a maioria dos economistas via a zona do euro com probabilidade de entrar em recessão este ano, após a disparada dos preços de energia devido à guerra na Ucrânia. Mas, a combinação de um inverno ameno, esforços de economia de energia, medidas dos governos para buscar novos fornecedores de gás natural, e centenas de bilhões de euros em apoio fiscal parecem ter sustentado a economia da zona do euro. A S&P Global informou que o índice composto de produção nos Estados Unidos, pesquisa sobre a atividade empresarial que é observada de perto, foi de 46,6 em janeiro, o que significa um ritmo levemente mais lento de contração em relação ao índice de dezembro, de 45. Na Europa, o índice subiu de 49,3 para 50,2. Um número acima de 50 aponta para uma expansão enquanto uma leitura abaixo desse nível aponta para uma contração.
A estabilização da economia da zona do euro no início do ano aumenta as evidências de que a região poderá escapar da recessão. Os Estados Unidos, por sua vez, começaram 2023 com um tom decepcionantemente fraco. Embora moderada em comparação com dezembro, a taxa de queda está entre as mais acentuadas desde a crise financeira global. Segundo a Capital Economics, a política monetária pode explicar parte da divergência e apontar para mais problemas à frente na Europa. Enquanto o Federal Reserve aumentou as taxas de juros em mais de 4% desde março, para uma faixa entre 4,25% e 4,5%, o Banco Central Europeu se moveu em ritmo mais lento, elevando a taxa básica de juros em 2,5% a partir de julho. As taxas de juros na Europa precisam subir ainda mais, enquanto os Estados Unidos podem estar chegando ao fim do seu ciclo de alta.
Parte desses problemas ainda estão por vir na zona do euro. No entanto, a região pode evitar uma recessão ou, se houver, poderá ser mais branda do que se previa. As pesquisas com gerentes de compras dos Estados Unidos revelaram que taxas de juros mais altas e inflação persistente pesaram sobre a demanda nos setores de manufatura e serviços. Mas, o emprego continuou a crescer à medida que as empresas administravam as carteiras de pedidos. Na Europa, as pesquisas apontaram para uma nova redução das pressões de preços em janeiro, com os custos das empresas subindo no ritmo mais lento desde abril de 2021 A taxa anual de inflação dos preços ao consumidor da zona do euro diminuiu pelo segundo mês consecutivo em dezembro, e novas baixas são esperadas este ano.
Por outro lado, o índice composto de produção de janeiro do Reino Unido caiu de 49,0 para 47,8, atingindo a mínima em dois anos. Foi um sinal de que a economia do país pode ficar para trás em relação a outros países da Europa, já que as empresas enfrentam a escassez de mão de obra, o impacto dos aumentos das taxas de juros do Banco da Inglaterra iniciados no final de 2021 e o persistente freio nos investimentos causado pela saída da União Europeia. A China, por sua vez, suspendeu boa parte das restrições relacionadas à política de tolerância zero à Covid no início de dezembro, em uma mudança abrupta de curso. Embora isso tenha levado a um aumento nas infecções e mortes por Covid-19, abriu as portas para uma forte recuperação econômica na segunda maior economia do mundo, que registrou seu menor crescimento em quatro décadas em 2022.
Segundo a Investec, o afrouxamento da rigorosa política de Covid-zero da China impulsionou as perspectivas de crescimento, enquanto o inverno mais ameno na Europa ajudou a moderar a intensidade da crise energética. A Investec aumentou suas previsões para o crescimento econômico global este ano para 2,4% de 2,2%. Mas, a reabertura da China também representa um risco para a economia global. A liberação da demanda reprimida pode elevar o preço do petróleo e de outras commodities, o que pode voltar a exercer pressão sobre a inflação global. Consequentemente, os bancos centrais podem se ver forçados a manter as taxas de juros altas, o que teria impacto no crescimento. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.