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19/Oct/2023

Fundos de private equity locais investem no agro

Grandes fundos estrangeiros de private equity, aqueles que compram participações em empresas fechadas para turbiná-las, torcem o nariz para investimentos que fogem dos grandes centros urbanos no Brasil, especialmente aqueles ligados ao agronegócio. Entre os motivos, estão a volatilidade cíclica do setor, a menor capacidade de consumo da população no interior do País, bem como a possibilidade de melhorar as companhias apenas com ferramentas de gestão. Porém, os fundos locais enxergaram aí uma avenida de oportunidades pouco exploradas, e têm aproveitado para criar grandes empresas, com a intenção de torná-las futuras campeãs na Bolsa. Algumas, já com certo porte, têm potencial para virar líderes globais em suas áreas de atuação, com o peso do Brasil na área. Segundo o Kinea, o agronegócio, do ponto de vista de crescimento para a economia brasileira, é super relevante. É a vocação natural do País, que sofre há décadas com a retração da indústria.

O gestor precisa ter a cabeça aberta para olhar setores que se destacam nos mercados locais. Se não, está deixando na mesa oportunidades interessantes. Do mesmo modo que o Kinea, fundos como o Pátria e o Aqua Capital, entre outros, têm se lançado nessa frente. Apesar de não investirem em terra ou na produção de grãos, especificamente, procuram orbitar em torno do agronegócio, e da riqueza que ele gera. A ideia é consolidar setores que são bastante pulverizados, como varejo e distribuição de produtos agrícolas, bem como novas tecnologias em torno do campo. Segundo Sebastian Popik, fundador do Aqua Capital, todo investidor gosta do agro, mas não gosta do risco do agro. O Aqua investe exclusivamente em empresas da área. O desafio é saber como ter exposição, sem estar suscetível a toda essa volatilidade. Há indústrias que estão um pouco mais amparadas, e esse é o caminho. Assim, o Aqua criou plataformas como a de distribuição de insumos agrícolas AgroGalaxy, que teve receita líquida de quase R$ 12 bilhões no ano passado e no fim do último trimestre tinha 169 lojas em 14 Estados do País.

Já o Pátria é dono da distribuidora Lavoro Agro, sua plataforma latino-americana na área, que teve receita líquida anual de R$ 7,7 bilhões até o fim de junho de 2022 e, em dezembro, tinha 215 distribuidoras no Brasil, na Colômbia e uma trading no Uruguai. Por sua vez, o Kinea tem a distribuidora de produtos pecuários Alvorada, enquanto o Pátria é dono da Agroline, também do mesmo segmento. Todos os fundos, de alguma maneira, também investem em empresas nas fronteiras tecnológicas, como produtoras de bioinsumos e análises de terra, além de outras frentes de inovação, com as quais procuram construir líderes de mercado. Nesta área, especificamente, os especialistas dizem que o Brasil está à frente de todos os países, em termos de pesquisa, desenvolvimento e uso dos produtos. O Kinea investe de R$ 200 milhões a R$ 300 milhões para comprar participações minoritárias. Com um cheque deste tamanho, a empresa já tem de ser média para grande e ser líder de uma região ou nacional, para consolidar áreas.

Apesar de serem gestoras nascidas no Brasil, grande parte dos investidores que coloca os recursos sob seus cuidados é estrangeiro. Com US$ 1,1 bilhão em gestão, o Aqua Capital, por exemplo, tem mais de 90% dos recursos provenientes de outros países. O mesmo acontece nos outros fundos. Segundo o Pátria, sempre que pensam no agro, os norte-americanos têm como padrão os seus próprios produtores: com propriedades menores e pouco capitalizadas, tocadas por pessoas mais velhas, que acabam sendo pouco rentáveis, com margem da ordem de 4%. Só que, no Brasil, essa rentabilidade gira em torno de 35% a 40%. Os motivos dizem respeito ao modelo de negócios. O produtor brasileiro, em sua grande maioria, é dono da terra e não paga pelo aluguel da propriedade, como é o caso do norte-americano. O brasileiro também tem duas, às vezes, até três safras para rentabilizar sua propriedade e, quando se coloca tudo junto, percebe-se que ele é mais resiliente porque tem margem para absorver variações de preço.

Outros pontos têm atraído esse capital estrangeiro, via fundos locais. Um são as perspectivas do setor como um todo, que mesmo com pandemia e guerras, continua crescendo. Os fundamentos são de longo prazo. O mundo precisa comer e há poucos lugares com capacidade de produção para atender à demanda. Além da consolidação de áreas, os fundos trazem profissionalização aos negócios. Nas mãos da primeira geração de fundadores, as empresas do agro têm grande espaço de crescimento apenas com a introdução de ferramentas de gestão tradicionais. Muitas vezes, porém, enfrentam resistência dos fundadores. Segundo a Lavoro Agro, no começo era mais difícil porque não havia experiência e se tinha a sensação de perda do dono: ‘antigamente a gente fazia isso dessa forma’. Mas, foi preciso aprender a lidar com isso melhor e hoje a Lavoro um time dedicado à integração de empresas, que procura garantir as transições cada vez mais suaves. Outra frente que os fundos dizem trazer está ligada à melhoria dos parâmetros de sustentabilidade.

Formalizadas, as varejistas, por exemplo, são proibidas de oferecer crédito a produtores que não tenham o Cadastro Ambiental Rural (CAR) em dia. A parte ambiental é um dos componentes que entra na concessão de crédito e 80% das vendas da Lavoro Agro são a prazo. Os fundos também têm conseguido vender, com alguma facilidade, os negócios, após dar algum porte às empresas. O Aqua Capital, por exemplo, adquiriu fatias em 50 companhias e criou 15 plataformas. Vendeu 6 delas e em um caso, o da varejista AgroGalaxy, fez um IPO (oferta inicial de ações) no qual captou R$ 350 milhões, em 2021. Apesar da oportunidade de sair do negócio, o Aqua continuou à frente da empresa. Já o Pátria abriu o capital da Lavoro na Nasdaq via um Spac, as chamadas “empresas cheque em branco”, criadas especificamente para aportar capital e levar à Bolsa companhias com potencial de crescimento.

Fechado em setembro do ano passado, o acordo avaliou a empresa em US$ 1,2 bilhão e resultou na captação de US$ 225 milhões destinados exclusivamente à companhia. Da mesma maneira, o Pátria continuou no negócio. Já o Kinea investiu na Lojas Avenida, especializada em vestuário, em 2014, de olho na riqueza gerada pelo agro para a população da Região Centro-Oeste e vendeu-a em 2021. O Kinea pegou a recessão de 2015 e 2016, pandemia e mesmo assim, vendeu a participação para um grupo sul-africano, o Pepkor, que tem mais de 5 mil lojas naquele país e está chegando em São Paulo. Não houve um grande retorno por causa do período, mas é um caso que serve para mostrar que o investidor estrangeiro de regiões que não são as usuais também olha para o interior do País. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.