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15/Mar/2024

Entrevista com Jorge Viana – presidente da Apex

Para Jorge Viana, presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), o comércio com os Estados Unidos deve ser uma das prioridades do Brasil, em meio a um mundo cada vez mais complicado e com tensões geopolíticas. Mas, isso não significa que o governo e as empresas do País devem tirar os olhos de nações como China ou Índia, ou blocos como a União Europeia.

Os Estados Unidos procuraram diversificar as fontes de importações. O Brasil não tem de entrar em guerra comercial com ninguém, mas pode aproveitar essa guerra para suceder à China nas exportações para os Estados Unidos. E isso pode ser acelerado.

Jorge Viana está em Washington, nos Estados Unidos, para um encontro de Setores de Promoção Comercial (Secoms) e secretários de Ciência, Tecnologia e Inovação (Sectecs) e de Agricultura, em busca de novos negócios e acordos entre empresas brasileiras com as norte-americanas e canadenses. O evento começou na terça-feira (12/03), e deve prosseguir até esta sexta-feira (15/03), com a presença de outros representantes do setor público brasileiro como o ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (Márcio França), os presidentes da Embratur (Marcelo Freixo), Embrapa (Silvia Maria Fonseca Silveira Massruhá) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (Ilan Goldfajn). Segue a entrevista:

Qual a importância de eventos como esse que está sendo realizado em Washington?

Jorge Viana: Nesta viagem, estou fazendo três em um. Aproveitei para passar 15 horas em Miami, onde a Apex tem uma representação, para um encontro com empresários brasileiros. Depois, fui para Boston, onde passei 11 horas, e aí vim para Washington, onde está a principal parte do trabalho. O propósito dessas reuniões com Secoms é construir uma estratégia para estar no mercado. O Brasil precisa ter os EUA como uma grande prioridade pelo gigantismo do mercado, por ser a maior economia do mundo. Claro, sem tirar o olhar de China, Índia, Europa. Podemos buscar uma estratégia mais objetiva com os Estados Unidos, porque desde 2018 eles vivem uma guerra comercial com a China - antes, 23% de tudo que importavam era da China, agora esse número caiu para 14%. Eles procuraram diversificar as fontes de importações. O Brasil não tem de entrar em guerra comercial com ninguém, mas pode aproveitar essa guerra para suceder à China. E podemos acelerar o passo.

Como o Brasil pode se inserir comercialmente nesse contexto?

Jorge Viana: O presidente Lula trouxe o que a gente chama de diplomacia presidencial de volta, o que facilita muito o nosso trabalho de levar as empresas do Brasil para o mundo e atrair investimento. A ação do presidente Lula e o trabalho da Apex tem muito a ver. O Brasil não tem conflito com nenhum país especificamente, estamos abertos ao comércio com todos. Tratamos os negócios à parte de afinidades para nos recuperarmos dos problemas dos últimos sete anos.

Nesse cenário, como a relação comercial entre Brasil e Estados Unidos se destaca?

Jorge Viana: Os Estados Unidos são o segundo destino de tudo que exportamos, só atrás da China. Nós exportamos US$ 36,9 bilhões de dólares, mas, diferente da China, muitas vezes são produtos com valor agregado maior, como aviões da Embraer. Só aqui, os aviões da Embraer transportam 5 milhões de passageiros por ano, cerca de mil aviões brasileiros voam nos Estados Unidos. Acreditamos, inclusive, que é possível trabalhar na área de defesa com modelos como SuperTucanos e C-390 Millenium. Tem uma cadeia de exportação para os Estados Unidos de manufaturas, com muito valor agregado, enquanto para a China são principalmente commodities. O fluxo de comércio com os Estados Unidos é deficitário, tem uma espécie de interdependência, mas pode melhorar. No ano passado, o déficit foi de cerca de US$ 1 bilhão, em 2022 tinha sido de US$ 13 bilhões.

Há outros setores que podem ter oportunidades no mercado americano?

Jorge Viana: Hoje, em proteína animal, mais de 35% da produzida nos Estados Unidos são de empresas brasileiras. A área de suco de laranja é dominada por empresas de capital brasileiro. O Brasil também é fornecedor de café e de celulose. Mas a partir do momento em que os Estados Unidos resolveram diminuir a dependência deles da China, abriram oportunidades para outros, e quem está aproveitando bem é o México. O Brasil pode montar uma estratégia de competir para fornecer produtos industrializados, já que tem uma logística muito boa para transportar para cá. Ainda nesse semestre, devemos lançar um mapa de oportunidades entre Brasil e Estados Unidos, com mais de mil temas ou setores para o fluxo de comércio entre os dois.

O trabalho é feito visando tornar a balança comercial superavitária para o Brasil?

Jorge Viana: O presidente Lula sempre diz que é um fluxo de mão dupla, não tem de ter receio de importar. O que é interessante é que os Estados Unidos são responsáveis por 23% do estoque de investimentos estrangeiros diretos no Brasil, o principal país em investimento no Brasil. Temos de pensar exclusivamente na relação comercial porque é o que importa.

Há o temor de que o resultado da eleição americana deste ano interfira na relação comercial?

Jorge Viana: O Brasil incorreu nesse erro em anos recentes, misturava as preferências do líder, isso atrapalhava o negócio. Os negócios têm de ser à parte, um país como o Brasil não pode misturar as coisas. Manter o fluxo de comércio é manter o interesse no Brasil, o que é bom para todo mundo. Não podemos cair nesse erro para reconhecer o governo que ganhar a eleição, sem causar problemas como fizeram com a China, ou com a Argentina (no governo argentino anterior, de Alberto Fernández). Tem de ser política de Estado, do Estado brasileiro com o mundo, independente do humor de quem esteja no cargo.

Qual a diferença desse evento nos Estados Unidos para os outros realizados pela Apex?

Jorge Viana: Nós ficamos sete anos ausentes da África, sem realizar eventos. Também precisamos ter um olhar mais generoso com os vizinhos da América do Sul. Mas os Estados Unidos são o mercado mais cobiçado do mundo, então precisamos ter uma leitura de cenário. Estamos aqui ouvindo Secoms, o time da Apex e o corpo diplomático para expandir a presença e facilitar acordos e oportunidades. Queremos que o fluxo total de comércio exterior do Brasil cresça e chegue a US$ 1 trilhão. Nós perdemos muito por causa de crises recentes, políticas e econômicas. O Canadá também é muito importante porque tem muitos fundos canadenses que investem no Brasil, e podemos estreitar esse fluxo também.

Fonte: Broadcast Agro.