18/Sep/2023
Os indicadores da China publicados na sexta-feira (15/09) dão alguns motivos para se acreditar que a economia do país ganha impulso. Os consumidores gastam mais livremente em veículos e smartphones e destinaram bastante dinheiro a viagens no verão local, o que ajudou a fazer a inflação a voltar, após deflação vista em julho. A taxa de desemprego urbano teve modesta baixa no mês passado, na primeira queda desde abril, e a produção industrial acelerou ganhos. As divulgações de sexta-feira (15/09) ocorrem após números acima do esperado em novos empréstimos para bancos, bem como com a terceira melhoria mensal seguida na atividade industrial. A atividade deve ainda ganhar mais fôlego, com cortes nas taxas de juros e políticas relacionadas ao setor de moradia ajudando a economia real. Ainda assim, os céticos advertem que é cedo para dizer se esses sinais positivos perdurarão, e dizem que o governo chinês precisa impulsionar e disseminar estímulos para impedir desaceleração no longo prazo.
Alguns economistas dizem que qualquer avanço de curto prazo apenas ‘mascara’ os desafios estruturais da China, da piora no quadro demográfico ao menor fôlego no crescimento da produtividade, que devem definir a perspectiva econômica do país nos próximos anos. Os modelos de crescimento do país seguem dependentes de investimentos financiados pelo governo em infraestrutura, com a contribuição do consumo inferior à média global. Choques do estouro da bolha imobiliária continuam a pesar nos investimentos e na perspectiva de crescimento no curto prazo. No mais recente sinal de preocupação, o Banco do Povo da China (PBoC) reduziu o compulsório bancário. A medida se seguiu a uma série de medidas de relaxamento das últimas semanas, voltadas a impulsionar a venda de residências. Após a publicação de indicadores e ante as recentes medidas de relaxamento, o JPMorgan projeta que a economia chinesa crescerá 5,0% em 2023. Antes, projetava 4,8%.
Ao mesmo tempo, adverte que nenhuma das políticas se qualifica como um grande estímulo, sendo encorajadoras, mas não suficientes para mudar o quadro. A China estabeleceu em março meta de crescimento de cerca de 5% neste ano, considerada outrora conservadora. Muitos economistas veem a meta ainda alcançável, mas Nomura e Barclays cortaram nas últimas semanas suas projeções para abaixo de 5%. Alguns dos dados recentes sugerem que uma recuperação cíclica pode ter começado. As vendas no varejo avançaram 4,6% em agosto, na comparação anual. As condições no mercado de trabalho parecem melhorar, com a taxa de desemprego urbano em baixa de 5,3% em julho a 5,2% em agosto. O investimento em manufaturas e em infraestrutura também acelerou, diante de apoio fiscal. Mas se, e o quão rápido o mercado imobiliário pode estabilizar, segue como o maior fator a se observar na recuperação da China.
O grande setor imobiliário local, que já representou 25% do PIB chinês, mostra fraqueza há mais de um ano. As novas construções iniciadas de moradias nos oito primeiros meses de 2023 recuaram quase 25%, na comparação com igual período de 2022. O recuo nos investimentos em propriedades se aprofundou em agosto, e os preços das casas caíram em 52 das 70 maiores cidades do país, mostraram dados de sexta-feira (15/09), ante 49 em julho. Outra nuvem no ritmo da recuperação é o quão resiliente deve se mostrar o gasto do consumidor em serviços. Além disso, a taxa de desemprego entre os jovens estava em 21,3% em junho, antes de o governo parar de publicar o dado, o que lança dúvidas sobre a capacidade de gasto dessa fatia da população. Economistas acreditam que o governo chinês pode dar mais apoio nos próximos meses, com cortes nos juros e mais políticas para impulsionar a venda de casas.
O Société Générale avalia que, depois da fraqueza vista em julho, os dados de agosto de atividade da China mostraram uma bem-vinda melhora de base disseminada. O setor industrial e os investimentos em manufatura voltaram a ganhar impulso, enquanto as exportações mostraram sinais de estabilização. O crescimento do crédito de novo acelera, graças a um impulso fiscal mais forte, enquanto o Banco do Povo da China (PBoC) intervém para garantir liquidez, como com o corte no compulsório na semana passada. Desde o fim de agosto, os formuladores de política local têm reforçado um relaxamento incremental para apoiar o setor imobiliário e a demanda doméstica. Mas, incremental não significa insignificante. Os passos recentes, sobretudo os voltados ao mercado imobiliário e para a aceleração fiscal, têm se mostrado mais significativos que medidas anteriores.
O impacto cumulativo dessas medidas incrementais pode ser suficiente para estabilizar o crescimento em algum momento. Os dados de agosto sugerem que a China não está muito distante desse ponto agora. Contudo, a chance de uma recuperação forte e sustentada continua a ser baixa, em meio a um processo de lenta desalavancagem pelo qual a China passa. O ING observa alguns focos de melhora na atividade na economia da China, ao avaliar os indicadores mais recentes e o quadro no país. O quadro econômico geral chinês ainda enfrenta desafios, mas há alguns sinais positivos, mesmo que com o mercado imobiliário "ainda lutando". Quanto à postura recente do PBoC, não há sinais de pânico. Após cortar o compulsório, uma redução no instrumento de empréstimo de médio prazo de 1 ano (MLF) seria visto como um sinal de excesso de temor, mas o PBoC manteve essa taxa.
Ao observar o dado de preços de moradias mais recente, o ING considera que o setor continua a enfrentar dificuldades. Porém, os dados divulgados na sexta-feira (15/09) indicam um cenário mais positivo. Após ajustes, as vendas no varejo mostram crescimento, enquanto a produção industrial também melhorou. Segundo o Commerzbank, o crescimento econômico parece melhorar na China, a julgar por dados de produção industrial, vendas no varejo e investimento em ativos fixos. O PBoC cortou compulsório bancário e as taxas de juros interbancários na semana passada, o que apoia a liquidez. As medidas mais recentes de relaxamento devem ajudar o crescimento a ganhar impulso nos próximos meses, embora provavelmente a uma taxa mais fraca que no passado. O crescimento parece ter ganhado impulso e se estabilizado. Já os investimentos em ativos fixos continuam a mostrar fraqueza, diante das dificuldades no setor imobiliário. A inflação ao consumidor subiu 0,1% em agosto, após recuar 0,3% em julho, na comparação anual.
Isso sugere que a deflação de julho foi temporária. Uma deflação arraigada seria um problema. Até agora, este não é o caso para a China. O crescimento no crédito foi mais forte que o esperado em agosto, provavelmente refletindo o recente relaxamento monetário. As exportações caíram em agosto na comparação anual (8,8%), mas menos que a queda de 14,5% vista em julho. Neste caso, a melhora pode não significar muito, caso a demanda externa siga fraca. O Commerzbank avalia que o estímulo mais direcionado atual ajuda, mas não muda totalmente o quadro. As medidas devem ajudar nos próximos meses a apoiar o crescimento, mas em ritmo mais fraco que no passado. Nesse contexto, o banco cortou sua projeção para crescimento da China em 2023, a 4,8% em 2023 e a 4,0% em 2024, para refletir a perda de fôlego que é em grande medida estrutural e considera que a maioria dos problemas atuais do país é relacionado à fraqueza do setor imobiliário. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.