11/Oct/2023
Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), no Relatório Sobre a Estabilidade Financeira Mundial, publicado nesta terça-feira (10/10), a economia mundial segue exposta a riscos negativos. Embora as preocupações com o setor bancário tenham se dissipado, os temores, agora, estão na outra ponta: as elevadas taxas de juros dificultam a vida financeira de empresas e pessoas físicas e podem levar a uma onda de calotes global. Os riscos para a estabilidade financeira permanecem, portanto, elevados, como aconteceu em abril. Nos últimos dois anos, os bancos centrais capitanearam o processo de aperto monetário mais forte do mundo em décadas, debruçados na luta contra a disparada da inflação na esteira de choques como a pandemia e a guerra na Ucrânia. No caso das economias avançadas, as taxas foram elevadas em 400 pontos-base em média, enquanto nas emergentes, o salto foi de 650 pontos-base desde o fim de 2021.
E, apesar disso, os bancos centrais podem ainda não ter vencido a luta contra a inflação. Embora as economias estejam conseguindo absorver os efeitos de uma política monetária mais restritiva, o núcleo da inflação, que exclui os voláteis preços de energia e alimentos, segue resistente, principalmente nos Estados Unidos e na Europa. E, por sua vez, o índice de custo de vida segue distante da meta. Os principais bancos centrais podem, portanto, precisar manter as taxas de juros mais altas por mais tempo. No setor corporativo, as empresas estão tendo de ‘queimar’ caixa à medida que os lucros se reduzem e o custo da dívida sobe diante dos juros altos. O ambiente é mais preocupante nos mercados emergentes, nos quais cresce o número de negócios que têm dificuldade para honrar os seus compromissos financeiros, o que tem pressionado o aumento da inadimplência.
Estes problemas irão provavelmente piorar no próximo ano, à medida que mais de US$ 5,5 bilhões em dívidas corporativas vencerem, calcula o FMI, utilizando-se de dados da consultoria norte-americana Dealogic. A maioria dos vencimentos está centrada nos Estados Unidos e nas economias avançadas. Mercados emergentes e a China devem responder pelo restante, cerca de US$ 1,3 bilhões. O orçamento familiar também preocupa. O excesso de poupança visto em economias avançadas encolheu de forma constante desde que bateu o pico de 8% do Produto Interno Bruto (PIB) no início do ano passado. Há sinais de aumento da inadimplência em cartões de crédito e empréstimos para aquisição de automóveis. Esses "ventos contrários" também impactam o setor imobiliário, que já sofre outro efeito dos juros altos, na demanda por financiamentos.
As taxas de juros elevadas desafiam os bancos centrais, empresas, pessoas físicas, mas também os governos. Países na fronteira e de baixa renda têm tido dificuldade para obter empréstimos no mercado internacional, em dólar, euro, iene e libra esterlina, às medidas que os investidores exigem prêmios, ou seja, taxas, mais altas. As emissões de bonds têm ocorrido a taxas muito mais elevadas. No entanto, o perigo não reside apenas nas economias de baixa renda. As preocupações com a dívida soberana também afetam os mercados desenvolvidos, como revelou o recente aperto monetário global. As economias emergentes não enfrentam, em grande parte, esta situação, dados os melhores fundamentos econômicos e a saúde financeira. Apesar disso, o fluxo de investimento estrangeiro para estes países tem se reduzido. Nos últimos meses, montantes significativos deixaram a China em meio a problemas crescentes no setor imobiliário local que diminuem o apetite dos investidores.
O Banco Central Europeu (BCE) afirmou que o processo de recuperação econômica pode ser destruído em uma semana em função de guerras, independente do país envolvido. Isto porque os conflitos geram choques e impactam as cadeias globais. O BCE destacou os benefícios econômicos de resoluções políticas de conflitos e das estratégias de "friend-shoring" ou "near-shoring" para crescimento mútuo entre países parceiros, em um cenário geopolítico incerto. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.