22/Mar/2024
O setor agropecuário negocia com o Ministério da Fazenda a antecipação de uma fatia do Plano Safra para refinanciar, com juros subsidiados, dívidas ligadas principalmente a investimentos. A equipe econômica avalia o pleito e ainda não bateu o martelo. O temor é de que a antecipação desfalque o Plano e acabe gerando um problema futuro. Ciente de que os agricultores, após essa eventual antecipação, farão pleitos por recomposição, o Ministério da Fazenda vem alertando que não terá como “criar Orçamento” depois. E que, ‘como o cobertor é curto, não adianta cobrir agora e descobrir mais para frente’. Fontes afirmam que a cifra que está sendo considerada para a antecipação não deve chegar a R$ 500 milhões, mas destacam que o valor ainda está em negociação.
Segundo interlocutores, o impacto disso no volume de renegociação de dívidas dependerá do destino da verba. Isso porque há linhas no crédito rural que são mais agressivas, em termos de subsídios, como é o caso do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Já outras têm custo mais marginal. Se confirmada a antecipação dos valores, eles serão usados para fazer a chamada equalização dos juros, garantindo taxas mais baixas aos agricultores. O setor também está na expectativa do anúncio de uma linha emergencial de crédito em dólar para revendas e produtores, com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O objetivo é fornecer capital de giro, com um período de carência e prazos mais alongados para amortização.
A percepção dentro do governo, porém, é de que o Ministério da Agricultura se antecipou na divulgação da linha, dando detalhes sobre um produto que ainda não estava redondo, o que azedou o clima e postergou o lançamento. Procurado sobre o tema, o BNDES afirmou que não comenta produtos não analisados pela diretoria do banco. Nos últimos anos, em meio à disparada no preço das commodities, o setor agropecuário elevou o nível de endividamento para realizar investimentos. Agora, com o recuo nas cotações, parte do segmento enfrenta uma conjuntura desafiadora, com insumos ainda caros e eventos climáticos adversos, que afetam a colheita. Por isso, vem pleiteando um socorro do governo. Milho, soja e algodão estão entre as culturas que concentram as maiores preocupações.
No caso da soja, por exemplo, o setor convive com um cenário de quebra de safra no Brasil sendo mais do que compensado pelo crescimento da produção na Argentina, o que faz com que os preços não subam. Ou seja, o segmento está produzindo menos e vendendo a preços mais baixos, o que impacta o fluxo de caixa dos produtores - sobretudo dos mais alavancados. Segundo a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), há um problema de quebra de safra que pode chegar a 20%, 30%, com uma queda de valor. Não é apenas que o produtor vai colher menos. Ele vai colher menos e vai vender por muito mais barato, então não fecha a conta. Além da queda no preço da soja, há desafios nas cadeias da carne, do leite e do trigo, bem como gargalos na logística e no armazenamento dos grãos. São problemas sérios e é um impacto para a economia como um todo: se tira 20 milhões de toneladas de safra do País, são 20 milhões a menos circulando, na logística, na geração de emprego e na rentabilidade.
Nesse cenário, a lista de pleitos é longa. Será preciso seguro, de melhoria no acesso ao Plano Safra, de equalização de juro maior e, talvez, um adimplemento de dívida. Uma das demandas é aumentar os recursos de seguro rural para R$ 2,5 bilhões, mais que o dobro do valor reservado no Orçamento de 2024. Especialistas, no entanto, refutam o cenário de crise generalizada no segmento. Para o economista José Roberto Mendonça de Barros, não há crise universal e generalizada, há problemas específicos e concentrados em algumas regiões no caso dos produtores. O Insper afirmou que a crise existe, mas é localizada. Não é generalizada de forma alguma. As commodities são uma “montanha-russa”, sempre foi e sempre será, há anos bons e anos ruins. É uma crise localizada e, por isso, tem ganhadores e perdedores. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.