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05/Mar/2024

Brasil e os desafios para o agronegócio em 2024

Já decorridos dois meses em 2024, pode-se ter uma ideia do impacto do clima na produção de produtos agrícolas. Assim como no setor da soja e do milho, já se pode avaliar como será o ano da cadeia produtiva do trigo brasileira. A indústria moageira já se depara com as oportunidades e os desafios que marcarão os próximos meses. Com a quebra da safra 2023/2024 em função do clima, mais de 2,5 milhões de toneladas de trigo que receberam muita chuva deixarão de ser usados para a produção de farinha, segundo análise da Safras & Mercado. Os preços, influenciados não somente por esse fator, mas também pelo que ocorre no mercado externo, estão em queda, principalmente causada pela elevada disponibilidade (mais de 50 milhões de toneladas) do cereal na Rússia. O Rio Grande do Sul, após uma produção recorde em 2022/2023, quando pôde reduzir suas importações, volta a ampliar suas compras externas, adquirindo mais de 400 mil toneladas de trigo para processamento.

São Paulo segue sendo o principal Estado importador, na casa das 572 mil toneladas. O volume global produzido no último ano registrou uma redução de 4,3 milhões de toneladas, com a quebra na safra australiana sendo a principal responsável por esse resultado. O consumo mundial, em contrapartida, apresentou um crescimento de 13,8 milhões de toneladas. Os estoques globais de trigo também diminuíram, caindo mais de 11 milhões de toneladas em relação a 2022/2023. As negociações internas de trigo seguem pontuais no Brasil, e as exportações registraram mais vendas ao mercado externo do que importações em janeiro, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). O impacto do clima sobre a produção agrícola criou um cenário desafiador para o agronegócio em 2024 e a cadeia produtiva do trigo não foi exceção. A perspectiva para a produção de trigo no Brasil é muito boa e vai ajudar o incremento da produção de grãos. Segundo a Embrapa, a médio prazo, é possível antecipar uma produção de 20 milhões de toneladas.

O Brasil se consolidou como um dos maiores exportadores mundiais de alimentos com mais de 18% das exportações totais do País respectivamente. O comércio exterior brasileiro ultrapassou meio trilhão de dólares em 2023. A corrente de comércio subiu a mais de US$ 580 bilhões, com US$ 339,7 bilhões de exportação, com um aumento de 1,7% em relação a 2022, e US$ 240,8 bilhões de importação, com queda de 11,7, em relação a 2022. O superávit recorde chegou a US$ 98,8 bilhões. crescimento de 60% em relação a 2022 (mais da metade com um único país, China). Acentuou-se a importância do mercado asiático (mais de 50% das exportações totais), em especial o da China, Hong Kong e Macau, que representaram US$ 105,75 bi, mais de 30% das exportações totais brasileiras. Os números realmente impressionantes geraram um sentimento ufanista (Brasil celeiro do mundo), mas escondem vulnerabilidades que um país do porte do Brasil (9ª Economia global) não poderia aceitar, em função das incertezas geradas pelas transformações da economia e da geopolítica global.

O comércio exterior brasileiro continua a apresentar uma grande concentração em poucos produtos (soja, petróleo e minério de ferro representam 37% das exportações, 5 produtos (incluindo açúcar e milho), 46% e 8 produtos, 2/3 do total exportado) e poucos mercados (Ásia, Oriente Médio e Norte da África, representam 65% do total exportado). A China concentra 75% das exportações da soja nacional. Essa concentração expõe o crescimento da economia, caso haja desaceleração do mercado externo (em especial o da China) e redução da produção agrícola nacional por fatores climáticos, como está ocorrendo este ano. A dependência do agronegócio para o sucesso econômico do País preocupa pelo fato de o setor agrícola se ter tornado o motor da economia. Os Estados Unidos e a Europa também são grandes produtores agrícolas, mas o setor industrial tem sua força própria, ao contrário do que ocorre no Brasil.

As transformações da nova economia global criam outros tipos de vulnerabilidade, em consequência da ênfase em políticas industriais nos países desenvolvidos e crescentes restrições externas para garantir autonomia soberana em virtude das mudanças geopolíticas e para atender as novas prioridades de políticas ambientais, como as medidas tomadas na Europa para eliminar as importações de produtos agrícolas provenientes de áreas desmatadas e as taxas de carbono (CBAN). O setor do agronegócio está preparado para enfrentar esses desafios? Com o aumento da população mundial e o crescimento da demanda global, o Brasil vai continuar a ser um grande exportador de produtos agrícolas, mas medidas dentro de uma visão de médio e longo prazo deveriam ser implementadas. A dependência na importação de fertilizantes, a concentração das exportações, a logística (inclusive com a criação de um corredor para portos no Pacífico) o impacto da mudança do clima e o crescente protecionismo internacional deveriam merecer ações coordenadas do governo e do setor privado. Fonte: Rubens Barbosa. Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo). Broadcast Agro.