04/Sep/2023
A China tem um plano para uma ordem global alternativa à arquitetada no pós-guerra pelas democracias Ocidentais. Em tese, a chamada “Iniciativa de Desenvolvimento Global” é generosa. O mundo precisa de “harmonia entre o homem e a natureza”, disse o líder chinês Xi Jinping à ONU, acrescentando que o desenvolvimento econômico deve beneficiar a todos. Na prática, o governo chinês utiliza seu poder econômicos para arregimentar países em desenvolvimento e ampliar sua influência em fóruns internacionais a fim de criar um mundo amigável ao seu modelo autocrático. No ano passado, por exemplo, logo após o Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU apontar “sérias violações aos direitos humanos” de minorias muçulmanas em Xinjiang, o governo chinês mobilizou um plantel de países em desenvolvimento para derrubar uma moção solicitando debate sobre esses abusos.
Na sequência, alistou 66 membros, a maioria receptores de empréstimos pela Nova Rota da Seda, para apoiar uma declaração celebrando conquistas chinesas nos direitos humanos. A expansão do Brics ilustra a opacidade e a arbitrariedade dessas transações. O que vem ocorrendo em Hong Kong mostra como essa opacidade e arbitrariedade operam sem os freios e contrapesos das relações internacionais. Este ano é o 26º desde que Hong Kong foi devolvida pelo Reino Unido à China sob a condição de que até 2047 ela gozaria de autonomia, princípios democráticos e liberdades fundamentais, sob o modelo “um país, dois sistemas”. Foi também o segundo ano desde que a China impôs uma Lei de Segurança Nacional sobre Hong Kong. Um relatório da União Europeia catalogou seus desdobramentos.
Políticos pró-democracia foram impedidos de concorrer às eleições, quando não exilados ou presos, junto com centenas de ativistas e jornalistas. A submissão não foi totalmente consumada. Os cidadãos de Hong Kong ainda dispõem de liberdades inimagináveis na China continental. As redes sociais não estão obliteradas pela “muralha digital” e a censura a livros ou jornais é mais contida. Mas, o relatório identifica novas pressões sobre universidades, sindicatos e ONGs. Advertências contra uma “resistência branda” são usadas para intimidar os cidadãos. O drama de Hong Kong expõe não só o descompromisso da China com seus próprios pactos, mas sua hipocrisia.
Autoridades querem fazer crer que Hong Kong continua aberta aos negócios, e alardeiam seu comprometimento em manter o sistema de common-law e um Judiciário independente. Mas, a Justiça fechou as portas do principal jornal pró-democracia e condenou seu fundador, alegando irregularidades “comerciais”. Em resumo, a China quer os bônus de esmagar os direitos e liberdades que fizeram de Hong Kong um centro global de comércio e finanças sem nenhum ônus. Os empresários que creem que os negócios ficarão imunes a um sistema legal viciado o fazem por sua conta e risco. Já a comunidade internacional tem o desafio de encontrar meios de mostrar à China que a quebra de compromissos internacionais não pode ficar impune. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.