06/Abr/2023
Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), no relatório Perspectiva Econômica Mundial (WEO) divulgado nesta quarta-feira (05/04), o Brasil e grandes economias emergentes como China e Índia estão sujeitos a perdas severas de produção no longo prazo por conta da realocação do Investimento Estrangeiro Direto (IED) como reflexo do aumento das tensões geopolíticas e uma maior fragmentação no mundo. As nações avançadas também não estão imunes, o que reforça a necessidade de formuladores de políticas equilibrarem as motivações estratégicas que levam à preferência por fazer negócios em casa ou com países amigos. Interrupções na cadeia de suprimentos e as crescentes tensões geopolíticas na esteira da Covid-19 e da guerra na Ucrânia podem remodelar a geografia do IED e, por sua vez, afetar a economia mundial. A realocação do destino dos recursos pode causar uma perda de 2% à produção global no longo prazo.
Os países emergentes tendem a ser mais impactados uma vez que os investimentos estrangeiros diretos vêm de nações desenvolvidas e que estão mais próximas umas das outras. O grupo de países particularmente vulneráveis inclui algumas grandes economias de mercados emergentes como Brasil, China e Índia, mas também várias outras, sugerindo que a fragmentação do IED provavelmente será um problema para um grande conjunto de países. O Brasil foi o sétimo destino preferido dos investidores internacionais que buscaram países emergentes para alocar seus recursos no ano passado, de acordo com ranking da consultoria internacional Kearney. Melhor colocado na América Latina, o País perde para nações como China, Índia, Emirados Árabes Unidos, Catar, Tailândia e Arábia Saudita. Neste ano, o IED, que foi rebatizado para Investimento Direto no País (IDP), começou forte, mas perdeu fôlego no Brasil.
O País recebeu US$ 6,5 bilhões em fevereiro, um tombo de quase 40% em relação aos US$ 10,8 bilhões registrados em igual intervalo do ano passado, segundo o Banco Central. Em janeiro, o montante havia sido de US$ 6,9 bilhões. Os impactos da fragmentação do investimento estrangeiro para um grande conjunto de países exigem uma defesa robusta da integração global. O aumento nas tensões políticas pode não se restringir ao IED, mas desencadear uma grande realocação de fluxos de capital em nível global. Uma economia global fragmentada provavelmente será mais pobre. Os custos econômicos da fragmentação dos investimentos estrangeiros reforçam a necessidade de formuladores de políticas equilibrarem de forma cuidadosa as motivações estratégicas por trás do reshoring e do friend-shoring, ou seja, da priorização de fazer negócios, produzir domesticamente ou apenas com países amigos. As nações precisam pesar os impactos para as suas próprias economias e os efeitos colaterais a outros países.
O FMI defende ainda a adoção de estratégias integradas entre as nações para minimizar as perdas que podem vir a reboque de um mundo mais fragmentado na esteira da Covid-19 e da invasão russa à Ucrânia. Como a incerteza política amplifica as perdas decorrentes da fragmentação, ações multilaterais devem ser tomadas para minimizar essa incerteza, inclusive melhorando o compartilhamento de informações por meio do diálogo multilateral. O aumento de tensões geopolíticas e da fragmentação econômica são sérias ameaças à estabilidade financeira. Os formuladores de políticas devem manter monitoramento contínuo para identificação de possíveis riscos e testes de estresse para minimizá-los, principalmente, no caso de países emergentes, que tendem a ser mais afetados. As crescentes tensões geopolíticas intensificaram as preocupações sobre a fragmentação econômica e financeira global. As tensões geopolíticas aumentaram globalmente nos últimos anos em meio à deterioração dos laços diplomáticos entre os Estados Unidos e a China, e a invasão da Rússia à Ucrânia.
Fatores geopolíticos podem já estar influenciando o cenário econômico e financeiro global. Nos últimos anos, por exemplo, o comércio global diminuiu, após a imposição de restrições à troca de bens e serviços por parte de grandes economias. Além disso, as relações geopolíticas também são importantes sob a ótica da alocação de recursos, com investidores geralmente destinando parcela menor de capital para nações com perspectivas de política externa mais distantes de seu país de origem, o que poderia causar uma reversão repentina de fluxos de capital transfronteiriços. Tal efeito pode ser mais pronunciado para mercados emergentes e em desenvolvimento do que nas economias avançadas. Os efeitos da maior tensão geopolítica podem representar riscos para a estabilidade macrofinanceira, com elevação dos custos de financiamento dos bancos, redução de sua lucratividade e da oferta de crédito ao setor privado.
Foi feito um alerta para os impactos na alocação de capital, nos sistemas de pagamentos e preços dos ativos. Os fundos de investimento são particularmente sensíveis a tensões geopolíticas e tendem a reduzir as alocações transfronteiriças, nomeadamente a países com perspectivas de política externa divergentes. A piora na relação entre dois países, equivalente ao tratamento entre os Estados Unidos e a China nas Nações Unidas (ONU) desde 2016, poderia reduzir a carteira bilateral transfronteiriça e a alocação bancária em cerca de 15%. Um aumento das tensões geopolíticas pode ter implicações adversas para a estabilidade macrofinanceira. Os formuladores de políticas devem estar cientes dos riscos potenciais de estabilidade financeira também associados ao aumento das tensões geopolíticas. Nesse sentido, a sugestão é o investimento em recursos à sua identificação, quantificação, gestão e mitigação.
Com base nas avaliações de riscos geopolíticos, bancos e instituições financeiras não bancárias podem precisar manter reservas adequadas de capital e liquidez para mitigar as consequências adversas dos crescentes riscos geopolíticos. Diante das crescentes tensões geopolíticas, é importante preservar a segurança financeira global por fortes níveis de reservas internacionais mantidas por países, acordos financeiros bilaterais e regionais e linhas de crédito preventivas de instituições financeiras internacionais. Dados os riscos significativos para a estabilidade macrofinanceira global, os países devem envidar todos os esforços para fortalecer o engajamento e o diálogo para resolver diplomaticamente as tensões geopolíticas e prevenir a fragmentação econômica e financeira. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.