10/Mar/2023
Segundo o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), a condução da política monetária brasileira pelo Banco Central seguirá desafiadora, com o cenário internacional, as incertezas sobre a condução da política fiscal e as pressões políticas sobre a autoridade monetária. O cenário externo aponta para a necessidade de um ciclo mais forte de elevação dos juros norte-americanos, pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), o que diminuirá o espaço para o Banco Central do Brasil reduzir a taxa básica Selic (hoje em 13,75% ao ano). No quadro doméstico, com a inflação pressionada e as expectativas de inflação em elevação, não há espaço para o Banco Central afrouxar a política monetária.
O mais provável é que ele não vai afrouxar a política monetária sem uma justificativa muito boa. Diante de sinalizações da equipe econômica do governo federal, principalmente no sentido de buscar aumentos da arrecadação tributária, o Banco Central poderá fazer ajustes em seu "balanço de riscos" desenhado em seus comunicados, mas não há atalhos. Nada substitui um ajuste fiscal robusto, que significa levar ao extremo a coordenação de políticas e o ajuste é no fiscal. O problema é que há pouco otimismo com a possibilidade de o atual governo federal caminhar no sentido de um ajuste, cujas esperanças estão depositadas no novo arcabouço de regras fiscais, que está para ser anunciado pelo Ministério da Fazenda. A proposta da equipe econômica deverá ser "mais uma promessa".
E, na ausência de algum método que consiga conter os gastos, o governo está tentando aumentar arrecadação tributária. Com isso, as expectativas de inflação seguem subindo, desancoradas. As cotações dos títulos da dívida pública, que apontariam inflação implícita de 6,3%, estão muito longe da meta. O mercado está dizendo que não acredita que a inflação vai cair nem para baixo do teto da meta. Esse é o desafio do Banco Central. Para piorar, a pressão política sobre o Banco Central, com líderes do governo criticando o nível atual da taxa básica de juros, poderá surtir efeito e levar a um afrouxamento da política monetária fora de hora, desde que a economia desacelere o suficiente. Como o atual governo poderá indicar um novo presidente do Banco Central no fim de 2024, as pressões políticas poderão aumentar ainda mais, reduzindo a capacidade da autoridade monetária de "ancorar" a inflação.
Neste caso, o País caminharia para um cenário de inflação mais alta, um cenário mais de ‘estagflação’. Porém, alguma pressão política sobre o Banco Central poderá funcionar, mas seus efeitos ficariam restritos a ajustes no "balanço de riscos". Um afrouxamento da política monetária dependeria de dados mais concretos sobre alívios nas pressões inflacionárias. O problema é que esses sinais de alívio na inflação estão longe de aparecer. Ao longo do ano passado, com a reabertura da economia, a inflação de serviços acelerou. E a dinâmica de preços de serviços é mais difícil de ser combatida. No fim do ano passado, os dados do mercado de trabalho no Brasil mostraram aceleração forte de salários, o que serve de combustível para a inflação de serviços. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.