23/Mai/2023
No momento em que se discute a volta dos chamados “carros populares” na tentativa de aumentar o acesso de parte da população ao automóvel novo e ajudar a indústria automobilística na busca por recuperar o mercado que tinha antes da pandemia, o País tem como campeões de venda os utilitários-esportivos. A categoria de SUVs, como são conhecidos, caiu no gosto dos brasileiros com maior poder de compra e hoje representa quase metade dos negócios de veículos novos. Todos os modelos à venda custam mais de R$ 100 mil. Por vários anos, os líderes de mercado eram os “populares”, depois rebatizados de “carros de entrada” por serem os mais baratos de cada marca. O segmento detinha 31,3% das vendas em 2012, ano em que as vendas de automóveis somaram 3,1 milhões de unidades. Neste ano, até abril, a fatia é de 9,3%.
Por outro lado, a participação dos SUVs saltou de 8,8% para 46,4% de 2012 para cá. Atualmente, há mais de 100 veículos desse tipo no País entre nacionais e importados, de acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). A produção local de SUVs também vem crescendo. Em 2012, havia 12 modelos nacionais e hoje há 31, com preços que partem de R$ 101 mil (Fiat Pulse) e vão a R$ 610 mil (BMW X4). Os importados têm preços que passam de R$ 1 milhão. Paralelamente, só há dois carros “de entrada” em oferta, o Fiat Mobi e o Renault Kwid, ambos por R$ 69 mil. Há dez anos eram oito opções: Volkswagen Gol, Fiat Uno e Palio, Chevrolet Celta, Ford Ka, Peugeot 207, Renault Clio e Toyota Etios. A mudança do perfil do mercado ocorre por várias razões. Entre elas estão as novas leis de segurança e emissões, que passaram a exigir itens como airbags e freios ABS em todos os novos carros, além de tecnologias para redução de consumo.
Com a obrigação de novos equipamentos, o custo de produção e venda dos carros aumentou bastante. Somado a juros altos, desemprego e queda da renda, uma camada significativa da população ficou excluída do mercado de carros novos. A falta de componentes (especialmente de chips) acirrada pela pandemia também ajudou na alta dos custos, assim como problemas de logística (preço de frete, falta de contêineres etc). De acordo com o Banco Central, o juro médio para a compra de veículos está em 28,6% ao ano (dado de março), o mais alto em mais de dez anos. Com a inadimplência acima de 5%, os bancos também estão restritivos na liberação de crédito. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), essa taxa de juros é incompatível com o crescimento da indústria e com a geração de empregos.
Há uma demanda reprimida de consumidores que poderiam comprar um “carro popular” se o preço for reduzido. O governo promete anunciar nesta quinta-feira (25/05) um pacote de medidas para reativar o setor industrial. No caso da indústria automobilística são esperadas decisões para baixar o preço dos carros “de entrada” para uma faixa de R$ 50 mil a R$ 60 mil. Também pode ter alguma medida para modelos de até R$ 100 mil. Para chegar a essa faixa no “carro popular” são necessários incentivos como corte de alíquotas de impostos federais e estaduais, redução de margens de lucro de montadoras e concessionárias e retirada de alguns itens como multimídia e ar-condicionado. Também são esperados juros menores e prazos mais longos para os financiamentos, mas isso vai depender principalmente dos bancos públicos. Para a consultoria Tendências, ainda que se consiga chegar aos preços sugeridos pelo governo, o consumidor seguirá esbarrando na falta de opções de modelos “de entrada”.
Na faixa superior, a de hatches compactos, há mais variedade, como Chevrolet Onix, Hyundai HB20 e Volkswagen Polo, todos com preços na faixa de R$ 70 mil a R$ 80 mil. A maioria das montadoras está focando seus lançamentos em SUVs ou modelos mais equipados porque o lucro é maior. Dependendo das medidas a serem anunciadas, as fabricantes podem lançar versões mais baratas de SUVs, movimento que já vem ocorrendo nos últimos anos com o aumento da produção local. O crescimento do mercado de SUVs é uma tendência mundial. Vem ocorrendo também no Brasil há cerca de dez anos e deverá continuar, pois os próprios consumidores estão migrando para esse tipo de veículo, visto como mais espaçoso, versátil, com design moderno e percebido por muitos como mais seguro. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.