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23/Feb/2024

El Niño terá impacto limitado na inflação de 2024

A queda dos preços agropecuários no atacado mostra que os efeitos do El Niño sobre o IPCA de 2024 podem ter sido superestimados. Com isso, a alimentação no domicílio tende a permanecer mais comportada este ano e levar a uma inflação ao consumidor um pouco menor, embora o índice oficial ainda deva ser pressionado por outros fatores. Os Índices Gerais de Preços (IGPs) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), mais sensíveis à inflação no atacado, caíram em 2023 e têm surpreendido consistentemente para baixo desde o início do ano. Esses resultados respondem a taxas mais baixas no Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) agropecuário, que tem operado em deflação, refletindo as quedas nas cotações de commodities agrícolas como soja.

A consequência desse movimento foi um ajuste para baixo nas projeções de inflação no atacado. A mediana das expectativas do mercado para o IGP-M de 2024 caiu de 4,07% no último relatório Focus de 2023 para 3,3% na mais recente edição do boletim. A estimativa intermediária para o IPCA cedeu apenas 0,09% no período, de 3,9% para 3,81%. Segundo a Constância Investimentos, era esperada este ano uma recuperação do IGP, fechando a divergência com o IPCA, mas parece que isso vai demorar um pouco mais para acontecer. A deflação do IPA agropecuário tem respondido principalmente à melhora da perspectiva para a safra global de soja, que tem peso muito superior no atacado do que para o consumidor. O IGP-M chegou a subir a 37,04% durante a pandemia de Covid-19, em meados de 2021, quase 30% acima do IPCA (8,06%).

Desde meados de 2023, o IGP vem devolvendo a alta e, em janeiro, acumulava baixa de 3,32%, 7,83% abaixo da inflação ao consumidor, de 4,51%. A diferença média histórica entre os dois índices no Plano Real, em módulo, é de 4,2 pontos. Sem a concretização de impactos maiores do El Niño nos alimentos, o IGP-M deve fechar 2024 com alta de apenas 2%, acima do resultado de 2023, quando houve deflação de 3,18%, mas abaixo da média histórica dos últimos dez anos, de 8,63%. Em meados do ano, o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) pode começar a diminuir os juros, o que pode levar a uma valorização do Real e reduzir a inflação. A projeção para o IPCA é de 3,40%. A LCA Consultores já diminuiu desde o início do ano a sua projeção para o IGP-M de 2024 em 1,2%, de 3,8% para 2,6%.

Essa revisão foi essencialmente puxada pela redução da expectativa de inflação ao produtor agropecuário, de 4,9% para 1,8%, devido à percepção de menores impactos climáticos sobre os preços de alimentos. A impressão que dá é que parte relevante dos efeitos do El Niño já apareceu nos preços e foi menos intensa do que se imaginava. A revisão do IPA agropecuário também se desdobrou na projeção de alimentação no domicílio no IPCA, que passou de 6% para 3,9%. A LCA diminuiu a projeção para a inflação ao consumidor deste ano, de 4,2% para 4%. A taxa esperada para alimentação no domicílio supera a do IPA agropecuário devido aos alimentos in natura, que têm avançado e cujo peso é maior na inflação ao consumidor do que no atacado. A expectativa para os bens industriais no IPCA foi cortada (de 3,4% para 2,6%), com a perspectiva de um IPA industrial mais comportado este ano (3% para 1,9%).

A Warren Investimentos questiona a visão de uma contribuição positiva dos IGPs para o IPCA. Há impacto baixista dos grãos na inflação de alimentos no atacado, apenas o milho caiu 12% nos últimos três meses, na Bolsa de Chicago, mas a pressão das proteínas e dos alimentos in natura deve puxar a inflação. Quem faz a projeção aberta do IPA anual está esperando que os preços agropecuários subam em torno de 3%, vindos de uma deflação próxima de 13% em 2023. Isso, para o IPCA, se traduz numa inflação de alimentação no domicílio acima de 6%. A Warren espera IPCA de 4% este ano. A principal fonte de preocupação para a inflação deste ano continua sendo os serviços subjacentes, justamente o grupo mais sensível à política monetária, devido ao mercado de trabalho apertado.

Depois de terem desacelerado consistentemente na segunda metade do ano passado, esses preços superaram as expectativas do mercado tanto no IPCA-15, quanto no IPCA de janeiro. Os serviços subjacentes aceleraram de 4,8% no ano passado para 5% agora, com um viés para 5,5%, por causa dos salários nominais subindo muito e da atividade reacelerando. A Constância argumenta que o IGP mais baixo pode resultar em algum alívio para o grupo. Como os IGPs são um indexador importante de aluguéis, se eles ficarem negativos muito tempo, podemos ter um impacto para baixo nesses preços, que pesam bastante dentro dos serviços subjacentes. Preços de alimentos menores também podem ajudar a alimentação fora do domicílio. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.