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05/Sep/2023

Brasil: salários voltam a subir após 2 anos de queda

Num cenário de baixo desemprego, os salários deverão voltar a crescer no Brasil em 2023, após dois anos seguidos de queda. De acordo com a consultoria Tendências, a previsão é de uma alta de 3,9% nos ganhos neste ano, o que representa um importante sinal de recuperação do estrago provocado no mercado de trabalho durante a pandemia de Covid-19. Em 2021 e 2022, as quedas observadas foram de 7% e 1%, respectivamente. O crescimento dos salários é observado em praticamente todos as regiões do País. No segundo trimestre, houve melhora em 24 Estados e no Distrito Federal na comparação com o mesmo período de 2022. Apenas o Acre teve uma pequena queda, e o Rio Grande do Norte, estabilidade. A projeção para os vencimentos tem como base o rendimento médio real habitual no trabalho principal, calculado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua trimestral.

Desconsidera, portanto, as transferências do programa Bolsa Família, benefícios previdenciários e outras fontes de renda, como o seguro-desemprego. No entanto, esses programas e benefícios acabam tendo reflexo indireto nos salários. De forma geral, os Estados das Regiões Nordeste e Centro-Oeste têm se destacado. A maior alta foi observada no Piauí (21%), seguida de Goiás (15%) e Pernambuco (14%). Os Estados do Centro-Oeste têm se beneficiado, sobretudo, pela alta dos salários na construção, enquanto o Nordeste apresenta uma melhora influenciada pelos reajustes do setor público. As duas regiões ainda se beneficiam do desempenho do comércio e do agronegócio, sobretudo na região do Matopiba (Mato Grosso, Tocantins, Piauí e Bahia). Vale pontuar que, apesar do crescimento relativamente superior no último ano, o rendimento médio do trabalho na Região Nordeste segue 1,5% inferior ao patamar de antes da pandemia.

O quadro positivo para os indicadores de renda do trabalho, portanto, camufla a heterogeneidade econômica do País, marcada pela distribuição desigual dos rendimentos entre os trabalhadores. Enquanto o salário médio da Região Centro-Oeste é de R$ 3.309,00, o salário da Região Nordeste mantém-se em R$ 1.914,00. De acordo com a FGV Social, de maneira geral, incluindo formais, informais, desempregados, inativos e crianças, a renda per capita familiar está no pico, mas próxima do período pré-recessão brasileira em 2014 e pré-Covid, em 2019. Essa melhora, no entanto, não foi igual para todos. A renda dos homens teve um avanço maior do que a das mulheres. Entre todos os Estados e o Distrito Federal, o Piauí é o que tem observado o maior crescimento dos salários. A alta foi de 21% no segundo trimestre deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado, subindo de R$ 1.799,00 para R$ 2.174,00.

Com uma taxa de desemprego de 9,7%, o Piauí tem um mercado de trabalho influenciado por uma combinação de fatores. Um deles é o aumento daqueles que saem do contingente de trabalhadores assalariados, para receber o Bolsa Família. Esse movimento é feito, sobretudo, pelos trabalhadores menos qualificados, o que faz com que a média salarial suba; os mais bem remunerados continuam em suas vagas. Entre o segundo trimestre de 2022 e o mesmo período deste ano, o número de trabalhadores que deixou o mercado cresceu de 1,204 milhão para 1,270 milhão. Segundo a Universidade Federal do Piauí (UFPI), tem pessoas que saem do mercado de trabalho por causa do Bolsa Família, mas esse movimento é só uma parte da explicação. A outra parte tem a ver com o desalento, com uma população que busca emprego, mas, em algum momento, por várias razões, deixa de procurar. Há ainda um outro fator: são as pessoas que acabam saindo da força de trabalho para estudar ou se tornam os ‘nem-nem’ (nem estudam nem trabalham).

A FGV Social agrega outros fatores a essa explicação. O resultado é reflexo da expansão de programas sociais e das aposentadorias no Estado. O Piauí é o segundo Estado brasileiro com a maior proporção de pessoas que moram com idosos. Além disso, em 2022 o Estado tinha o maior valor de Bolsa Família (ou similar) por habitante: R$ 52,38 (a média nacional era R$ 23,42). Cada R$ 1,00 a mais de Bolsa Família, o PIB cresce R$ 1,78. De alguma forma, isso também acaba tendo reflexos indiretos nos salários, já que impulsiona o comércio e o setor de serviços da região. Para completar a lista de fatores que explicam o resultado do Piauí, o Estado faz parte da fronteira agrícola denominada Matopiba (Mato Grosso, Tocantins, Piauí e Bahia), que tem tido bons resultados nos últimos anos. O investimento privado também tem participação nesse resultado. O Estado tem hoje quase R$ 27 bilhões em parques eólicos em operação comercial ou teste, segundo dados da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica).

Além disso, há outros R$ 17 bilhões em projetos em construção no Piauí. O efeito multiplicador é grande. Para cada R$ 1,00 investido, o PIB ganha R$ 2,90. Um estudo divulgado recentemente mostra que houve aumento de 20% no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do Nordeste e um crescimento de 21% do PIB na região desde a chegada dos parques eólicos. Ou seja, as obras acabam movimentando pequenos negócios das cidades, que tendem a gerar mais renda. No caso das eólicas, muitos projetos envolvem o arrendamento das terras onde serão construídas as torres e rendem uma remuneração muitas vezes "polpuda" para os proprietários. A energia solar é outra que também tem atraído investimentos para o Piauí. Hoje, o Estado é o terceiro maior em número de usinas em operação (1.466 MW), atrás apenas de Minas Gerais e Bahia, segundo dados da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar). Outros 1.085 MW estão em construção.

Quanto à Goiás, o avanço dos salários está muito associado à riqueza do agronegócio. A região tem atraído investimentos de empresas interessadas em oferecer novos serviços para essa população endinheirada. Isso inclui desde consultorias e empresas de investimentos até construtoras, que querem levar mais luxo e conforto para a região. Houve no Estado aumento salarial em todos os grupamentos de atividade pesquisados pelo IBGE. A maior alta foi no de informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (avanço de 27%). Na sequência, apareceram construção (25%) e indústria geral (19%). O agronegócio tem sido a solução para o País e para a região, com uma elevada geração de emprego. O que poderia ser um problema, com aumento da desigualdade social no campo, não tem ocorrido. Hoje, a Região Centro-Oeste, maior produtora agrícola do País, é a segunda região com menor desigualdade do trabalho. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.