18/Sep/2023
Quanto mais se aproxima o primeiro turno da eleição presidencial da Argentina, em 22 de outubro, maior o volume de benesses fiscais anunciadas ao eleitorado pelo ministro da Economia, Sergio Massa, o candidato do governo peronista à Casa Rosada. Em se tratando de um país sem arrecadação suficiente para cobrir nem mesmo gastos obrigatórios, os pacotes de bondades só se explicam pelo temor do peronismo de derrota nas urnas. Grave é o fato de tal conduta repetir o modelo baseado na gestão irresponsável da macroeconomia, em soluções improvisadas e no descompromisso com o interesse maior dos argentinos que, ao longo de quatro décadas, empurram o país à falência, ao descrédito internacional e à escalada da pobreza. Como a maioria de seus antecessores na pasta da Economia, Massa preferiu a fórmula do desastre argentino a um receituário econômico minimamente responsável, ainda que eleitoralmente inviável.
Recentemente, ao conhecer-se a taxa de inflação de 124,4% nos 12 meses encerrados em agosto, o ministro anunciou a devolução de 21% do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) recolhido por aposentados, microempreendedores e trabalhadores domésticos. Ampliou também os benefícios do cartão alimentação e a oferta de crédito subsidiado. Já havia reduzido para apenas 90 mil o contingente de pessoas físicas sujeitas ao Imposto de Renda, congelado preços de bebidas e alimentos e obrigado o governo nacional, as províncias e o setor privado a pagar bônus aos trabalhadores. Cobertas por emissões de pesos sem lastro no Banco Central, tais benesses inevitavelmente agravam as expectativas de inflação e elevam o endividamento público de um país campeão em moratórias. Consultorias argentinas estimam que 2023 se encerre com taxa de inflação acumulada de mais de 170% e recuo de 3% a 3,5% no Produto Interno Bruto (PIB), além da reserva internacional esvaziada. A meta de déficit fiscal de 2,5% do PIB acertada pelo governo peronista com o Fundo Monetário Internacional (FMI) já foi para o espaço, graças às medidas eleitoreiras.
O saldo negativo deve superar 10% do PIB. Se o FMI já surpreendeu ao liberar mais de US$ 7,5 bilhões para a Argentina em agosto, depois da desvalorização cambial, um novo desembolso no fim de outubro será um milagre. O caos econômico já são favas contadas a partir de dezembro, quando o novo governo toma posse, e recairá com chumbo sobre os 40% mais pobres da população do país. A escalada nas pesquisas de seu oponente de extrema direita, Javier Milei, um defensor da dolarização que soube captar o anseio coletivo pela destituição da classe governante desde 1985, não justifica as atitudes de Massa. Como homem público e ministro de Estado, teria obrigação de priorizar o interesse dos argentinos pela estabilidade e de romper com o padrão de irresponsabilidade na gestão macroeconômica do país. Ao abdicar dessa missão, o peronista diz muito sobre o presidente que se propõe a ser. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.