13/Sep/2023
Mesmo com o comportamento benigno da inflação em agosto, economistas do mercado financeiro ainda veem como cenário mais provável que o IPCA de 2023 fique acima do teto da meta, de 4,75%. O risco de um novo aumento de combustíveis pela Petrobras e os impactos do El Niño sobre os preços de alimentos indicam que o Banco Central poderá descumprir o alvo pelo terceiro ano seguido. Desde o último reajuste de preços pela estatal, em 16 de agosto, os preços do petróleo avançaram entre 8,6% (Brent) e 10% (WTI), na esteira de cortes na produção da commodity pela Rússia e Arábia Saudita. Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), os preços domésticos de gasolina estavam 10% abaixo dos internacionais na segunda-feira (11/09). Os do diesel eram 17% menores.
Para a G5 Partners, comparando com dois ou três meses atrás, ficou mais difícil ver o IPCA abaixo do teto da meta, principalmente por causa dos preços do petróleo. No meio do ano, a G5 chegou a trabalhar com petróleo abaixo de US$ 80,00 por barril e com o dólar em R$ 4,70, mas, ao longo de agosto, mudou completamente o cenário. O Banco BMG afirma que a defasagem nos preços de combustíveis pode levar a Petrobras a promover um reajuste de até 10% nos preços da gasolina nas refinarias, com impacto de 0,2% no IPCA de 2023. Sem contemplar esse acréscimo, a previsão para inflação é de 5% este ano, já 0,25% acima do teto da meta. Não há mais o PPI (paridade dos preços de importação) como base, então é difícil antecipar com precisão. Mas, esse aumento de 10% não compensaria completamente a defasagem.
Seria algo parecido com o último reajuste, em que a diferença para os preços internacionais era de 20% a 25%, e a elevação no preço para as refinarias foi de 16%. A Garde Asset prevê inflação de 4,75% este ano, sem impacto de um novo ajuste nos preços de combustíveis. Apesar da alta dos preços do petróleo, a gasolina caiu entre 1,5% e 2% nos mercados internacionais desde a última alta anunciada pela Petrobras, o que limita a pressão por elevações dos preços domésticos. Caso os preços de derivados comecem a subir, o cenário mais provável é de um aumento em torno de 5% nos preços da gasolina nas refinarias, com impacto de 0,12% sobre o IPCA deste ano. Um cenário menos provável é de alta de 10%, que poderia representar acréscimo de até 0,25% na inflação de 2023.
Outro foco de atenção sobre os preços de combustíveis é o possível impacto do Projeto de Lei Complementar (PLP) 136 de 2023, que pode levar a um aumento da alíquota fixa de ICMS sobre a gasolina, hoje de R$ 1,22 por litro. A Warren Rena destacou que a aprovação da medida significa que os Estados terão a liberdade de alterar a cobrança. O preço do petróleo a US$ 90,00 por barril pode incentivar os Estados a aumentarem alíquota ad rem. Quando a ad rem foi discutida, o preço do petróleo estava em US$ 75,00 por barril. Para a Garde Asset, o período necessário para a tramitação do projeto faz do PLP 136 um risco maior para a inflação de 2024 do que de 2023. Na hipótese de um aumento da alíquota para um nível próximo do que se cobrava anteriormente, o impacto será de até 0,3% sobre a inflação. No ano que vem, o IPCA deve ficar em 3,80%.
A Constância Investimentos manteve a expectativa de IPCA de 5,1% este ano e de 4,2% no próximo após a surpresa baixista com o dado de agosto. A projeção já considera um aumento de 5% nos preços da gasolina nas refinarias, mas a Petrobras também tem ajustado preços de querosene de aviação, com impacto altista sobre passagens aéreas, e os dados sugerem que o El Niño deste ano não será moderado. Os relatórios semanais de desvio de temperatura já mostram um El Niño acima do nível considerado forte e piorando na margem, o que pode piorar a perspectiva. E já é possível a ver impactos climáticos na Região Sul do Brasil. Juntando todos esses fatores, dificilmente dá para ser otimista. O BMG espera um impacto de "de moderado a intenso" do El Niño sobre os preços de alimentos, mas que deverá ser sentido apenas em 2024. O IPCA deve ficar em 3,7% no ano que vem, mas a inflação pode chegar até a 4,5%, a depender do comportamento de alimentos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.