19/Oct/2023
Todo mundo quer justiça, paz e prosperidade para todo mundo. De liberais a socialistas, democratas ou autocratas, filantropos e até terroristas, todos dizem perseguir esse fim. Só divergem nos meios. E mesmo quando há consenso, os recursos são limitados, e há que se escolher quais investimentos devolvem mais. Em 2015, as Nações Unidas estabeleceram 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) segmentados em 169 metas para 2030. Eles prometem todo bem possível e imaginável a todo mundo, da erradicação da pobreza, fome e desemprego ao impulso à pesca artesanal e produção orgânica, à paz mundial. Mas, priorizar as 169 metas é não priorizar nenhuma. Em 2023, estamos na metade do tempo, mas nem perto da metade do caminho.
Segundo a ONU, em média, elas serão atingidas meio século depois. Algumas retrocederam, outras tomarão séculos. Previsivelmente, a última cúpula dos ODS foi um festival de frustrações e recriminações. O secretário-geral, António Guterres, pleiteou mais meio trilhão de dólares ao ano. Mas isso representa só um vigésimo dos custos estimados para as metas, que os contribuintes relutarão em pagar e divergirão sobre onde e como aplicá-los. É preciso priorizar. Quais as metas mais relevantes? Quais são concretas e têm soluções à mão e quais são genéricas e dependem de arranjos complexos? Quais políticas entregam mais benefícios a menores custos? O Instituto Copenhagen Consensus reuniu 100 economistas para revisar a literatura e identificar políticas mais eficazes para a metade mais pobre do mundo.
Eles selecionaram 12, que, a cada ano, custariam US$ 35 bilhões, entregariam US$ 15,00 a cada US$ 1,00 investido, salvariam 4,2 milhões de vidas e enriqueceriam os mais pobres em US$ 1 trilhão. Entre 1900 e 2000, graças à “revolução verde” que permitiu cultivar mais com menos terra, a disponibilidade de comida per capita no mundo aumentou 50%. Uma segunda “revolução verde” geraria mais empregos e reduziria a pobreza e a fome. Poucas políticas entregariam mais que o aumento em pesquisa e desenvolvimento agrícola. As vacinas salvam mais que qualquer invenção médica, poupando 3,8 milhões de vidas ao ano. Com US$ 1,5 bilhão a mais por ano, poderiam salvar mais 4,1 milhões até 2030. Hoje, 63% das mulheres em países pobres dão à luz em hospitais. Ao custo de US$ 550 milhões ao ano, poderiam ser 90%, evitando centenas de milhares de mortes maternas e neonatais, com ganhos massivos em dividendos demográficos.
Danos físicos e cognitivos da desnutrição materna e infantil são longevos e irreversíveis. O foco nesses segmentos traz grandes impactos econômicos e cívicos. Doenças como tuberculose e malária dizimam populações pobres, mas podem ser radicalmente reduzidas com remédios simples e baratos. No mundo em desenvolvimento, os investimentos em escolarização aumentaram. Mas as crianças não estão aprendendo. Há soluções que quase independem de dinheiro. Nas classes, muitas crianças lutam para atingir o nível ensinado, outras estão acima. Se ao menos uma parcela do tempo fosse dedicada a reunir crianças do mesmo nível, ao invés da mesma idade, se poderia ganhar muito. Leitura e linguagem são chave para as outras disciplinas, e a instrução de professores com foco no letramento tem impactos robustos.
Populistas têm tido facilidade em erguer barreiras à liberalização econômica, porque ela comporta custos e perdas a certos setores. Mas, as evidências mostram que os ganhos para a sociedade são bem maiores, e podem ser reinvestidos na readaptação e inclusão dos “deixados para trás”. Assim como a Constituição brasileira, os ODS trazem promessas abrangentes e maximalistas. Idealmente, elas apontam na direção de um mundo justo, próspero e pacífico. Mas, na prática, é preciso selecionar atalhos e veículos que levam mais rapidamente a ele. Os resultados do Copenhagen Consensus podem ser questionados: outros economistas, com outras evidências, podem sugerir outras políticas. Mas de saída eles têm o valor intrínseco de exemplificar o esforço necessário para se fazer mais e melhor com menos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.