19/Jun/2024

Dentro de poucos dias estaremos celebrando 30 anos de Plano Real, lançado durante o governo Itamar Franco, e que finalmente conseguiu estabilizar a economia. Antes dele, já haviam tentado essa estabilização outros governos, com outros planos, e todos sem sucesso. O último, antes do Real, o Plano Collor, havia provocado um problema terrível para produtores de todas as atividades, mas principalmente no campo, pelo descasamento entre a correção dos preços agrícolas e dos juros. Quando o Plano Real veio, havia muita gente endividada por causa do Plano Collor. O pessoal que tinha dívidas ficou com enorme dificuldade de pagá-las porque os preços dos produtos agrícolas caíram ou se estabilizaram enquanto a dívida aumentava de tamanho devido aos juros elevados.

Foi um desastre. Dizia-se que o agro era a âncora do Real. Muita gente quebrou sem ter culpa: só tinham dívidas para tocar a atividade. Houve um período tão difícil que as lideranças rurais recomendavam aos produtores não tomarem crédito. Um fato inacreditável, o crédito rural "destruía" a renda agrícola e quebrava o tomador, e não o contrário, que devia ser estimular a produção. Depois de muita discussão, os técnicos do governo entenderam o problema e foi criado um programa de alongamento das dívidas, em até 20 anos! Chamou-se Securitização das Dívidas, o que permitiu aos que ainda não estavam "mortos" continuar na atividade, embora amarrados a um passivo criado pelos Planos, por duas décadas.

É preciso estar muito atento a essa lembrança: o Plano Real deu certo, mas muita gente pagou caro por ele. Hoje vivemos um período em que juros muito altos inibem o crédito e desestimulam investidores. Mas isso está atrelado ao combate à inflação. Não há maior inimigo de uma sociedade em geral do que a inflação: e chegamos a ter uma maior do que 80% ao mês. Não há quem resista a isso, especialmente o assalariado, cuja remuneração perde valor a cada dia. As lojas remarcavam preços diariamente. Era uma loucura. E quem tem menos de 40 anos não tem ideia dessa desgraça. Por isso é fundamental que qualquer governo tenha claro que é imperioso impedir a volta da inflação. E uma das medidas essenciais para isso é não gastar mais do que ganha (ou arrecada). Fonte: Roberto Rodrigues. Broadcast Agro.