11/Oct/2023
A teoria econômica sugere que países pobres tendem a convergir aos níveis de renda dos ricos. Há décadas isso acontece no Leste da Ásia, mas não na América Latina. Por que não? E como romper essa estagnação? Foram questões enfrentadas numa análise do G30, um instituto global, com sede em Washington (EUA), formado por lideranças econômicas de setores públicos, privados e da academia. Desde os anos 70, países com renda per capita similar à dos latino-americanos cresceram o dobro. A escolaridade cresceu em ambos os grupos, mas a América Latina teve taxas bem menores de investimento e produtividade. A principal explicação é a má alocação de recursos. Primeiro, entre empresas de um mesmo setor. Políticas mal desenhadas, que restringem excessivamente contratações e demissões; incentivam empresas a se manterem pequenas e informais; ou que sobretaxam setores produtivos e subsidiam improdutivos, canalizam recursos de empresas de alta produtividade às de baixa produtividade.
Depois, há a má alocação entre setores, especialmente entre bens exportáveis e o resto. Países com exportações diversificadas tendem a crescer de modo mais rápido e sustentável, entre outras razões pelas habilidades necessárias para produzir um conjunto complexo de bens. Mas desde os anos 2000 a complexidade na América Latina oscila entre estagnada e declinante, como no Brasil. Nesse panorama, há especificidades. O G30 diagnostica quatro “síndromes” de baixo crescimento. Primeiro, há os países com macroinstabilidade endêmica, como Argentina ou Venezuela, marcados por hiperinflação, crescimento volátil e dívida insustentável. Segundo, há os com macroestabilidade, como Chile, Colômbia ou Uruguai, mas cujas falhas de governos e mercados, bem como os investimentos de baixo retorno, têm levado à desaceleração. Há o caso peculiar do México, que goza de uma indústria sofisticada, mas que está estagnado por má alocação na produtividade, disparidades regionais, narcoviolência e deterioração institucional.
Há, por fim, a síndrome brasileira. O “custo Brasil”, resultante de protecionismo, subinvestimento em infraestrutura, educação precária, alta informalidade do trabalho, subsídios a privilegiados, burocracia paquidérmica e corrupção, é pesado. Mas, o problema de fundo é caracterizado por déficits orçamentários endêmicos, juros altos e pouca poupança. O Brasil não crescerá em bases sustentáveis a menos que conserte seu problema fiscal secular. Mas, como as reformas tributária ou administrativa evidenciam, todas as áreas de ajustes potenciais são ‘possuídas’ por algum grupo influente. Países da América Latina também têm desafios relativos à sua governança política. Suas democracias estão mais bem ranqueadas que as da África, Oriente Médio e Ásia, mas há um consistente retrocesso da democracia e da qualidade das instituições de governo. A confiança entre os cidadãos caiu, bem como nas instituições, minando a capacidade do Estado e nutrindo o populismo.
Um caminho alternativo é possível, mas exigirá bons políticos, boa política e sorte. A conjuntura global oferece o que se poderia chamar de “sorte”. A descarbonização, combinada a uma região farta em sol, ventos, minérios e água, e a necessidade das democracias ricas de realocar fornecedores a países amistosos e próximos, combinada às oportunidades comerciais oferecidas pelas novas tecnologias, podem ser o combustível necessário para a revitalização latino-americana. Mas, mesmo o mais potente combustível é inútil numa máquina disfuncional. Sem vontade política e cívica capaz de definir e organizar prioridades, como a reforma dos serviços públicos, a alocação produtiva ou a diversificação das exportações, o natural é que a economia e os resultados distribucionais medíocres continuem a envenenar o poço da desconfiança mútua, tornando a política mais fragmentada, as eleições mais polarizadas e a capacidade de fazer escolhas difíceis, do tipo que impõem custos agora e benefícios à frente, ainda mais reduzida. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.