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11/Mai/2023

Agenda Verde: entrevista com sócio da EB Capital

A gestora de recursos EB Capital, dos sócios Eduardo Sirotsky Melzer, Luciana Ribeiro e Pedro Parente, está se preparando para dar largada a uma nova série de investimentos em economia verde. Para a gestora, a troca de governo ajudou a posicionar novamente o Brasil como um polo amigável aos negócios sustentáveis. O atual governo mostra um esforço para a reinserção do Brasil na economia mundial a partir da compreensão de que a transição para uma economia sustentável no mundo passa pelos temas em que o Brasil tem uma liderança natural. Os governos e as empresas estão colocando mais dinheiro em soluções para combater problemas em comum a todos os países.

Entram aí: combate ao aquecimento do clima, descontaminação das águas, incremento à produção de alimentos e substituição de combustíveis fósseis por renováveis. Esses são os grandes problemas da humanidade, e as soluções passam, necessariamente, pelo Brasil. Isso é o que explica os próximos investimentos que estão em preparação pela gestora. A EB Capital firmou parceria recente com a Colibri Capital para investirem, juntas, R$ 2 bilhões em energia solar. Além disso, a gestora está preparando a sua entrada na área de biogás e pretende aprofundar os aportes no setor de reciclagem de materiais.

A EB Capital concluiu a captação de pouco mais de R$ 1 bilhão para um fundo que fará diversos aportes em empresas com negócios sustentáveis. Uma das prioridades é o setor de reciclagem. Ano passado, o grupo comprou o controle da Green PCR, recicladora de garrafas e embalagens de plástico do tipo pet. O dinheiro do fundo seria usado para a compra de outras empresas de recicláveis, numa consolidação do setor. A EB Capital tem experiência na construção de plataformas setoriais. A gestora é dona da Alloha, holding que comprou diversos provedores de banda larga até se tornar a maior empresa do setor depois das grandes teles Vivo, Claro e Oi. Ao todo, a EB tem R$ 5 bilhões de recursos sob gestão. Segue a entrevista:

Qual a visão da EB Capital sobre a atratividade do Brasil para novos investimentos?

Eduardo Sirotsky Melzer: Existem duas variáveis muito fortes que podem proporcionar um ambiente muitíssimo positivo para o Brasil. Uma delas é macroeconômica e a outra é geopolítica. Na parte macroeconômica, o Brasil é juridicamente competente, tem condições de rumar para a responsabilidade fiscal, a taxa de juros decrescente, a inflação sob controle e um ambiente de negócios potencialmente favorável. A segunda variável é a questão geopolítica. Estamos falando da transição da economia mundial para um patamar sustentável. Essa transição necessariamente passa pelo Brasil, desde que tenha estabilidade aqui. O aspecto geopolítico me anima muito. Na EB Capital, estamos fazendo todos os esforços para contribuir para essa direção.

Quais os diferenciais do Brasil dentro desse contexto?

Eduardo Sirotsky Melzer: Os grandes desafios mundiais são mudança climática, crise energética, escassez de água e de alimentos. Já o Brasil tem recursos naturais abundantes, capacidade intensa de produção alternativa de energia, como solar, eólica e de biomassa. Além disso, é a maior fonte de água doce do mundo e tem a quarta maior agroindústria. O País tem tradição na produção de etanol e pode liderar a produção de combustível verde para aviação. São muitas oportunidades.

Esses diferenciais não vêm de hoje. O que torna o Brasil mais atrativo para os negócios sustentáveis neste momento?

Eduardo Sirotsky Melzer: Tem uma coisa importante: o atual governo é a favor dos temas da pauta geopolítica que podem favorecer o Brasil. O governo compreende que a transição da economia passa por elementos nos quais o País tem uma liderança natural. Não quero fazer declaração de cunho político, mas é preciso reconhecer que, na perspectiva internacional, o Brasil está reinserido na agenda a partir de uma crença deste governo.

Que agenda é essa? O que foi demonstrado pelo governo na prática?

Eduardo Sirotsky Melzer: Em primeiro lugar, há o reconhecimento de que existem esses problemas. O atual governo respeita a necessidade de combater as mudanças climáticas e está procurando criar mecanismos para levantar soluções. Isso já é um avanço super relevante, porque possibilita um diálogo diferente do que vinha acontecendo antes e anima os investidores. Olha o exemplo do pacote verde que o (ministro da Fazenda) Fernando Haddad está criando (O "pacote verde" inclui incentivos para o mercado de crédito de carbono, produção de painéis solares e ampliação da participação de produtos da floresta nas exportações, entre outros pontos). Nessa transição da economia mundial, o Brasil oferece um ambiente absolutamente fértil e positivo.

Nas reuniões com investidores lá fora, já existe a percepção de reinserção do Brasil na agenda?

Eduardo Sirotsky Melzer: Estamos observando um interesse crescente pelo Brasil, sim. Mas ainda tem uma desconfiança grande. Tem uma certa preocupação se o País vai cumprir com sua agenda.

Qual o peso da incerteza sobre os rumos dos juros neste momento?

Eduardo Sirotsky Melzer: Se o governo comprovar que vai, sim, buscar o equilíbrio fiscal e que há um ambiente político organizado, o Brasil terá grandes oportunidades de atrair investimentos. Tem uma porrada de desafios por aqui? Tem, mas o mundo também tem. Nos Estados Unidos, os empreendedores nunca tiveram de lidar com inflação e taxa de juros tão alta como agora. Nós já estamos acostumados a isso, temos capacidade de produção e reinvenção relevante. Claro que juro alto não é bom, mas aprendemos a lidar com isso geração após geração.

Mais empresários têm defendido que o Banco Central reduza os juros. Qual sua posição?

Eduardo Sirotsky Melzer: Eu também defendo. O prêmio de risco no Brasil ainda é muito elevado. O País não precisa disso para atrair capital. Mas tem de baixar os juros com responsabilidade. Isso tem de ser feito com outras coisas concomitantes, como controle da inflação e fiscal. O Brasil precisa provar que gasta menos do que arrecada. Também é preciso mostrar que a agenda populista não vai prevalecer.

Fonte: Broadcast Agro.