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27/Feb/2024

UE priorizando segurança em detrimento do clima

Segura da proteção dos Estados Unidos e confiante nos tempos de paz, a Europa reduziu drasticamente os gastos em defesa nas três décadas que se seguiram à Guerra Fria. Até que Vladimir Putin rompeu com a aparente normalidade ao invadir a Ucrânia. O conflito, que completou dois anos, expõe as fragilidades do continente no momento em que o apoio norte-americano é cada vez mais incerto. E levou à mudança de foco: do desenvolvimento verde para as armas. Ainda que mais da metade do continente esteja sob o manto da OTAN, paira o temor de que Putin possa testar a aliança. A Alemanha alerta que a Rússia poderia atacar um país-membro entre cinco e oito anos, enquanto a Dinamarca afirma que o governo russo poderia arriscar uma guerra mais ampla entre três e cinco anos. A apreensão é alimentada por declarações do ex-presidente americano Donald Trump, que recentemente disse que encorajaria a Rússia a fazer “o que quisesse” com países que não cumprem o compromisso de investir 2% do PIB em defesa.

Em 1989, ano em que caiu o Muro de Berlim, os gastos em defesa da Europa Central e Ocidental somavam US$ 348 bilhões, segundo o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri). Em 1993, já sem a União Soviética, os valores não chegaram a US$ 292 bilhões. Havia uma suposição geral de que era possível negociar com a Rússia, mas todos os acordos (do passado e do presente) foram ignorados na primeira oportunidade, afirma o Programa de Segurança e Defesa Transatlântica do Centro de Análises Políticas Europeias. Isso cria uma incerteza significativa. Por exemplo, a Finlândia e a Suécia se juntaram à OTAN. E agora todo mundo diz que o potencial de uma guerra na Europa é uma realidade. Putin avançou o sinal pela primeira vez em 2008 ao invadir a Georgia, ex-República Soviética, assim como a Ucrânia. Mais tarde, em 2014, tomou a Crimeia e foi a partir daí que os europeus passaram a se comprometer em gastar mais com a própria segurança. A questão agora é a velocidade.

Segundo o Ministério da Defesa da Polônia, é preciso estar preparado para qualquer cenário. O país, que já esteve na zona de influência soviética, praticamente dobrou a meta e, em 2023, investiu 3,9% do PIB em defesa. Em termos proporcionais, supera os Estados Unidos, que gastaram 3,5% dos seus recursos na área. Na esteira da declaração de Trump, o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, informou este mês que 18 dos 31 países da aliança chegaram ao piso dos 2% do PIB. Mas reconheceu que alguns aliados ainda têm um caminho a percorrer. De fato, os investimentos têm aumentado. O Balanço Militar, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, publicado este mês, mostrou que os gastos com defesa na Europa em 2023 chegaram a US$ 388 bilhões. Em comparação, a Ásia gastou US$ 510 bilhões, sendo boa parte da China. Nos Estados Unidos, a cifra passa dos US$ 900 bilhões. Como parte do esforço para aumentar as capacidades de segurança, a Comissão Europeia prometeu lançar uma estratégia industrial de defesa.

O plano inclui a abertura de um escritório de inovação na Ucrânia. Em 2019, protestos de jovens inspirados pela ativista Greta Thunberg impulsionaram o debate sobre as mudanças climáticas. Agora, o mundo mudou. E as prioridades europeias também. Negociadores do bloco europeu reduziram o plano de inovação de € 10 bilhões, proposto no meio do ano passado, para € 1,5 bilhão no começo de 2024. E condicionaram os recursos a projetos de defesa e não tecnologia verde, como previa inicialmente a Plataforma de Tecnologias Estratégicas para Europa. Os valores ainda estão em negociação, mas a discussão evidencia a mudança de foco. Em paralelo, o Banco Europeu de Investimento, que descreve a transição verde como prioridade e destina mais da metade dos recursos para ações climáticas e desenvolvimento sustentável, prometeu € 8 bilhões para impulsionar a segurança na Europa. Isso apesar de projetos militares e de armamento estarem na lista de investimentos banidos do banco, o que tem sido motivo de discussões dentro do bloco.

Uma mentalidade quase da Guerra Fria está voltando. A classe política estava muito concentrada na questão ambiental. Agora precisa discutir cenários terríveis. A União Europeia já superou os Estados Unidos em ajuda à Ucrânia, mas a distância entre o prometido e o entregue ainda é grande. Acontece que a redução do investimento nas últimas décadas enfraqueceu a indústria e, agora, os europeus enfrentam dificuldades para produzir e fornecer ajuda militar, como munição, na velocidade que a Ucrânia precisa. Na tentativa de corrigir os erros estratégicos do passado e se preparar para esses desafios em larga escala, a OTAN lançou o maior exercício militar desde o fim da Guerra Fria. Com 90 mil soldados mobilizados, o objetivo é testar como funcionariam na prática os novos planos de segurança da aliança militar. E a justificativa é a ameaça da Rússia. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.