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17/Oct/2023

“Policrise” global obscurece o cenário econômico

O conflito entre Israel e o Grupo Hamas às vésperas das reuniões anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial obscureceu as previsões da comunidade econômica nos encontros em Marrakesh, no Marrocos, afetado há cerca de um mês por um forte terremoto. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, definiu o momento como uma "policrise". Citado pela primeira vez em 1970, o termo foi popularizado pelo historiador britânico Adam Tooze, da Universidade de Columbia, para descrever a conjunção de múltiplas crises. Segundo a Haddad, existem várias crises em curso, que operam em diferentes níveis, reforçando-se e amplificando-se mutuamente. A guerra no Oriente Médio reforçou a preocupação da comunidade econômica mundial em um cenário já considerado desafiador por conta dos juros elevados e de temores de ressurgimento da inflação. O FMI e o Banco Mundial afirmaram que monitoram os desdobramentos do conflito, mas que ainda é cedo para prever o impacto econômico.

Os investidores estão muito receosos com a guerra. Ninguém sabe se vai escalar e quanto, sem contar os juros nos Estados Unidos. Segundo o FMI, a guerra Israel-Hamas ameaça obscurecer uma perspectiva econômica global já sombria. Muito claramente, esta é uma nova ‘nuvem’ no horizonte não mais seguro para a economia mundial, que escurece este horizonte. Além da perda de vidas, preocupa a comunidade internacional o impacto no mercado de petróleo em um momento em que as economias lutam para controlar a inflação que disparou na esteira da pandemia e da guerra na Ucrânia. Os preços da commodity subiram mais de 7% na última semana, com o Brent voltando a superar a marca de US$ 90,00 por barril. O FMI estima que um salto de 10% nos preços do petróleo poderia impulsionar a inflação global em 0,4% no ano. Em termos econômicos, o impacto seria de uma redução de 0,2% no Produto Interno Bruto (PIB) global anual. O conflito representa potenciais riscos e poderiam gerar impacto na produção de petróleo na região.

Sabe-se que o potencial de causar danos é enorme, mas ainda não é possível saber a extensão pelo tempo decorrido. Qualquer que seja o cenário, vai ter algum impacto, afirmou Fernando Haddad. O Banco Mundial alertou que as guerras são extremamente desafiadoras para os bancos centrais, que já enfrentam uma situação difícil para conseguir um "pouso suave" em meio aos juros elevados. É uma tragédia humanitária e um choque econômico de que o mundo não precisava. O temor com o conflito se contrapôs, porém, com a expectativa de melhora dos preços. Tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, a sinalização foi de que, ainda que não tenham mais aumentos de juros nessas economias, a inflação vai cair e convergir para a meta em dois anos. No caso do Brasil, o FMI estima que a inflação no Brasil se reduza para 4,7% depois de bater o pico de 9,3% no ano passado. Para 2024, o indicador deve ficar em 4,5%. Nesse cenário, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, espera que os juros no Brasil continuem caindo no ritmo atual, de 50 pontos-base.

A velocidade de cortes nos juros vai se manter pelo menos por algum tempo porque há espaço para se manter. O juro real no Brasil ainda está muito elevado. A fala ocorre na esteira da sinalização dada pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, a investidores. Sem mexer no seu cenário-base, ele teria indicado que as chances de desacelerar as reduções de juros são maiores do que as de acelerar. Apesar do horizonte mais obscuro, o FMI manteve as projeções de crescimento de 3% para a economia global neste ano. O FMI elevou sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro para 3,1% ante 2,1% anteriormente. No ano passado, o País cresceu 2,9%. Para 2024, porém, o ritmo de expansão deve cair pela metade, para 1,5%. Haddad está mais otimista. Para ele, o Brasil deve crescer mais de 2% no ano que vem. Se o País não tivesse uma agenda, poderia ser afetado fortemente pelo cenário externo.

Caso o Congresso aprove as medidas de R$ 168 bilhões que visam a cobrir o rombo do orçamento no ano que vem, o País conseguirá crescer mais e manter um cenário favorável para o corte nos juros. Outro tema de atenção foi quando às políticas fiscais, que ainda não voltaram ao normal da fase pré-Covid. A despeito das pressões por apoio público em um ambiente de inflação ainda elevada, a recomendação do FMI é de que os países ‘fechem as torneiras’ dos gastos para suportar a política monetária. Ao falar em fórum de emergentes, Campos Neto alertou que se os aspectos fiscais não forem endereçados, o processo de desinflação pode ser impactado. O fiscal também é uma preocupação dos investidores em relação ao Brasil. Há bastante interesse em investir no País uma vez que há um cenário complexo para buscar oportunidades no mundo. Nesse cenário, a agenda verde do Brasil chama a atenção. Mas, na outra ponta, investidores acompanham de perto o desafio do cumprimento das metas fiscais traçadas pelo time de Haddad.

Apesar disso, o FMI melhorou as projeções para o fiscal do Brasil, mas não vê o País zerando o déficit primário em relação ao PIB até 2024 como foi prometido. A resposta de Haddad é que as metas serão cumpridas com as medidas de receitas, mas que dependem de aprovação no Congresso. Num ano em que as agências de classificação de risco melhoraram a percepção sobre a economia brasileira, o País ainda tem desafios para recuperar o grau de investimento, perdido em 2015. Para retomar o selo de bom pagador, é preciso resolver a questão fiscal, reduzir o endividamento e acelerar o crescimento econômico. As economias com grau de investimento são consideradas mais seguras para investidores e, portanto, com menos risco de dar calote. Estudo realizado pelo banco Santander concluiu que, na área fiscal, a dívida brasileira é 20 pontos maior na comparação com os países que têm grau de investimento. Em 2008, quando a economia brasileira alcançou o grau de investimento, a dívida equivalia a 62,8% do Produto Interno Bruto (PIB).

Em 2023, deve encerrar em 76,5% do PIB. Hoje, o Brasil é considerado um país de elevado endividamento para uma economia emergente. Desde 2014, com exceção do ano passado, o País colheu déficits nas contas públicas (gastou mais do que arrecadou), o que elevou a dívida. A trajetória poderia ser pior, mas em 2022, com a subida dos preços das commodities no mercado internacional, a arrecadação do País melhorou e contribuiu para uma redução da dívida. A percepção de rating tem muito a ver com a perspectiva de trajetória da dívida, afirma o Santander. Neste ano, duas agências de classificação de risco melhoraram a avaliação sobre a economia brasileira. Em junho, a S&P Global revisou a perspectiva da nota de crédito BB- do Brasil, de estável para positiva. No mês seguinte, a Fitch elevou o rating soberano do País, de BB- a BB, com perspectiva estável. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.