17/Nov/2023
O ex-vice-gerente-geral do Banco Internacional de Compensações Internacionais (BIS) Luiz Awazu afirmou que os esforços de mitigação de emissões de gases causadores do efeito estufa podem não ter efeitos rápidos o suficiente para frear as mudanças climáticas. A transição energética envolve uma desigualdade entre países que precisa ser pensada. Estratégias de adaptação vão ter que ser necessárias porque os esforços de mitigação talvez não aconteçam no tempo devido. Os dados históricos mostram que países desenvolvidos emitiram um volume de gases causadores da mudança do clima que "rouba" o espaço que países em desenvolvimento teriam para industrializar suas economias. Os países emergentes podem argumentar que espaço de emissões já foi consumido por desenvolvidos.
Além dessa desigualdade social entre diferentes países, existe uma diferença dentro das próprias nações, uma vez que diferentes camadas sociais consomem e emitem gases em proporções diferentes. Para países emergentes com pouco espaço fiscal, o financiamento à transição pode acontecer através de mecanismos de fomento multilaterais, por exemplo. Para países pobres e sem acesso a recursos, esses investimentos teriam de ser feitos a partir de doações. Ou seja: é preciso que a comunidade internacional direcione recursos a esses países. Pelo lado positivo, o mercado de títulos de dívida verdes tem crescido. O mercado de bônus verdes está hoje em US$ 1 trilhão (acumulados). O Brasil é um exemplo: o governo captou no exterior US$ 2 bilhões através de títulos sustentáveis, com demanda três vezes superior à oferta.
Já a China enfrenta um problema típico de países emergentes na transição energética: investe fortemente em fontes renováveis, mas ainda precisa de energia de origem fóssil para manter a estabilidade do fornecimento. A China é um dos países que mais investem em fontes de energia renováveis. Entretanto, a demanda energética cresce a um ritmo muito rápido que a oferta proveniente de fontes como solar e eólica, e por isso, o país tem de recorrer a fontes fósseis para assegurar a oferta. Os riscos climáticos são sistêmicos e, se nada for feito, também serão irreversíveis. Entretanto, a discussão sobre o tema não pode ser alarmista, e é preciso envolver todos os atores no combate às mudanças no clima. Como esses riscos são financeiros, os bancos centrais podem incluir a fiscalização a eles em seus mandatos.
Os países buscam organizar uma transição ordenada para a neutralidade em emissões de carbono. O discurso tem que ser muito mais propositivo do que alarmista. Os países precisam desenhar políticas de transição de riscos que envolvam tanto agentes privados quanto os do setor público. Os arranjos institucionais que estão sendo organizados após as COPs e o G20 são muito importantes, porque estão mobilizando o setor privado, o setor público, e uma série de atores importantes como os ministros da Fazenda e os bancos centrais. Os riscos expostos aos efeitos da mudança do clima estão tendo os preços redefinidos no mercado. Há uma mudança na preferência dos detentores de ativos, no sentido de buscar menores riscos.
Edifícios em Miami, nos Estados Unidos, por exemplo, hoje estão mais expostos do que antes, diante do aumento do nível do mar. Soluções para endereçar o problema mesmo sem uma regulação governamental começam a fazer efeito mundo afora. O importante é essa multiplicidade de soluções que mesmo sem atitude regulatória, estão começando a apontar para uma mudança de preferência nos detentores de ativos. A regulação, porém, não pode acontecer apenas sobre bancos e seguradoras. A regulação não é só no setor financeiro, ela tem de preocupar também com o setor real da economia. É preciso reconhecer que as ações para a transição energética levam um certo tempo para surtirem efeito. Em relação à mudança climática, não existe uma ‘bala de prata’, vários atores têm que trabalhar em sintonia.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), os esforços dos países para conter as alterações climáticas têm sido insuficientes para limitar o aumento da temperatura global em 1,5ºC e cumprir com o Acordo de Paris. As emissões de gases precisam ser reduzidas em 43% até 2030, em comparação com os níveis de 2019, para atingir a meta. Embora as emissões já não aumentem após 2030, em comparação com os níveis de 2019, ainda não demonstram a tendência descendente necessária nesta década para evitar um colapso climático. Os planos nacionais estão muito desalinhados com o que a ciência aponta como o necessário para conter a crise climática. A COP28, que acontece em Dubai a partir de 30 de novembro, precisa ser uma virada de chave na postura global. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.