10/Oct/2023
Israel e Palestina são países de território relativamente pequeno e, juntos, não chegam a 15 milhões de habitantes. Mas a guerra declarada pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, após ataque do grupo Hamas a Israel, na Faixa de Gaza, no sábado (07/10), pode ter efeitos importantes sobre a economia global. A grande questão está na localização destes territórios, o Oriente Médio, e nos países que apoiam os dois lados: Estados Unidos, do lado israelense, e Irã, com a Palestina. Para começar, a região está colada a grandes produtores de petróleo, como Arábia Saudita, Emirados Árabes e Catar. E isso significa que os investidores devem embutir o risco da guerra nos preços da commodity. Provavelmente o barril de petróleo irá subir. E, se isso acontecer, todo o esforço do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e dos Estados Unidos para domar a inflação estará sob perigo.
O fato é que, caso o petróleo realmente suba, os investidores irão continuar colocando pressão sobre os juros norte-americanos. A alta dos yields dos Treasuries significa, necessariamente, queda de ativos de risco, como bolsas, e a penalização de ativos emergentes, inclusive os brasileiros. O conflito não deve se alastrar pela região envolvendo outros países, mas só a possibilidade de isso poder acontecer já mostra que a preferência pela liquidez dos agentes deve subir, fazendo com que ativos livres de risco avancem, como é o caso do dólar. Dito isso, há um segundo fato que pode afetar os juros norte-americanos. Os Estados Unidos prometeram apoio a Israel, que já é a maior potência militar da região, o que pode significar a necessidade de ampliar os gastos militares no momento em que o governo luta para convencer o Congresso a elevar, por maior tempo, o teto da dívida, garantindo o pagamento de gastos.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, conversou com Netanyahu e reafirmou o compromisso com a segurança israelense. O problema é que, segundo economistas têm alertado há tempos, a dívida dos Estados Unidos está se tornando insustentável, o que acaba pressionando ainda mais o retorno dos Treasuries, visto que o investidor cobra mais prêmios quanto maior é o risco de um ativo. Se os Estados Unidos estão de um lado, é de se esperar que, além do Irã, a Rússia também estará do outro. Acontece que a Rússia já está em uma guerra na Ucrânia, enfrentando dificuldades econômicas e sofrendo sanções que encarecem os preços globais por afetarem as exportações do país a outras nações. A leitura de analistas, até agora, é de que esse promete ser outro conflito longo (o da Ucrânia já dura mais de um ano e meio), o que manterá o nível de risco, em maior ou menor grau, em patamares mais elevados. E caso tudo isso se confirme, por mais que a distância geográfica do Brasil para Israel e Palestina seja significativa e que a posição política em conflitos não seja grande preocupação, a economia brasileira também deve sentir os efeitos.
Afinal, os preços dos combustíveis no Brasil poderão ser reajustados se o petróleo subir, o que afeta a inflação corrente e as expectativas. Além disso, a busca por segurança pode pressionar o dólar para cima e encarecer as importações. Nos últimos dias, a curva de juros já passou a indicar menor espaço para corte de juros, tanto pelo cenário norte-americano quanto pelo risco fiscal brasileiro. Uma deterioração das expectativas de inflação contaminaria ainda mais o quadro para o Banco Central, afetando outras variáveis econômicas no médio prazo. Contudo, olhando para o médio prazo, a situação não é necessariamente ruim para o Brasil. A depender como o Itamaraty conduza a crise internacional, o Brasil pode se manter como um lugar suficientemente distante de todo esse 'ruído'. Logo, em termos relativos, o País pode se beneficiar. O problema é que o Brasil não deve conseguir guardar muita distância do tema, por estar na presidência do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU).
Ao reiterar que não há justificativa para o recurso à violência, sobretudo contra civis, o governo brasileiro exorta todas as partes a exercerem máxima contenção a fim de evitar a escalada da situação. O governo brasileiro reitera seu compromisso com a solução de dois Estados, com Palestina e Israel convivendo em paz e segurança, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas. Reafirma, ainda, que a mera gestão do conflito não constitui alternativa viável para o encaminhamento da questão israelo-palestina, sendo urgente a retomada das negociações de paz. Mas, os envolvidos no conflito parecem distantes dessa visão. "O inimigo pagará um preço sem precedentes", afirmou Netanyahu, prometendo que Israel "devolveria os ataques em uma magnitude que o inimigo não conhece". Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.