26/Jun/2024
Antes de se posicionar na disputa pela sucessão na Câmara, a bancada do agronegócio espera o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), definir qual candidato terá seu apoio. Parlamentares ligados à diretoria da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) afirmam considerar o momento ainda prematuro para essa discussão e dizem que qualquer costura política depende das sinalizações de Lira. De antemão, deputados ruralistas consideram que um candidato com “sensibilidade” às pautas do agro terá a preferência. O presidente da FPA, Pedro Lupion (PP-PR), é citado pelo setor e por alguns parlamentares como possível nome na disputa, mas integrantes do Centrão questionam sua viabilidade, já que as articulações para o comando da Câmara dependem mais de acordos partidários e de orientações das lideranças. Diante disso, a influência das bancadas temáticas no processo costuma ocorrer mais por meio das próprias legendas. Também dizem que as pré-candidaturas já estão consolidadas e dificilmente haverá espaço para um novo competidor.
As tratativas devem ganhar força somente após as eleições municipais de outubro, mas Lira tem dito nos bastidores que escolherá em agosto seu candidato. A eleição que renovará o comando das duas Casas do Congresso ocorrerá em fevereiro do ano que vem. Em público, o presidente da Câmara já citou três nomes: o líder do PSD, Antonio Brito (BA), o primeiro-vice-presidente da Casa, Marcos Pereira (Republicanos-SP), e o líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), considerado o favorito de Lira. A sucessão da Câmara ainda não é pauta prioritária na diretoria da FPA. No momento, Plano Safra, crise do arroz e reforma tributária concentram os esforços setoriais. A bancada tende a avalizar e orientar o nome endossado por Lira, se o candidato também mantiver compromissos com a pauta setorial. No entanto, ainda não há acordo firmado com o presidente da Câmara para isso. A FPA, maior bancada da Câmara com 324 deputados, deu apoio unânime à reeleição dele em 2023. A FPA vai ouvir todos os candidatos que se apresentem.
Mas, um candidato apoiado pelo presidente Lira já tem vantagem por conta de uma relação de qualidade do Lira com a FPA. A avaliação é de que Lira entregou o que prometeu à bancada durante seus dois mandatos no comando da Casa, inclusive em temas sensíveis, como o projeto do marco temporal para demarcação de terras indígenas e o projeto de novas regras para defensivos agrícolas. E, por isso, terá em princípio um voto de confiança para seu candidato. Lira quer lançar Elmar Nascimento, mas é preciso fazer uma composição com o governo Lula, que resiste a dar aval ao líder do União Brasil. Lira tem feito uma série de acenos às bancadas temáticas e a deputados do chamado “baixo clero” da Câmara (parlamentares com pouca expressão política) para unir apoios em torno de seu futuro candidato. De olho na FPA, colocou em votação projetos de lei contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Quando tiver candidatos anunciados, a FPA vai entregar sua pauta para cada um deles para debater pontos que interessam ao setor. Há uma avaliação de que a bancada do agro apenas tentaria um caminho alternativo, ou seja, emplacar um candidato que não tenha as bênçãos de Lira, caso o presidente da Câmara escolhesse apoiar um nome muito governista. Os deputados, na visão de interlocutores da FPA, não querem mais ficar “nas mãos” do Palácio do Planalto e defendem a independência orçamentária do Legislativo, ampliada nos últimos anos, com o aumento do valor das emendas e da impositividade (pagamento obrigatório) de parte desses recursos. O líder do MDB, Isnaldo Bulhões (AL), também é mencionado para a disputa pelo comando da Câmara. Outros nomes citados são o do líder do Republicanos, Hugo Motta (PB), e o do líder do PP, Doutor Luizinho (RJ).
Lupion é citado entre os potenciais candidatos à sucessão de Lira. A menção parte de deputados da oposição e de entidades setoriais. A viabilização da sua candidatura, contudo, é vista como pouco provável por depender de indicação das legendas. Outro fato que pode inviabilizar Lupion são posições tidas como “bolsonaristas” pelo Executivo, como a defesa da anistia a Bolsonaro e a assinatura de um pedido de impeachment de Lula protocolado pela deputada Carla Zambelli (PL-SP). Ele se consolida como a principal voz da oposição contra o governo, movimenta muita estrutura econômica e política contra o governo, mas falta traquejo partidário. O perfil combativo de Lupion é classificado por interlocutores como positivo para a base, mas desfavorável a planos maiores em âmbito nacional. Aliados de Lupion garantem que a sucessão na Câmara não está nos seus planos neste momento.
O deputado busca a reeleição na FPA, que depende de mudança no estatuto da bancada. Seu mandato à frente do grupo se encerra em fevereiro de 2025. Questionado sobre a adesão de deputados da oposição ao seu nome para disputar a presidência da Câmara e uma eventual candidatura, Lupion se limitou a dizer que fica honrado com a citação por colegas. Mas, a candidatura depende de composição partidária e de diversos fatores. O maior movimento de endosso ao nome de Lupion vem de entidades setoriais, ligadas ao Instituto Pensar Agro (IPA). O pontapé inicial foi dado pelo ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, que suscitou o tema em um evento do setor sucroenergético no início de abril. Existe um entendimento, entretanto, de que há uma influência menor dos setores econômicos em assuntos internos da Casa do que nas pautas e projetos legislativos. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.