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03/Oct/2023

Demanda mundial de alimentos e equilíbrio ambiental

Segundo estudos recentes da OCDE e da FAO, o consumo mundial de alimentos vai crescer 21,3% nos próximos dez anos, como resultado do aumento da população, do crescimento econômico e da urbanização. Em 2025, a população global chegará a 8 bilhões de pessoas e em 2050 a 9,5 bilhões, com o previsível aumento da renda per capita e do consumo per capita de alimentos. O aumento da demanda mundial determinará a expansão da fronteira agrícola, para o aumento da oferta de alimentos, de acordo com a FAO. Somente a América Latina e a África Subsaariana terão disponibilidade de terra e água para permitir o crescimento da produção de alimentos a fim de atender ao incremento do consumo global. A China e os Estados Unidos, por limitação de terra e de água, apesar de serem os dois maiores exportadores de produtos alimentícios, não poderão atender ao mercado em expansão. O Brasil com 8,4% do comércio global (terceiro maior exportador), se espera, possa atender em cerca de 40% o crescimento da demanda global. Em 2022, a produção agrícola brasileira bateu recorde alcançando 322 milhões de toneladas. Este ano, a produção ficou pouco abaixo por razões climáticas.

O Brasil desponta como o grande supridor global de produtos de alimentação nas próximas décadas, tendo de intensificar a produção agrícola de forma sustentável e ao mesmo tempo reduzir suas emissões de gás carbônico. Assim, surge uma grande oportunidade para o agro nacional no comércio internacional, mas também um grande desafio. Como responder às restrições protecionistas aos produtos agrícolas como as proibições de importação de uma lista de produtos (café, soja, cacau, carne bovina, azeite de palma, madeira, borracha, carvão vegetal e produtos derivados, como couro, chocolate e móveis) provenientes de áreas desmatadas, que começam a ser impostas como parte da política ambiental europeia? Como conciliar a necessidade de ampliação da oferta de produtos alimentícios com o equilíbrio ambiental? O meio ambiente e a mudança de clima tornaram-se temas globais que despertam a atenção de todo o mundo. O Brasil assumiu compromissos internacionais no acordo da ONU de 1992 (NDC) e no Acordo de Paris de 2015 sobre eliminação do desmatamento e sobre redução de emissões de gás de efeito estufa, que devem ser implementados.

A partir deste ano, o atual governo colocou o meio ambiente e a mudança de clima no centro da política externa e da política econômica. Nas próximas reuniões do G20 em 2024 e da COP30 em 2025, esses temas vão ser incluídos como prioridade nas agendas dessas organizações. Para o Brasil, a conciliação entre o interesse em ampliar a área plantada e a preservação do meio ambiente e a redução do desmatamento tem de ser alcançada pela combinação de políticas públicas e ações do setor agrícola privado. Em termos de políticas públicas, a vontade política tem de ser demonstrada na rigorosa fiscalização para reprimir os ilícitos, sobretudo na Amazônia, e a implementação de medidas concretas derivadas de leis regulamentos já existentes e de outras políticas que foram aprovadas mais recentemente.

A execução do Código Florestal, no tocante à reserva legal e ao cadastro rural, deve ser completada, o plano de agricultura de baixo carbono, a concessão de pastagens degradadas, o pagamento de serviços ambientais, o financiamento de agricultura de baixo carbono, o monitoramento das florestas por meio de equipamentos geoespaciais e o Plano de Transformação Ecológica, a nova política verde anunciada pelo Ministério da Fazenda, e a regulamentação do mercado de carbono são algumas das políticas que promoverão a sustentabilidade ambiental com impacto positivo para a produção agrícola. Quanto às estratégias empresariais privadas, novas técnicas permitirão o aumento da produtividade e da área plantada. O compromisso de seguir a legislação ambiental de forma estrita, e a implementação de compromisso voluntário como a moratória da soja e o acordo sobre pecuária são muito importantes. Recentemente, foi noticiado que uma indústria deixou de comprar soja de área de desmate ilegal na Amazônia e no Cerrado. O aproveitamento das políticas de concessão de florestas, de regeneração de florestas degradadas, do mercado de carbono e a nova política verde da Fazenda oferecerão oportunidades de benéficos financeiros ao setor do agro.

A integração lavoura-pecuária-florestas deveria ser o objetivo, sem esquecer a participação também na bioenergia, com a participação da produção de etanol a partir de cereais (trigo) e da cana-de-açúcar. As preocupações com o meio ambiente e a preservação das florestas devem ser vistas como uma oportunidade de crescimento para o agronegócio e não como uma limitação da produção. O Brasil não tem alternativa: deverá alinhar os sistemas de produção de alimentos e sua estratégia agrícolas com as contribuições nacionalmente determinadas (NDC), planos nacionais de adaptação e planos nacionais para a biodiversidade. A integração da segurança alimentar com a agricultura sustentável nas políticas nacionais, incluindo as de adaptação e mitigação de mudanças de clima, responderá ao desafio externo e aos objetivos de crescente presença nos mercados internacionais, inclusive no comércio de produtos alimentícios. Fonte: Rubens Barbosa. Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo). Broadcast Agro.