17/Abr/2023
A proposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que o Brasil e parceiros comerciais negociem em suas próprias moedas, sem passar pelo dólar, e até de criar uma moeda do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o chamado banco dos Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) repercutiu nas reuniões de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, em Washington (EUA). A medida é vista como viável, mas com uma série de ressalvas e que incluem dificuldades de aceitação, arranjos diplomáticos com os Estados Unidos, pesados investimentos e tempo de estrada da moeda no mercado financeiro internacional, a exemplo da profundidade da divisa norte-americana. A provocação de Lula esquentou um tema que é alvo de debates no comércio internacional há décadas, com várias moedas tentando roubar a posição de dominância do dólar. Os casos mais lembrados são o euro e o chinês yuan.
Nesse sentido, o Brasil teve conversas recentes com a Argentina em uma nova tentativa de lançar uma moeda comum aos países latinos, embora em uma abordagem diferente da feita pelo presidente na China. Na parte final de seu discurso em Xangai, na quinta-feira (13/04), em um trecho que não constava da versão oficial de sua fala, Lula questionou por que os países não fazem comércio em sua própria moeda. Ele questionou por que um banco como os Brics não pode ter uma moeda que possa financiar a relação comercial entre Brasil e China e entre Brasil e outros países. Lula defendeu apressar a mudança no comércio dos países emergentes. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a possibilidade do comércio em moedas locais é concreta e as conversas podem avançar, embora seja um trabalho complexo. Uma das tarefas que Lula pretende deixar é que os bancos multilaterais dos quais o Brasil faz parte possam servir de catalisadores desses processos de alternativa às moedas tradicionais, como euro e dólar, que respondem pela maior parte do comércio internacional.
Fernando Haddad não acredita que a ideia de Lula vá comprometer a relação do Brasil com os Estados Unidos. As transações em dólar vão continuar acontecendo, mas em casos específicos, onde os parceiros são muito fortes, pode-se pensar em mecanismos mais condizentes, como, por exemplo, o crescente comércio entre Brasil e China. O FMI afirmou que a ideia de adotar uma outra moeda como substituta ao dólar no comércio internacional é viável. Contudo, a proposta demanda muitos investimentos, fora a dificuldade de se afastar do "ecossistema" já baseado na divisa norte-americana. A predominância do dólar resulta de uma prática do mercado. É muito difícil se afastar desse ecossistema, porque é preciso criar muitas estruturas de apoio. A XP Investimentos lembra que existem razões para a dominância do dólar, citando a sua confiabilidade no comércio internacional, fácil aceitação e profundidade no sistema financeiro global.
Trocar o dólar por outra moeda nas tratativas comerciais pode não facilitar tanto. Por exemplo: uma empresa que faz negócios com a China e recebe yuan não necessariamente vai conseguir utilizá-lo com outros países como o dólar. Pode ser uma possibilidade do comércio bilateral, mas não necessariamente é com outros países. Antes mesmo da provocação de Lula, questionamentos em torno do risco de queda da dominância do dólar pelo yuan nas tratativas internacionais já circulavam nas 'Spring Meetings', em Washington. O FMI vê um maior uso da moeda chinesa à frente, mas não o suficiente para desbancar a norte-americana. Neste momento, o dólar norte-americano é a moeda dominante, não apenas para o comércio, mas também para os mercados de capitais. Sobre riscos à estabilidade financeira com a ascensão do yuan, o tema está sendo direcionado de maneira adequada. À medida que as instituições são bem regulamentadas, os riscos para a estabilidade financeira devem ser contidos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.