05/Sep/2023
O governo da China anunciou a criação de um novo órgão para incentivar o setor privado, uma medida para reforçar a confiança entre os empresários, num momento em que um profundo receio se instala na segunda maior economia do mundo. A Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China (NDRC), o principal órgão responsável pelo planejamento econômico do país, informou nesta segunda-feira (04/09), a criação de um gabinete para coordenar as políticas dos diferentes órgãos estatais e ajudar o desenvolvimento da economia privada, a fonte da maior parte dos novos empregos e do dinamismo econômico do país. O novo departamento terá a tarefa de monitorar a economia privada do país e estabelecer canais de comunicação regulares com empresas privada.
Uma série de pacotes de políticas adotadas desde julho mostra a urgência dos esforços do governo chinês para impulsionar as empresas privadas em dificuldades e para conter os riscos sistêmicos na economia. Numa tentativa de impedir uma queda prolongada no mercado de ações, os reguladores reduziram para metade o "imposto de selo", cobrado em cada transação com ações, e restringiram as vendas de participações por parte dos principais acionistas, provocando recuperações temporárias. Também relaxaram as restrições à compra de imóveis residenciais, e os bancos chineses reduziram as taxas de poupança para fazer com que os consumidores sacassem os níveis históricos de poupança existentes.
Alguns economistas afirmam que a China ainda não fez o suficiente para desencadear uma recuperação econômica e que é necessário um pacote maior e mais amplo de medidas de estímulo para restaurar a confiança dos consumidores e das empresas do setor privado. O investimento do setor privado da China caiu 0,5% nos primeiros sete meses do ano, aprofundando a queda de 0,2% no período janeiro a junho. Ao contrário do recém-formado gabinete nacional de dados, que também está sob a égide da NDRC, o novo departamento não terá patamar de vice ministério, sugerindo que é pouco provável que se torne um peso pesado numa vasta burocracia governamental que há muito favorece as poderosas empresas estatais do país. Segundo a CreditSights, não está claro se a agência será capaz de influenciar as agendas de outros órgãos governamentais, uma vez que eles têm prioridades diferentes.
Para o Grupo Macquarie, por si só, o novo departamento está longe de ser suficiente para trazer de volta o espírito ‘animal’. Os tomadores de decisões políticas têm de adotar medidas concretas em duas frentes: enviar sinais mais fortes às empresas privadas e tornar a recuperação pós-covid da China mais forte e mais sustentável. O governo chinês está ansioso por assinalar sua mudança para uma postura política mais pró-empresarial, com as autoridades dizendo repetidamente que tanto o setor privado como o público são indispensáveis. Isso se segue a uma repressão de agências reguladoras que durou dois anos, visando principalmente empresas online de consumo, o setor de escolas particulares e o setor imobiliário, bem como as medidas rigorosas para conter a Covid-19, levando a um fraco fluxo de investimento e a uma baixa confiança dos consumidores.
O governo parece também tentar impulsionar o crescimento por meio do investimento, uma alavanca política há muito favorecida. Os reguladores em várias províncias e regiões reduziram barreiras e oferecem subsídios para atrair novos investimentos. Alguns governos locais também reduziram a fiscalização regulatória e exploraram formas de estabelecer sistemas regulatórios "prudenciais" para as empresas. Executivos e analistas esperam que o governo continue a incentivar as empresas privadas em indústrias consideradas estrategicamente importantes para o Estado, como a indústria de transformação de alta qualidade, as energias renováveis e a agricultura. A retórica política de dar mais apoio às empresas privadas é encorajadora, mas são necessárias medidas concretas e um quadro regulatório mais previsível, baseado em regras e bem comunicado antes que a confiança seja restaurada para tomar empréstimos e investir. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.