24/Mar/2023
Em meio a pressões crescentes do governo Lula pela queda nos juros, mas ainda no escuro em relação à proposta da equipe econômica de âncora fiscal que vai substituir o atual teto de gastos, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano pela quinta vez seguida. No comunicado divulgado no fim da reunião, o colegiado não só não deu sinais de que pode antecipar o início de um ciclo de redução dos juros, como repetiu que existe a possibilidade de voltar a aumentar a Selic caso o processo de desinflação não transcorra como esperado. A Selic permanece no maior patamar desde janeiro de 2017. O Copom enfatizou que a incerteza nos cenários avaliados força o Banco Central a continuar vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação.
Diferentemente do comunicado anterior, porém, a autoridade monetária não citou dessa vez a possibilidade de estacionar a Selic por mais tempo que o previsto em seu cenário de referência. Após a volta parcial da tributação sobre a gasolina, no começo de março, a equipe econômica dobrou a cobrança por uma sinalização do Copom sobre o início do corte da Selic. No mercado financeiro, a expectativa é de que isso ainda possa ocorrer a partir do segundo semestre. O Copom até citou a reoneração dos combustíveis como responsável por reduzir a incerteza sobre os resultados fiscais de curto prazo, mas disse que permanecem alguns fatores de risco: a maior persistência das pressões inflacionárias globais; as dúvidas sobre o novo arcabouço fiscal no País e seu impacto na trajetória da dívida pública; e um aumento das expectativas de inflação para prazos mais longos.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central é “muito preocupante”. Ele citou relatório divulgado mais cedo pelo governo que projeta uma situação mais favorável para as contas públicas. O Copom chega a sinalizar até a possibilidade de uma subida da taxa de juros, que já é hoje a mais alta do mundo. No relatório, a área econômica melhorou a estimativa de rombo das contas públicas em 2023. A projeção de déficit primário (despesas que ultrapassaram as receitas, sem contar o pagamento de juros da dívida) recuou de R$ 228,1 bilhões para R$ 107,6 bilhões, o equivalente a 1% do PIB. A depender das futuras decisões do Banco Central, o resultado fiscal pode ser comprometido.
O ministro ainda sinalizou que espera que a ata do Copom (que será divulgada na próxima semana) atenue o tom. Horas antes de o Copom definir a taxa básica de juros, o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), disse que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, presta um “desserviço” à população ao manter em 13,75% a Selic. Ele antecipou que o governo já tinha uma reação ensaiada caso o juro não caísse (temor que se confirmou): redobrar as críticas a Campos Neto. A economia está sendo asfixiada. O comércio está sendo asfixiado em seu financiamento. O Brasil passa por uma crise de crédito. Não é explicável essa posição do Banco Central de ficar irredutível a uma taxa tão exorbitante de juros. Ou o mundo inteiro está errado e só o Banco Central brasileiro está certo, concluiu Rui Costa. Outros líderes petistas também atacaram o chefe do Banco Central.
Na avaliação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a decisão do Copom pela manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano é equivocada. O cenário atual indica que o Copom já deveria ter reduzido a Selic nesta reunião e a expectativa agora é de que o processo de redução dos juros tenha início no próximo encontro do comitê, nos dias 2 e 3 de maio. A manutenção da taxa de juros é, neste momento, desnecessária para o combate à inflação e apenas traz custos adicionais para a atividade econômica. A taxa básica de juros no patamar atual foi um dos fatores determinantes para a desaceleração da atividade econômica no final de 2022, com destaque para a retração de 0,2% no PIB (Produto Interno Bruto) do último trimestre. E seguirá sendo um limitador significativo para o crescimento da atividade em 2023, quando as previsões para o PIB indicam alta de apenas 0,88%, segundo o Boletim Focus. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.