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13/Mar/2024

Entrevista: Paul Polman - ex-presidente Unilever

O Brasil está diante de um momento único, em que peças de um quebra-cabeça favorável à economia do País estão se juntado, de acordo com o holandês Paul Polman, presidente da Unilever entre 2009 e 2019. “O mundo acordou. As pessoas descobriram que precisam de soluções para a crise climática. Viajo o mundo todo o tempo, e todo país deseja ter os elementos do Brasil. (...) Vocês estão bem-posicionados para atrair as indústrias do futuro”, disse o executivo.

“É um bom momento para ser brasileiro”, acrescentou ele, que esteve em São Paulo na semana passada para participar do Fórum Brasileiro de Finanças Climáticas. Polman destacou que a situação macroeconômica do Brasil melhorou e que o País avança em tecnologias de energia limpa. Questionado sobre o que o Brasil precisa fazer para não perder essa oportunidade, ele se disse otimista, que seria necessário criar um programa para integrar as políticas que envolvem economia verde. E isso já está em andamento com o Plano de Transição Ecológica, lançado pelo governo federal no ano passado. Sob o comando de Polman, a Unilever foi uma das primeiras multinacionais a colocar a sustentabilidade no centro das estratégias, o que, hoje, passou a ser atacado por alguns acionistas.

O senhor disse, no Fórum, que o Brasil tem uma grande oportunidade diante da transformação da economia para um modelo de baixo carbono. E que aproveitar essa oportunidade depende do Brasil. O que o País tem de fazer?

Paul Polman: Venho ao Brasil há 30 anos e me sinto mais energizado nesta visita do que em todas as outras. Há uma transformação acontecendo. O Brasil tem uma vantagem nessas mudanças, mas não está totalmente consciente disso. Vejo mais peças de um quebra-cabeça se juntando aqui do que eu vi em qualquer outro momento. A primeira peça é a macroeconomia. Vocês estão em uma posição melhor. A inflação e os juros estão diminuindo. O mercado financeiro está se fortalecendo. A nota crédito melhorou. Vocês começaram a reforma tributária e os títulos verdes estão chegando. O BNDES está trazendo algumas ideias para canalizar dinheiro. Então, a mudança está acontecendo.

Mas o que ainda precisa ser feito?

Paul Polman: Vocês já começaram a fazer. Pela primeira vez, as pessoas entendem que os sistemas alimentares e o uso da terra têm de ser parte das soluções para as mudanças climáticas. Isso está acontecendo globalmente, e o Brasil está bem-posicionado. O Brasil tem 90% de energia renovável. Tem biocombustíveis. Vocês já começaram a trabalhar na agricultura regenerativa. O Brasil pode não apenas oferecer matéria-prima para o mundo, mas também soluções. O que precisa ser feito? O País precisa de um plano integrado, porque essas coisas não podem ser feitas de forma fragmentada. O Plano de Transição Ecológica, que o governo federal apresentou, é exatamente o que pedi quando vim aqui um ano atrás. O Ministério da Fazenda abraçou isso. As pessoas estão abraçando isso. Agora, vocês precisam atrair capital, porque atualmente o investimento é um sexto do necessário. Como atrair capital? Eliminando riscos políticos e cambiais, por exemplo. Trabalhando com instituições financeiras multilaterais. Mudando a história do Brasil lá fora. Os últimos 10 anos não foram bons aqui. O investimento estrangeiro direto diminuiu. Agora a história é muito melhor, mas precisa ser contada. E é preciso dar continuidade às reformas econômicas para atrair capital. O mais importante é a clareza de direção. O mundo empresarial destrava investimentos se houver clareza. O Brasil já está mais adiantado do que muitos países nessa transição e também tem vantagens competitivas significativas. É um bom momento para ser brasileiro.

No fim dos anos 2000 também se falava que havia chegado a hora do Brasil. Qual a diferença agora?

Paul Polman: A diferença é que o mundo acordou. As pessoas descobriram que precisam de soluções. Viajo o mundo todo o tempo, e todo país deseja ter os elementos do Brasil. O País tem uma rede de energia conectada, está investindo muito em energia solar e eólica e tem uma indústria de biocombustíveis eficiente. Está começando, em ritmo acelerado, projetos de restauração da natureza, o que outros países ainda não fazem. Vocês estão bem-posicionados para atrair as indústrias do futuro. Pense neste País e como ele pode transformar a agricultura no mundo. Fertilizantes verdes têm de nascer aqui. Em como pode mudar a indústria da aviação com combustível sustentável. O País tem elementos que permitem escalar as atividades.

Fonte: Broadcast Agro.