07/Nov/2023
Investidores em commodities não tiveram uma jornada tranquila nos últimos anos. A economia da China, a guerra no Médio Oriente e um El Niño previsto estão entre os fatores sobre os quais os analistas se debruçam. Os futuros do petróleo bruto nos Estados Unidos ficaram brevemente negativos durante o auge da pandemia em 2020, antes de se recuperarem recentemente para mais de US$ 82,00 por barril. Os preços mundiais dos alimentos atingiram o nível mais elevado de que se tem registro no ano passado, em parte porque a guerra entre a Rússia e a Ucrânia assustou os mercados, mas caíram mais recentemente. E as matérias-primas, desde a madeira serrada ao cobre, subiram e depois caíram, à medida que as pressões inflacionistas globais e as preocupações com a recessão impulsionaram as negociações. Então, o que acontece a seguir? Especialistas indicam o que esperar nos próximos seis a nove meses.
- Quanto à Agricultura: a invasão da Ucrânia pela Rússia no ano passado fez disparar o preço dos principais cereais, uma vez que os investidores temiam que o fornecimento dos dois países, que antes da recente guerra forneciam cerca de 30% das exportações de trigo, fosse interrompido. O trigo atingiu um preço recorde de US$ 12,25 por bushel no rescaldo da invasão, em fevereiro de 2022, embora o preço tenha caído posteriormente, atingindo recentemente US$ 5,61 por bushel, de acordo com dados da FactSet. O milho também saltou durante os primeiros meses da guerra para US$ 8,18 por bushel, perto do recorde de US$ 8,31 por bushel, em 2012. Recentemente, foi negociado a US$ 4,75 por bushel. Os preços caíram devido a preocupações com a recessão e porque os problemas de abastecimento relacionados com a guerra não foram tão graves como se esperava. Mas, alguns estrategistas acreditam que a recessão poderá terminar em breve porque os preços estão se aproximando do ponto de equilíbrio da produção, ou do nível em que o custo de produção é igual à receita de um produto. Isso significa que se os preços caírem ainda mais, os produtores perderão dinheiro.
Segundo a Teucrium, fornecedora de fundos agrícolas negociados em bolsa, não se abe o quanto mais poderão cair, dado o aumento dos preços da energia. Óleo e gás, por exemplo, é um custo fundamental para os agricultores nos Estados Unidos e no exterior, e estabelece um limite mínimo para os preços, a menos que os preços da energia recuem. A guerra na Ucrânia ainda pode levar a interrupções no fornecimento e a preços mais elevados no setor dos cereais. Atualmente, ambos os lados permitem que os carregamentos de cereais passem através do Mar Negro sem obstáculos, embora isso possa mudar. O pior cenário é que nenhum grão saia do Mar Negro. Outro fator que poderá aumentar os preços agrícolas é o regresso esperado do sistema climático quente e úmido do Oceano Pacífico, conhecido como El Niño. Dado que tende a perturbar os padrões climáticos normais, o El Niño poderá levar a colheitas menores em diferentes partes do mundo. O risco para estes preços é mais substancial no sentido ascendente. Além do mais, os meteorologistas preveem um El Niño Modoki (um tipo de evento El Niño em que o aquecimento ocorre na região equatorial central do Pacífico, em vez de na região equatorial oriental).
Em 2015, um evento Modoki El Niño reduziu a produção de milho no Brasil, o terceiro maior produtor mundial de milho, em cerca de um quinto, à medida que um clima mais seco do que o habitual atingiu uma importante área de cultivo. A Hackett Financial Advisors diz que o sistema Modoki do El Niño provavelmente mudará novamente os padrões climáticos no Brasil, o que poderia afetar a produção de milho e soja. Os indivíduos que procuram lucrar com ganhos potenciais em matérias-primas poderão estar em melhor situação investindo em ETFs especializados em vez de contratos de futuros. Os contratos de futuros são altamente arriscados para os investidores individuais porque tendem a ser para grandes volumes de cada mercadoria. Por exemplo, os contratos futuros de trigo são negociados em 5.000 unidades de bushel, o que significaria um tamanho mínimo de contrato de US$ 28.050 com base no preço recente. Por outro lado, os investimentos em ETF podem ser pequenos, grandes ou algo intermediário, dependendo das necessidades do investidor.
- Quanto ao Óleo cru: qualquer pessoa que tenha um carro ou caminhão movido a gasolina sabe que os preços do petróleo subiram. O petróleo bruto de referência nos Estados Unidos custou recentemente US$ 82,00 por barril acima dos US$ 67,00 por barril de março. Mas, os preços poderiam facilmente subir. Parte do recente aumento deve-se a cortes voluntários na produção tanto da Arábia Saudita como da Rússia, dois dos maiores produtores de petróleo. Segundo a empresa de investigação financeira CFRA, esses cortes estão impulsionando muito o mercado petrolífero. Outro risco ascendente: se o recente conflito entre Israel e o Hamas se espalhar pelo Médio Oriente, poderá perturbar o fornecimento de petróleo e aumentar os preços. Até o medo de que isso aconteça poderia fazer a mesma coisa. Além disso, a procura mundial por petróleo deverá manter-se estável ou crescer no futuro imediato. Segundo a empresa de pesquisa de investimentos Third Bridge, não é provável que o consumo de combustível nos Estados Unidos mude, mesmo que haja uma recessão retardada, uma vez que o emprego é elevado.
Alto emprego significa que as pessoas irão usar mais o carro para o trabalho. Um aumento do número de veículos elétricos e de carros híbridos pode fazer uma pequena diferença em termos de redução do consumo de petróleo, mas esses veículos ainda representam uma fração do total de carros que circulam nas estradas a nível mundial, cerca de 2%, segundo dados da empresa com sede na Austrália, a PD Insurance e a Agência Internacional de Energia. Vai demorar um pouco até que os veículos elétricos ou híbridos prejudiquem materialmente o consumo de petróleo. A China, que tem enfrentado dificuldades econômicas nos últimos trimestres, apresenta outro possível impulsionador da procura. As expectativas para a trajetória de crescimento potencial da China são tão baixas que mesmo um aumento levemente maior do que o esperado na procura de energia daquele país poderia elevar os preços do petróleo. Os preços do petróleo bruto podem ficar, em média, entre US$ 95,00 e US$ 100,00 por barril em um futuro próximo.
- Quanto aos Recursos minados: a China também tem sido a força motriz por trás de grande parte da procura de metais industriais como o cobre, o alumínio, o lítio, o aço, o níquel e o zinco ao longo das últimas duas décadas, e a desaceleração na economia da China explica a razão pela qual os preços destes metais caíram ultimamente. Esses metais são usados na fabricação, principalmente em automóveis, bem como na construção. O cobre, por exemplo, foi recentemente cotado a US$ 3,66 por libra-peso, abaixo dos US$ 4,27 por libra-peso do final de janeiro, com a queda da demanda chinesa. Se a economia da China mostrar sinais de recuperação, os preços dos metais industriais provavelmente subirão. Segundo o U.S. Bank, uma recuperação dependeria em grande parte de um estímulo econômico pelo governo. Porém, há outra razão para esperar um aumento nos preços dos metais industriais: a revolução dos veículos elétricos necessitará de muitos materiais. A bateria de um carro elétrico, por exemplo, utiliza até quatro vezes mais cobre do que um veículo movido a gasolina. De forma mais ampla, o caminho para a energia limpa requer grandes quantidades de materiais extraídos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.