29/Jan/2024
A expectativa de que o consumo na China será moderado neste ano, devido à longa crise no setor de imóveis, deve levar o país a uma inflação baixa em 2024, ou até mesmo à continuidade da deflação registrada em 2023. Embora este cenário para a China requeira um conjunto amplo de medidas de política fiscal e monetária para estimular o nível de atividade, economistas acreditam que tais ações oficiais que serão adotadas neste ano não serão tão abrangentes. A administração do presidente Xi Jinping não tem interesse em ampliar diretamente o consumo das famílias com recursos públicos e avalia que é melhor dedicá-los nos investimentos em infraestrutura, pois seriam mais importantes para o bem-estar coletivo nacional. Há um ceticismo geral dos especialistas em relação a eventuais gastos do governo chinês para incentivar a demanda agregada.
Eles estimam que o produto interno bruto neste ano deverá ter uma expansão ao redor de 4,5%, inferior à meta oficial de 5%, que poderá ser anunciada em março. Em 2023, a China registrou o maior período de deflação desde a crise dos países asiáticos em 1997-1998. O índice de preços ao consumidor (CPI) atingiu a média de 0,2% no ano passado. Para o banco JP Morgan, a expectativa é de que a inflação poderá subir um pouco neste ano. Com a estabilização dos preços da carne suína e a cotação média do Brent em US$ 83,00 por barril em 2024, o CPI poderá subir 0,9% neste ano. A meta de inflação no país é de 3,0%. Há, contudo, riscos de continuidade da deflação se o consumo não apresentar uma retomada no curto prazo. A propensão dos chineses a gastar é pequena por causa de incertezas com as perspectivas econômicas no país nos próximos anos.
Sobretudo com a reestruturação do setor de construção de residências, segmento produtivo que responde por 20% do PIB do país. Cerca de 60% da renda das famílias na China depende dos preços dos imóveis. Em um período de baixa desses ativos, como ocorre atualmente, também recuam as compras dos consumidores de diversas mercadorias, como eletrodomésticos e móveis. Segundo o Union Bancaire Privée (UBP), o país está no meio de um ciclo de cinco anos pós-bolha de imóveis, que ainda deve durar mais três anos. O cenário para o mercado de imóveis na China não é alvissareiro em 2024, dado que o governo central continuará com a redução da alavancagem das empresas do setor, depois de uma década de imensa especulação neste mercado. Os investimentos neste segmento da economia deverão cair de 2% a 4%, prevê o J.P. Morgan, depois de uma retração de 9,6% no ano passado.
Segundo a S&P Global Ratings, as vendas de casas no país, em termos reais, baixaram 17,3% em 2023, depois de uma queda de 26,8% em 2022, e devem ter uma retração adicional de 2% em 2024. Um problema adicional para a economia da China é a retração das exportações. O movimento é causado pela redução das compras dos Estados Unidos e Europa devido às altas de juros implementas pelo Federal Reserve e Banco Central Europeu, além da política de friendshoring adotada por vários governos. No ano passado, as vendas externas totais da China caíram 4,6% em dólares, a primeira queda desde 2016. As dificuldades para avançar o consumo interno e as exportações levam o governo da China a uma pausa na estratégia de priorizar as compras das famílias como o principal eixo da expansão do produto interno bruto, com os investimentos no segundo plano.
A participação da formação bruta de capital fixo no crescimento do país deve subir de 28,8% em 2023 para 38,7% em 2024. O consumo deve baixar de 82,6% para 67,3% no mesmo período. Segundo o banco Natixis, o efeito negativo do grande impulso dos investimentos promovido pelo governo da China em detrimento do estímulo ao consumo é elevar ainda mais o excesso de capacidade de produção das indústrias, o que gera mais pressões desinflacionárias no país e reduz muito a rentabilidade das empresas. O excesso de capacidade de produção foi um dos principais fatores que levou o índice de preços ao produtor (PPI) a cair 3,0% em 2023. O PPI deverá baixar 1% neste ano. O governo Xi Jinping não gosta de transferências diretas do governo para estimular o consumo das famílias, como ocorre em vários países do Ocidente.
Contudo, o banco Morgan Stanley aponta que seria oportuno uma nova estratégia social no país, direcionada para 400 milhões de migrantes de áreas rurais que mudam para cidades em busca de melhores condições para viver. Ela seria baseada em gastos com educação, saúde e previdência que poderiam envolver de 5 a 10 trilhões de renminbis. Ações como essas ajudariam muito a reduzir a poupança preventiva deste segmento da população e estariam em harmonia com a reforma de longo prazo proposta pelo governo, conhecida como prosperidade comum. Esta é a forma correta de incentivar o consumo sem provocar excesso de produção. A expectativa é de uma alta bem pequena dos gastos oficiais na China neste ano em relação a 2023.
O déficit público ampliado, que inclui recursos orçamentários e emissões de títulos públicos pelo governo central especialmente para ajudar o caixa de cidades, atingiu 12,9% do produto interno bruto em 2022, quando a administração Xi Jinping acelerou as despesas para apoiar a economia durante a pandemia. No ano passado, estes gastos totais baixaram para 12,1% do PIB, o que indicou uma pequena contração fiscal. Para 2024, a previsão é de que tal déficit suba para 12,2% do PIB, incluindo a emissão de 500 bilhões de renminbis de bonds que serão basicamente direcionados para financiar projetos de infraestrutura. Existe a possibilidade de o governo Xi Jinping realizar uma emissão extra de 1 trilhão de renminbis em títulos públicos neste ano para ampliar os investimentos em infraestrutura, com destaque para saneamento, sobretudo se detectar nos próximos meses problemas de expansão da economia que poderiam comprometer a meta de crescimento de 2024.
Embora os gastos públicos tenham maior poder para ajudar a economia da China no curto prazo, a política monetária também terá um papel relevante. O apoio maior deverá vir da redução dos depósitos compulsórios dos bancos comerciais, como indicou, no dia 24 de janeiro, o presidente do banco central (PBoC), Pan Gongsheng. Ele sinalizou que o PBoC poderá reduzir perto de 1 trilhão de renminbis destes depósitos a partir de 5 de fevereiro, recursos que poderão ser direcionados para ampliar a concessão de empréstimos a famílias e empresas. Com a medida, a média dos compulsórios dos bancos poderá baixar 0,4%, de 7,4% para 7,0%.
Como o PBoC considera que há limites para baixar os juros de curto prazo, pois teme aumento de pressões para a depreciação cambial, as taxas dos depósitos compulsórios poderão ser reduzidas de 0,75% a 1% neste ano. Além disso, a perspectiva de início do ciclo de distensão da política monetária pelo Federal Reserve e Banco Central Europeu em meados deste ano abre algum espaço para a redução dos juros de um ano no país oriental, que estão em 2,50%. Esta taxa pode diminuir para 2,40% em abril e 2,30% no terceiro trimestre, mas não deve cair mais em 2024. Como os juros já estão baixos, a política monetária tem muito mais restrições para ajudar na retomada da economia do que a política fiscal, afirmou o banco ANZ. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.